PERCORRENDO O VELHO CHICO
Foz do São Francisco
30 de setembro de 2020A viagem de buggy pelas dunas de Piaçabuçu e de barco pela foz do São Francisco é fascinante. O condutor das histórias da região é o Maxuel David, mais conhecido como MAX. Ele nasceu em Piaçabuçu e estudou muito para conhecer cada palmo dessa maravilha da natureza. Mais do que um passeio para… Ver artigo
A viagem de buggy pelas dunas de Piaçabuçu e de barco pela foz do São Francisco é fascinante. O condutor das histórias da região é o Maxuel David, mais conhecido como MAX. Ele nasceu em Piaçabuçu e estudou muito para conhecer cada palmo dessa maravilha da natureza. Mais do que um passeio para ver é um passeio para aprender e entender a importância do ecossistema que envolve a foz do rio São Francisco. Uma aula de Brasil, de educação e de preservação completa. Vamos ouvir o MAX contando a história da região. Não perca o embalo. Vale acreditar na preservação do meio ambiente e no potencial do turismo como empreendimento que dá emprego, renda e lucro.
PRIMEIRA ETAPA DO PASSEIO: CONHECENDO APA – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
FALA MAX: “Esta é a primeira etapa do passeio, pelas dunas de Piaçabuçu. Aqui temos uma zona de uso alternativo, uma APA criada em 1983, onde existia povoados e fazendas. Todos tiveram que se adequar à nova realidade. Os fazendeiros podem usar o espaço para plantar coco, para pecuária, mas não podem desmatar. Devem obedecer o movimento das dunas. Segundo dados do IBAMA, as dunas se movimentam no sentido do vento predominante, 8 metros em média, por ano. Isso seria quase como um tsunami de areia em câmara superlenta. Um lento tsunami que vem, gradativamente, engolindo o coqueiral e a mata. Aí é inteligente que os fazendeiros mantenham a mata preservada. Ela funciona também como uma barreira natural que retarda o avanço dessa areia e ameniza o tsunami. Tem mais: quando isso acontece os fazendeiros perdem espaço para a União. Toda zona que morre no Brasil é automaticamente uma Área de Proteção Permanente. Legalmente não existe dono de dunas.
ECÓTONO: ÁREA DE TRANSIÇÃO COM GRANDE DIVERSIDADE
MAX continua: – Felizmente, aqui nesse ecossistema, a gente conta com um ECÓTONO.
[Ecótonos são áreas de transição ambiental, onde comunidades ecológicas diferentes se misturam. Podem ser vegetações diferentes com mudanças bruscas. São considerados potenciais indicadores de respostas a mudanças climáticas e reguladores de fluxos nos ambientes. Por isso, possuem uma grande biodiversidade, sendo encontrados organismos pertencentes aos ecossistemas próximos ou espécies endêmicas]
Nessa área, meus amigos, a gente tem restinga, caatinga, cerrado, mata atlântica e até pantanal. São cactos, bromélias, palmeiras. É possível encontrar escorpião amarelo, jacaré do papo amarelo, que estão ameaçados de extinção, além de lontras, guaxinim, algumas cobras, tem coral verdadeira, jiboias, o gato morisco, o gato maracajá e a jaguatirica. Só que esses últimos costumam ocorrer em áreas mais fechadas da mata. A maioria também é de hábitos noturnos. É pouco provável, nesse horário de sol, que a gente encontre alguns. Isso depende da sorte ou do azar das pessoas. Tomara que a gente tenha sorte hoje.
TRÊS PILARES DA ECONOMIA LOCAL
E MAX continua: “Bom, mas eu falava agora há pouco a respeito dos três pilares que compõe nossa economia: o coco, a pesca e o turismo. E nessa passagem é difícil não notar a quantidade de coqueiros que agente tem. Isso nos dá a segunda maior concentração, por km², de coqueiros do mundo. Nós só perdemos para a Costa do Marfim, na África. O título, porém, é considerando a área de municípios, porque existem regiões com mais coqueiros plantados, inclusive aqui em Alagoas. Apesar dessa densidade toda, a produtividade poderia ser melhor, porque esses coqueiros compridos produzem, normalmente, por pé, entre 40 a 60 cocos por ano, segundos dados da EMBRAPA de Sergipe. Atualmente estamos produzindo apenas 31 cocos por pé/ano. E um dos fatores para essa baixa produtividade pode ser a longevidade da planta que leva 8 anos para começar a produzir e pode chegar aos 80 anos ainda produzindo. Um coqueiro passa dos 100 anos de vida. Inevitavelmente, com essa longevidade o coqueiral vai passando de geração em geração e cai na mão do herdeiro e alguns não dão a devida atenção à plantação que fica exposta a pragas. O desleixo compromete a produtividade de uma espécie que não é nativa do Brasil. O coco é asiático e pode ter chegado para nós pelos portugueses. Eles traziam como hastes no navio, plantavam, demarcavam territórios. Os franceses copiaram esse modelo. Ou por hidrocória [dispersão de organismo ou de qualquer fruto, semente, esporo etc., através do fluxo da água de rios ou mares] que é o evento de dispersão de uma semente no fluxo de água.
O LIXO DE PERTO E QUE VEM DE LONGE
Logo atrás das dunas, nós vamos por um antigo quilombo e vamos ver a praia do Peba. O Pontal do Pega é uma praia com 25 km e desses, 22 km são de praia semideserta. Não há pessoas por lá. Mas, infelizmente, nós podemos encontrar muito lixo que vem do mundo inteiro. Evidente que próximo aos povoados, há falta de educação ambiental e as comunidades ainda precisam aprender a lidar com o lixo nas praias. Mas, na praia do Peba, pelo movimento das correntes marítimas e marés é possível encontrar embalagens que vem da Coreia, Malásia, China. Isso é imaginável, mas acontece. É lixo que vem dos navios e chegam pelas correntes marítimas. As correntes marítimas do nosso litoral têm predominância do norte para o sul. Devemos falar mais disso, para todo o grupo reunido, na beira da foz do rio São Francisco.
Maxuel David explica a cultura do coco: “Falei agora há pouco sobre o coco que a gente conhece. Este é o mesmo coco comprado em supermercado. A semente (ou o coco seco) é protegida pela casca. O coco verde que vemos pendurado no coqueiro é o mesmo coco que comemos a semente seca, ou “maduro” que usamos para fazer doces, coco ralado, leite de coco, polpa. A água de coco que tomamos é o coco ainda verde”.
MAX: “Quando o coco amadurece, ele germina. O broto sai por um dos três furos que a semente possui. Se plantarmos, ele nasce e cresce, restabelecendo o ciclo”.
OPARÁ: O RIO-MAR
O rio São Francisco foi descoberto por Américo Vespúcio em 4 de outubro.
Descoberto pelo navegante Américo Vespúcio, em 4 de outubro de 1501, o rio foi homenageado com o nome do santo do dia: São Francisco de Assis. Em mais de 500 anos, Maxuel David explica que desde a sua nascente na Serra da Canastra, o rio São Francisco vem sofrendo degradações que levam a bacia hidrográfica – e a própria foz – a ter sérios impactos ambientais. Os maiores problemas são:
1) O desmatamento para as monoculturas e para as carvoarias que compromete os mananciais e provoca o assoreamento;
2) A poluição urbana, industrial, minerária e agrícola;
3) A irrigação, que além dos agrotóxicos, consome água demais;
4) As barragens e hidrelétricas que realocam comunidades inteiras e que impedem os ciclos naturais do rio;
5) A pobreza e o abandono da população, a que mais sofre com as consequências desses abusos.
Os pescadores percebem e o oceanógrafo Paulo Peter, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas comprova: “É possível notar no estuário a morte da vegetação típica de água doce, substituição dos peixes de água doce pelos de água salgada e inviabilização da água para o consumo humano”. O problema da salinização também se reflete na saúde dos ribeirinhos, como afirma a agente de saúde Suely Santos, que trabalha há 17 anos em Piaçabuçu. “A água do Rio São Francisco é para muitos moradores da região o único recurso hídrico que se tem para cozinhar e beber”.
Segundo Maxuel, às margens do rio São Francisco havia uma aldeia de pescadores conhecida como ‘Cabeço’. Ela foi invadida pelo mar. Os moradores se mudaram para terra firme e o farol que servia como referência e ponto de localização, construído em terra firma, foi invadido pelo mar e está hoje a uns 200 metros da costa. Uma prova de que o mar está empurrando o rio e deixando a água da foz mais salinizada.
Um ano e meio após a Descoberta de Pedro Alvarez Cabral, o navegador Américo Vespúcio chegou à foz de um enorme rio que os índios chamavam de Opará (rio-mar). A data era 04 de outubro de 1501, dia de São Francisco, santo em cuja homenagem os navegadores europeus batizaram o rio.
A Ponte Marechal Hermes, em Pirapora, tem 694 metros de comprimento em 14 vãos, sendo os 10 centrais de 55 metros e os 04 marginais de 36 metros cada. Era a única ligação entre as cidades de Pirapora e Buritizeiro.
Popularmente, é o Velho Chico. Para os índios, era Opará ou Pirapitinga. O rio São Francisco, por abastecer boa parte da região Sudeste e Nordeste, por irrigar muitas áreas de plantações e por produzir energia pelas nove usinas hidrelétricas é um rio de relevância cultural, econômica e social. Talvez o mais importante do Brasil. Por isso é chamado de Rio da Integração Nacional.
O mapa mostra a Bacia do rio São Francisco. O rio tem 2.863,30 km desde sua nascente até a Foz entre Sergipe e Alagoas. É abastecido por 168 afluentes, banha 521 municípios e beneficia uma população de mais de 15 milhões de pessoas.