onça-pintada

Ameaçada de extinção, onça-pintada encontra no Morro do Diabo um ambiente protegido para a preservação

30 de novembro de 2020

Segundo o gerente da Fundação Florestal, Edson Montilha, o parque estadual localizado em Teodoro Sampaio (SP), na região do Pontal do Paranapanema, tem entre 15 a 20 felinos da espécie e deve receber projeto de monitoramento de grandes mamíferos no ano que vem.

Por Heloise Hamada e Gelson Netto, G1 Presidente Prudente

 

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

Neste domingo (29), é comemorado o Dia Nacional da Onça-Pintada. Na região de Presidente Prudente (SP), o felino já foi visto no Parque Estadual do Morro do Diabo, que fica em Teodoro Sampaio (SP), no Pontal do Paranapanema. O animal é considerado o maior felino do continente americano e o terceiro maior do mundo, atrás apenas do tigre e do leão. A Fundação Florestal (FF), que administra o parque, estima a existência de 15 a 20 onças-pintadas no local, uma população considerada pequena para uma espécie que é “extremamente ameaçada de extinção”.

Para lembrar a data, o G1 entrevistou o gerente da FF, Edson Montilha. Ele é biólogo, doutor em ecologia e conservação da biodiversidade. Em janeiro deste ano, ele também falou com o G1 quando, dois vigilantes que trabalham na segurança do Parque Estadual do Morro do Diabo flagraram uma onça-pintada às margens do Rio Paranapanema, que fica na divisa entre os estados de São Paulo e do Paraná.

De acordo com o parque, o registro das imagens foi feito durante uma ronda de fiscalização, no período diurno, através de celulares, pelos vigilantes Ricardo Costa Ducovschi e Reginaldo Duarte dos Santos, que estavam em uma embarcação, no meio do rio.

Na época, Edson Montilha afirmou ao G1 que a FF estava iniciando, juntamente com parceiros, um projeto de monitoramento de grandes mamíferos no Morro do Diabo, através de câmeras que serão espalhadas pelo parque para acompanhar e registrar os deslocamentos dos animais, com a captação de imagens em fotos e vídeos durante 24 horas por dia.

O projeto

O gerente da Fundação Florestal salientou que o projeto de monitoramento de espécies que necessitam de grandes áreas e com qualidade de habitat é uma das ações mais importantes para o planejamento de ações para a conservação da biodiversidade.

“Assim, a onça-pintada é um excelente animal porque trata-se de um predador de topo de cadeia alimentar, e qualquer alteração na sua população indica que todo o ambiente apresenta algum problema muito sério. Juntamente com a onça-pintada, outros mamíferos como a anta, queixada e outros mamíferos de médio e grande porte também serão monitorados. Além do parque Morro do Diabo, Estação Ecológica da Juréia e Parque Serra do Mar estão envolvidos neste projeto”, frisou.

Ele informou ao G1 que ainda não teve início a etapa de campo. “Nestes últimos meses trabalhamos para acerto no projeto, na capacitação e aquisição dos equipamentos que são importados. Todas estas atividades têm a previsão de licitação para o início de 2021”, disse.

Mesmo ainda sem o monitoramento atualmente, o gerente destacou que “existem vários registros por funcionários e pesquisadores de observação da onça-pintada no parque”.

Com as informações colhidas ao longo do tempo, ele disse que serão possíveis detectar áreas de preferências de ocupação da espécie, estimativas populacionais, e cruzar com os riscos existentes, proximidade com estradas, possível pressão de caça, estabelecer banco georreferenciado com diversas informações que ajudarão no planejamento da gestão do território para conservar a espécie. Como exemplos, onde a fiscalização deve ser mais intensa.

“Com as informações é possível desenvolver um trabalho de divulgação na mídia chamando a atenção das pessoas para as espécies, estabelecer um projeto didático-pedagógico para a formação educacional das próximas gerações”, falou.

‘Oásis na região oeste do Estado de SP’

Parque Estadual Morro do Diabo fica localizado em Teodoro Sampaio — Foto: Prefeitura de Teodoro Sampaio/Divulgação

Parque Estadual Morro do Diabo fica localizado em Teodoro Sampaio — Foto: Prefeitura de Teodoro Sampaio/Divulgação

Por enquanto, a estimativa do tamanho populacional das onças-pintadas no Morro do Diabo é entre 15 a 20 indivíduos, que ocupam a área do parque e de fragmentos no entorno. “Com o monitoramento poderemos atualizar estes valores, mas pensando na conservação da espécie a longo prazo este tamanho populacional é pequeno”, falou Montilha.

A respeito da importância do Parque Estadual do Morro do Diabo para a preservação da espécie, o biólogo ressaltou que o local é um “oásis”.

 

Morro do Diabo fica localizado em Teodoro Sampaio — Foto: Prefeitura de Teodoro Sampaio/Divulgação

Morro do Diabo fica localizado em Teodoro Sampaio — Foto: Prefeitura de Teodoro Sampaio/Divulgação

 

“O parque é um oásis na região oeste do Estado de São Paulo. Trata-se de uma área protegida de aproximadamente 34 mil hectares de Mata Atlântica de interior, é o maior contínuo florestal do interior. Além do fornecimento de habitat para a existência da onça-pintada, outros tantos animais importantes encontram abrigo no Morro, como o mico-leão-da-cara-preta, espécie ameaçada e animal símbolo do Estado. Para que estas áreas continuem a existir com toda esta riqueza, a presença de predadores de topo de cadeia é fundamental para manter o equilíbrio e dinâmica das populações, incluindo aqueles que são plantadores de floresta, como a anta, primatas e outros animais”, explicou.

Montilha ainda afirmou que o Morro do Diabo é uma “unidade de conservação”.

“Trata-se de uma área protegida onde os eventos ecológicos e evolutivos estão garantidos legalmente. Neste sentido, um animal extremamente ameaçado, como uma onça-pintada, tem que ter o máximo de diversidade genética preservado. Penso que esta é a principal importância de o Morro garantir para o futuro, este pool gênico protegido”, salientou.

 

Risco de extinção

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

 

O gerente da FF alertou que a onça-pintada é uma “espécie extremamente ameaçada de extinção”.

“Na lista oficial do Estado de São Paulo de 2018, é grau máximo de risco, ou seja, ela é considerada como criticamente ameaçada de extinção. Esta é uma das motivações para o desenvolvimento deste projeto de monitoramento no Morro e nas outras unidades do Estado de São Paulo”, destacou.

Questionado sobre os fatores que colocam em risco a preservação da espécie, ele explicou que esses animais precisam de grandes extensões de áreas naturais preservadas para poderem sobreviver. Neste sentido, sem dúvida, a perda de habitat seja pela perda da floresta ou pela perda da qualidade da floresta é fator fundamental. Outros fatores associados, como caça, tráfico e atropelamento, acabam reduzindo estas populações.

Montilha também salientou que a espécie está se reproduzindo, já que há “registros recorrentes de encontro com a espécie na unidade de conservação”.

“Hoje com as informações que temos não é possível estabelecer dados precisos, o monitoramento poderá através das câmeras apresentar o registro de filhotes”, finalizou ao G1.

 

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

 

Onça-pintada

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino do continente americano. Tem até 1,90 metro de comprimento e 80 centímetros de altura. Os machos pesam cerca de 20% a mais do que as fêmeas, podendo chegar a 135 quilos.

A onça-pintada pode viver em vários tipos de habitat, desde que uma parte da vegetação seja densa. É um animal solitário e territorial. Tem hábitos noturnos. Pode ocupar áreas de 22 km² a mais de 150 km² (dependendo da disponibilidade de presas). A espécie era encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Mas está oficialmente extinta nos Estados Unidos e já é uma raridade no México.

Na onça-pintada, ocorre também o fenômeno do melanismo, comum em outros felinos. A coloração amarela é substituída por uma pelagem preta. Dependendo da luz em que o animal se encontra, percebem-se as rosetas. O animal na forma melânica é chamado de onça-preta.

As populações vêm diminuindo devido ao confronto com atividades humanas, como a pecuária. A espécie é classificada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como vulnerável e está no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites). Ou seja, o risco de extinção está associado ao comércio e sua comercialização só é permitida em casos excepcionais, mediante autorização expressa.

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo

Vigilantes flagraram onça-pintada às margens do Rio Paranapanema — Foto: Reprodução/Facebook/Morro do Diabo