ECOTURISMO E A PANDEMIA

Chapada Diamantina

1 de setembro de 2020

Lençóis no Controle da Pandemia

 

 

Foi amor à primeira vista. Vim conhecer Lençóis há três anos e daqui não quis mais sair. Vim por um chamado do poeta e jornalista, baiano de Vitória da Conquista, de alma brasiliense, galáctico, primo de Glauber Rocha, Heitor Humberto de Andrade, o saudoso H2A, in memoriam, amigos desde os anos 80, em Brasília. Do tempo Jornal ‘Ordem do Universo’ e da revista ‘Transe’. Veículos esotéricos que sintetizavam a arte, a cultura e as transformações transcendentais. Eles marcaram a convulsão cultural ocorrida na década de 80 em Brasília, emblematizada pelo poderoso Rock que ali brotou, a matriz do Rock brasileiro. Heitor era assim: ele sempre encontrava os lugares de elevado poder energético.

 

 

O meu encontro com Lençóis foi pela porta do poeta H2A. A cidade me atraiu pelo rico acervo histórico, arquitetônico – tombada pelo IPHAN – paisagístico e a atmosfera espiritual que domina os territórios da Chapada Diamantina. Talvez seja essa energia piezoelétrica gerada pelos diamantes, mantidos através de centenas de séculos abaixo de nossos pés, que fixam a gente na terra.

 

A CIDADE FESTIVA

Muita agitação cultural na noite de Lençóis: cruzamento da Rua da Baderna com a Rua das Pedras.

 
 
 
As noites de Lençóis eram uma festa. Turistas do mundo inteiro circulavam pelas ruas estreitas e animadas por talentosos músicos residentes ou os que por aqui passavam, do Brasil e do exterior. Lençóis chegou a atrair o lendário guitarrista Jimmy Page, da banda Led Zeppelin, que comprou imóvel e morou aqui.
 
A cidade vivia do turismo ecológico, gastronômico, religioso, esotérico e arqueológico, representado pelo rico Parque Arqueológico das Paridas e era o hub da Chapada Diamantina, pela existência do aeroporto Horácio de Mattos, com pista 2.200 metros de comprimento e pela manutenção de 5.000 leitos distribuídos em mais de duzentas pousadas, hotéis e outros equipamentos. Vale lembrar: apenas 500 leitos estarão disponíveis nesse primeiro momento.
 
A alegria explodia das mesas dos restaurantes distribuídas ao longo das ruas situadas nos eixos da gastronomia, formados pela Rua da Baderna, Rua das Pedras e a Praça Horácio de Mattos. Nas calçadas, os artistas instalavam os seus equipamentos sonoros e criavam os seus micropalcos.
 
 
A TERRA PAROU, O MUNDO MUDOU
 

 

Aí veio esse vírus letal e mergulhou Lençóis em uma noite profunda. Era aterrorizante. Aquelas mesmas pedras, artisticamente compostas pelo calçamento da cidade, não repercutiam mais os sons das guitarras ou violões, que se multiplicavam em cada noite. Caminhei nalgumas madrugadas pela cidade e não encontrava nenhuma pessoa. Até os cachorros de rua sumiram.

Sirene? Aqui não se ouvia. Mas, a partir de 22 de março, uma viatura do Corpo de Bombeiros tocava a sirene e um militar ampliava sua voz pelo megafone, a frase que virou o mantra da pandemia: fique em casa. 
 
As pessoas passaram a usar máscaras repentinamente e apresentar sinais de desconfiança. Aquela alegria transformou-se num pesadelo. Desemprego. Hotéis e restaurantes fechados. Agências de turismo, tudo.
 
O vírus chegou de repente, sem bula ou manual, e se instalou. Objetivamente, ninguém tinha experiência com um vírus tão sofisticado e letal. O desafio é a sobrevivência. O prefeito Marcos Aírton adotou medidas duras que deram certo. São cinco meses de enfrentamento. Nenhum óbito ocorreu em Lençóis. A administração municipal adotou critérios rigorosos e manteve a população em segurança.
 
 
TESTAGEM PARA COVID-19
 

 

Do ponto de vista da segurança sanitária, o município está muito bem. Os casos testados, positivados e assintomáticos, foram submetidos a monitoramento e distanciamento efetivo. Todos já retornaram às suas atividades. Do ponto ambiental, o município vai adotar na área do Parque Nacional da Chapada Diamantina e adjacências o famoso protocolo. Segundo o secretário do Meio Ambiente de Lençóis, Andrés Yglesias, a Secretaria de Meio Ambiente, em parceria com o ICMBio,  e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos-Inema, modula esse compartilhamento de ações.

Atendendo a pedido do trade turístico, o prefeito decidiu reabrir essa cidade mágica e encantadora para acolher novamente os turistas que desejem dar um choque de natureza em seu confinamento.
 
Por decreto municipal, foram determinados rigorosos protocolos que possam continuar garantindo a segurança sanitária para a população, entre os quais testagem negativa para Covid-19 a todos turistas que ingressarem na cidade.
 
Todos os serviços serão reduzidos a 50% da capacidade de cada estabelecimento. Serão metade das vagas nos hotéis e pousadas, das mesas dos restaurantes, das vans, para garantir conforto e segurança para todos, como afirma Anselmo Macedo, presidente do Conselho Municipal de Turismo e gerente do Hotel Portal. Anselmo conclui afirmando que o setor precisa reaprender a engatinhar.
 
Isso é bom para todo mundo. O reinício das atividades reaquece a economia e oferece alternativa inédita para quem deseja o privilégio de desfrutar da riqueza natural que Lençóis e a Chapada Diamantina oferecem com exclusividade, conforto e segurança.