Coronavírus

Qual o impacto das máscaras descartáveis na natureza

15 de junho de 2020

Depois de salvar vidas, material usado contra a covid-19 passa do lixo ao fundo do mar, onde pode levar 450 anos para se desfazer

 

 

FOTO: OPERATION MER PROPRE/FACEBOOK

Mergulhador com trajes de mergulho segura três máscaras recolhidas do mar. Só a cabeça e braços estão fora da água

MERGULHADOR EXIBE MÁSCARAS DESCARTÁVEIS RECOLHIDAS NO LITORAL DA FRANÇA
 
 
 
As máscaras descartáveis usadas contra a covid-19 estão se transformando em um problema ambiental de escala global. Depois de terem inundado o mercado, como uma forma barata e eficaz de mitigar a transmissão do vírus, elas agora inundam a natureza.
 
O problema é mais evidente na Europa, onde o pico da pandemia já passou. Em grandes capitais, como Paris, as máscaras descartáveis aparecem jogadas amiúde – do meio-fio das calçadas aos parques e praças. Após o fim do confinamento, elas também enchem as lixeiras públicas e os lixos domésticos.
 
A França importou 2 bilhões dessas máscaras de rosto que, depois de 2 horas de uso, são descartadas para sempre. Apesar de o governo ter feito campanhas de conscientização sobre a forma correta de descartá-las, muitos ignoram as instruções. Conforme a quarentena avançou, a disponibilidade de máscaras de pano, reutilizáveis, aumentou. Mesmo assim, o mercado estava inundado de modelos descartáveis.
 
A rigor, máscaras e luvas contaminadas constituem um tipo de lixo hospitalar, que deveria ser incinerado. Seu uso massivo e popular, entretanto, fez com que as recomendações ficassem restritas a técnicas domésticas, como a de manter o material usado dentro de um saco de lixo exclusivo, fechado por mais de 24 horas.
 
 
Aparência inofensiva
 
Como as máscaras descartáveis são leves, dão a impressão de serem de papel. Por isso, muitas pessoas descartam suas máscaras em lixos recicláveis ou mesmo na natureza, acreditando que elas sejam biodegradáveis.
 
Entretanto, essas máscaras são feitas de um derivado termoplástico do petróleo chamado polipropileno. O material é semelhante ao encontrado em pára-choques de carros e invólucros de bateria automotiva. Sua degradação pode levar até 450 anos, dependendo do ambiente.
 
 
68 euros
É o valor da multa a quem joga máscara nas ruas da França. O valor equivale a aproximadamente R$ 370, na cotação de 10 de junho de 2020
 
 
300 euros
É o valor da multa que o deputado Eric Pauget propõe em novo projeto de lei. O valor equivale a aproximadamente R$ 1.640, em 10 de junho de 2020
 
 
Desde 4 de março um comitê de cientistas franceses pesquisa formas corretas de tratamento desses dejetos. Eles testam irradiações de raios gama e beta, além da exposição do material a um calor seco de mais de 70 ºC, que eliminaria o vírus da superfície, facilitando o manejo e a reciclagem.
 
A ideia é encontrar formas de reproduzir no ambiente doméstico essas técnicas, de maneira barata, segura e acessível. Enquanto isso não acontece, a reciclagem é praticamente impossível e o descarte ocorre no lixo comum.
 
 
Lixo jogado no mar
 
Nas redes sociais, mergulhadores e militantes ambientalistas estão publicando fotos e vídeos que mostram o acúmulo de máscaras e luvas descartáveis no fundo do mar.

 

O lixo da pandemia no fundo do mar na França: ainda dá tempo de o ...

 
Um desses vídeos, filmado na região francesa dos Alpes-Marítimos, mostra corais, algas e cardumes entre dejetos compostos por máscaras, luvas e outros plásticos, numa das mais ricas áreas de vida marinha do Mediterrâneo.
 
Os ambientalistas dizem que o microplástico contido nesses objetos entra na cadeia alimentar, contaminando toda a vida marinha. “As primeiras máscaras descartáveis chegaram ao Mediterrâneo”, diz o mergulhador Laurent Lombard, numa das postagens. “Se nada mudar isso vai se tornar um verdadeiro desastre ecológico e talvez até mesmo sanitário”, diz Lombard.