GAFANHOTOS: PRAGA PERSISTENTE

Vai e vem de nuvem de gafanhotos deixa Brasil em alerta

2 de julho de 2020

Após terem saído do radar as autoridades argentinas, os insetos reapareceram a 100 quilômetros da fronteira, no Rio Grande do Sul. Atividade dos gafanhotos já é bem menor.

 

 

As nuvens de gafanhotos ocorrem em todos os continentes.

 

 
Com o enfraquecimento da nuvem de gafanhotos e o trabalho feito com aviões e defensivos por parte dos argentinos, é pouco provável que os gafanhotos atravessem a fronteira com o Brasil, mesmo se os ventos e a temperatura contribuírem. 
 
De qualquer maneira, o Ministério da Agricultura do Brasil declarou estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina devido ao risco de surto de gafanhotos nas áreas produtoras dos dois estados. Equipes do ministério e dos governos estaduais estão acompanhando a movimentação dos insetos e trabalhado em um plano de ação caso a nuvem chegue ao Rio Grande do Sul.
 
A frota aeroagrícola do Rio Grande do Sul é de 462 aeronaves, espalhadas em todo o Estado. Só em Uruguaiana, são 10 aviões prontos para operação imediata, o que é considerado mais do que suficiente para a região. Isso porque a nuvem, que em voo abrange uma área de até 10 quilômetros de comprimento por três de largura (equivalente a 3 mil hectares), quando pousa para se alimentar e passar a noite – do final da tarde até o início da manhã seguinte, ela se concentraria em uma área de até 10 hectares. “Espaço em que é possível fazer a operação com um ou dois aviões”, ressalta Thiago Magalhães, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola.
 
 
 
 
GAFANHOTOS
 
Nuvens de gafanhotos são um fenômeno natural
 
 
 
 
Evaristo de Miranda, doutor em ecologia e pesquisador da Embrapa 
 
As nuvens de gafanhotos ocorrem em todos os continentes. Há milênios. Como no texto bíblico sobre a praga de gafanhotos no Egito. Existem mais de 12.000 espécies de gafanhotos no mundo. E menos de 30 delas são capazes de gregarizar e formar nuvens.
 
Na América do Sul há registros de nuvens de gafanhotos atacando cultivos de mandioca na província de Buenos Aires em 1538! O espanhol Nuñes Cabeza de Vaca no final do século XVI, relatou ataques de gafanhotos, vitimando os indígenas e causando fome na região do rio Paraguai.
 
O gafanhoto das “nuvens” atuais, na Argentina e no Paraguai, é um velho conhecido dos pesquisadores e agricultores. Seu nome científico é Schistocerca cancellata.
 
 
LUTA DEFENSIVA – LUTA OFENSIVA –  LUTA PREVENTIVA
 
 
 
Pululações de gafanhotos não devem ser atribuídas a questões políticas ou imaginários desequilíbrios ambientais de origem humana, mas resultam essencialmente de sequências favoráveis de eventos meteorológicos, intra e plurianuais, seja na Ásia, África, Austrália ou Américas.
 
 
 
O “Programa Nacional dos Gafanhotos da República Argentina” existe há 128 anos! É o mais antigo programa do Ministério da Agricultura e de qualquer esfera de governo daquele país.
 
Criado em 1891, o programa até 1940 esteve focado na “luta defensiva” contra os gafanhotos. Com o advento dos pesticidas, o programa inaugurou a “luta ofensiva”, que durou até 1954. A partir daí foi inaugurada a “luta preventiva”, com o avanço do conhecimento científico sobre a biologia e a ecologia dos gafanhotos e meios de monitoramento e controle.
 
Pululações de gafanhotos não devem ser atribuídas a questões políticas ou imaginários desequilíbrios ambientais de origem humana. A ciência estabeleceu: nuvens de gafanhotos resultam essencialmente de sequências favoráveis de eventos meteorológicos, intra e plurianuais, seja na Ásia, África, Austrália ou Américas.
 
Antes da fase gregária, é possível evitar a formação de nuvens por meio do controle precoce das formas juvenis dos gafanhotos. Na Argentina existem até APPs para sinalizar a localização da concentração de saltões (gafanhotos jovens). Para nuvens já formadas, existe uma ampla gama de produtos, desde hormônios até pesticidas, para controlar a praga e reduzir seu impacto. A pulverização aérea é muito eficaz em determinados casos. Esses bilhões de indivíduos não se controlam com galinhas d’Angola ou golpes de vassouras, como sugerem palpiteiros de plantão. 
 
O conhecimento científico é fundamental. Na América do Sul, neste período (inverno), as principais colheitas já ocorreram. Os gafanhotos podem causar danos a pastagens e, sobretudo, a áreas irrigadas e de cana de açúcar, mas ainda estão longe disso.
 
Mais informações:
http://www.gafanhotos.cnpm.embrapa.br/