Rios Voadores

9 de setembro de 2020

      Estrelas voam, luas, meteoritos voam, pássaros, nuvens, besouros, aviões… Mas, há rios que voam. Rios feitos de água. Voam, e são maiores que o mais caudaloso rio do mundo e segundo maior em extensão, o Amazonas. Os Rios Voadores levam pelos céus bilhões de toneladas de água por matas, campos, passam por… Ver artigo

 

 

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Estrelas voam, luas, meteoritos voam, pássaros, nuvens, besouros, aviões… Mas, há rios que voam. Rios feitos de água. Voam, e são maiores que o mais caudaloso rio do mundo e segundo maior em extensão, o Amazonas. Os Rios Voadores levam pelos céus bilhões de toneladas de água por matas, campos, passam por nossas cidades, telhados, nossas cabeças, por vários estados no centro-oeste, no sudeste e sul do Brasil, chegam até a Bolívia e o Paraguai. O nome é poético, mas são mesmo rios feitos de gotículas d’água, com milhares de quilômetros de extensão, correndo pelos céus, voando como pássaros ao vento, às vezes acompanhados pelas nuvens. Sem margens, sem peixes, quase invisíveis, mas são mesmo rios voadores.
 
Eles evaporam do oceano pelo calor equatorial, formam uma colossal massa de umidade que é sugada pela floresta amazônica e, quando sobrevoam a terra, caem em forma de chuva. As árvores transpiram e devolvem a água da chuva para o ar, em forma de vapor. Isso ocorre constantemente, o ar sempre é recarregado com mais umidade. Forma-se uma imensa massa que é soprada pelo vento na direção oeste, rolando como um furtivo rio, e na viagem vai deixando cair suas gotas, mas fabulosas quantidades de vapor continuam até se depararem com uma fantástica muralha que é a cordilheira dos Andes. As montanhas recebem água dessa massa úmida e essa água que vêm da Amazônia forma as cabeceiras do rio Amazonas. Um perfeito sistema circular criado pela sábia natureza.
 
Os Rios Voadores então fazem uma meia volta na cordilheira dos Andes e sobrevoam desde Minas Gerais até o Paraná, irrigam as plantações, enchem rios e lagos em terra, criam uma região úmida e verdejante onde floresce quase toda a riqueza do nosso país. Graças aos Rios Voadores a região não é um deserto. As árvores da floresta amazônica, calculadas em seiscentos bilhões de exemplares, lançam suas raízes profundamente na terra e retiram a água da chuva que penetrou os subterrâneos, e as suas folhas trabalham fazendo a evaporação. Uma única e frondosa árvore da floresta chega a transpirar mais de mil litros de água a cada dia. Somando todo o esforço das árvores, temos uns vinte bilhões de toneladas d’água por dia. Mais água que o próprio rio Amazonas, que tem uns dezessete bilhões de toneladas. Somos abençoados. Num mundo em que a água está a cada dia mais escassa, essa é uma das maiores riquezas.
 
Conhecidos pelas ciências desde os anos 1960, só recentemente os Rios Voadores foram mais estudados, sobretudo pela Expedição Rios Voadores, composta por cientistas, há bastante informação na internet sobre esses estudos. O criador da expedição, o engenheiro e aviador suíço-brasileiro, Gérard Moss, costumava sobrevoar a Amazônia, e avistava massas de água quase invisíveis; cheio de curiosidade associou-se a cientistas. Eles voaram milhares de quilômetros seguindo as correntes de vapor, recolhendo amostras, registrando a formação, o fluxo, o tamanho e a constância dos Rios Voadores. Descobriram que eles ocorrem cerca de trinta vezes por ano e são responsáveis pelo equilíbrio de grandes regiões de nosso continente, tantas vezes maltratadas por secas ou inundações. A água é vida e renasce das florestas.