Natureza

Isolamento revela pintura da natureza

18 de abril de 2020

Em tempos de pandemia, finais de tarde presentearam os campineiros com o céu alaranjado

 

 

Os céus de Campinas em dias de quarentena parecem ter ficado mais vivos ? ou então mais fáceis de serem notados por conta da quebra na rotina desgastante do dia a dia

João Evaristo Tonetti/FOTO DO LEITOR
 
Os céus de Campinas em dias de quarentena parecem ter ficado mais vivos? ou então mais fáceis de serem notados por conta da quebra na rotina desgastante do dia a dia.
 
 
Nos finais de tarde desta semana, um "céu de fogo" e uma explosão de cores tomaram conta do horizonte nas paisagens do pôr do sol. Desconectados da vida rotineira em tempos de pandemia, milhares de pessoas em isolamento social viram de suas janelas ou varandas a beleza e a pintura da natureza. Uma obra de arte que boa parte da população não contemplava — ou não percebia direito — porque estava isolada pela cegueira provocada pelo ritmo veloz do mundo antes da Covid-19.
 
As redes sociais foram invadidas por fotos e selfies de todos que desfrutaram das belas imagens. Cenas incríveis esculpidas no céu, anunciando o pôr do Sol. Foram muitos compartilhamentos de um fenômeno que sempre esteve diante dos olhos no entardecer dos outros dias no passado.
 
Evaristo Tonetti, administrador aposentado, foi um dos observadores que decidiram fazer fotografias da sacada de seu apartamento no bairro Ponte Preta. "As fotos foram tiradas do quinto andar do prédio, de minha sacada, e depois que coloquei no Facebook muitas pessoas fizeram comentário e curtiram. Bateu recorde de curtidas. Acho que as pessoas estão mais sensíveis neste período de quarentena", comentou Tonetti.
 
As imagens esplendorosas são explicados por especialistas. Apesar de muitos acharem que o espetáculo teria relação com a baixa poluição resultante da quarentena, o fenômeno acontece de forma contrária. É necessário que haja poluentes na atmosfera para espalhar a coloração vermelha-alaranjada vista no céu nos finais de tarde. Ana Ávila, meteorologista do Centro de Pesquisa Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, explicou que o fenômeno acontece em períodos de seca e pouca umidade e quando o Sol começa a ficar próximo da linha do horizonte, no final do dia, refletindo os raios na parte de baixo das camadas de nuvens.
 
Segundo Ana, as partículas em suspensão contribuem com a pintura. "O efeito colorido no céu é devido à incidência dos raios solares que percorrem uma distância maior na atmosfera no final da tarde. Incidindo sobre as diferentes partículas em suspensão, como gotículas de água ou as partículas de poeira" , explicou. "Além disso, houve um aumento da nebulosidade e formaram-se diferentes camadas, umas mais intensas, outras menos intensas. A luz solar incidindo na atmosfera deu o efeito colorido" , comentou.
 
A pesquisadora explicou que o céu alaranjado ocorre quando partículas maiores em suspensão na atmosfera (geralmente poeira, pólen e minúsculas gotículas de água) espalham a luz solar na faixa dos comprimentos de onda que compreende as cores que vão do vermelho ao laranja. Esse fenômeno ocorre mais intensamente em baixas altitudes, em tempos secos, onde essas partículas são mais abundantes. Durante o nascer e o pôr do sol, a luz solar percorre uma camada maior na atmosfera, interagindo com mais partículas.