Turismo

Ilhas: esconderijo perfeito para uma imersão na natureza

9 de dezembro de 2020

Em meio à pandemia de coronavírus, ilhas se revelam um refúgio ideal para turistas que buscam isolamento; muitos desses oásis ainda permanecem desconhecidos

Por PAULO CAMPOS

 

Ilha de Santo Aleixo, em Pernambuco

Ilha de Santo Aleixo, em Pernambuco

Foto: Edy Fernandes/Divulgação

 

Pelo menos uma vez por mês o belenense Jarbas Martins, 32, cruza os 87 km que separam a ilha de Marajó da capital paraense em busca de um refúgio e de isolamento. “Surpreendente que a maioria dos moradores daqui nunca tenha cruzado a baía de Guajará até o arquipélago, apesar da proximidade”, afirma.

Embora tenha crescido em número de leitos e serviço de turismo nos últimos anos, a ilha fluvial não é um destino muito procurado pelos turistas. Bem ao contrário de Alter do Chão, outra ilha paraense que foi alçada a destino internacional depois de ter sido citada por duas vezes pelo jornal britânico “The Guardian”.

Como a bucólica e praieira Marajó, terra dos búfalos e do carimbó, o ritmo mais popular do Pará, muitas ilhas no litoral e no interior do país permanecem desconhecidas dos turistas. É o caso de Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, que, por conta de lavouras, pastos e queimadas, em breve deixará de ser ilha.

Por estar distante de centros urbanos, a porta de entrada é a capital de Tocantins, Palmas, a 323 km. A ilha na confluência dos rios Javaés e Araguaia, infelizmente, não está na rota dos viajantes – a exceção são os praticantes da pesca esportiva –, embora ofereça um pouco mais do que praias, trilhas e passeios de barco.

Projetos importantes, como o Quelônio, têm garantido a proteção e a preservação dos filhotes de tartarugas-da-amazônia. Na divisa entre dois biomas, a floresta e o Cerrado, Bananal permite visitar – claro, com anuência dos índios e controle de órgãos ambientais – aldeias das tribos Karajá e Javaés.

Na categoria ilhas fluviais, o arquipélago de Anavilhanas, próximo ao município de Novo Airão, é uma das joias da Amazônia. O paraíso – e olha que aqui a adjetivação não é clichê nem exagero – é formado por mais de 400 ilhas e fica a três horas de barco da capital amazonense.

Praias (a maioria na época da seca), botos, trilhas e um labirinto de ilhotas e florestas são alguns dos atrativos do parque nacional administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O Anavilhanas entrou no radar dos turistas a partir de 2012, com o mapeamento das atrações turísticas.

Se a ideia é isolamento social, poucos lugares são tão indicados quanto os hotéis de selva próximos ao arquipélago como o Anavilhanas Jungle (anavilhanaslodge.com), o Mirante do Gavião (mirantedogavião.com.br/pt-br) e o Juma Amazon Lodge (jumalodge.com.br), além de muitas (e agradáveis) pousadas de charme.

 

Nordeste

Essa curiosa pauta sobre ilhas e isolamento social foi inspirada em uma viagem recente à Ilha de Santo Aleixo, no litoral de Pernambuco, comumente um destino fora da rota dos turistas que visitam Porto de Galinhas e a praia de Carneiros.

Santo Aleixo pertence ao município de Sirinhaém, e os passeios de barco ou lancha custam a partir de R$ 130. É só um bate e volta, porque na ilha não tem hospedagem nem restaurante, apenas barraca de drinks.

“Bate e volta” não é exatamente a melhor tradução para quem busca isolamento social – o mais indicado é escolher um lugar com infraestrutura e distante de destinos turísticos de massa. Mas Santo Aleixo vale a pena pelos incríveis cenários.

No Nordeste, essa afirmação é redundância – cartões-postais da natureza foram feitos para selfies. Um dos lugares é Boipeba, que, apesar da proximidade com Morro de São Paulo, guarda relativo sossego e tranquilidade.

Sete praias (Bainema, Boca da Barra, Cova da Onça, Cueira, Moreré, Ponta de Castelhanos e Tassimirim) e prainhas menores vivem quase que praticamente desertas, porque a maioria dos turistas não abre mão da infraestrutura de Morro.

Dois vilarejos bem rústicos – Velha Boipeba e Moreré – oferecem hospedagem que não destoa do lugar. Há, ainda, a opção de pousadas em praias afastadas. Passeios de barco, piscinas naturais e caminhadas à beira-mar são os únicos programas.

 

Delta

Muito mais imersão na natureza é visitar a ilha do Caju, no delta do Parnaíba, o único das Américas e o terceiro maior do mundo. Essa experiência única e indescritível em poucas linhas é possível a partir do município de Tutoia (MA) ou Parnaíba (PI).

Localizado entre os Estados do Maranhão e do Piauí, o delta do Parnaíba é o auge do percurso turístico Rota das Emoções (rotadasemocoes.com.br). Com nascente no Jalapão, em Tocantins, o rio Parnaíba desemboca no oceano Atlântico.

Ao desaguar no mar, capricha e faz cinco braços de rios, numa configuração similar a uma mão aberta. É nessa paisagem singular de canais, ilhas e igarapés, misturando mangues, dunas, lagoas, prainhas e florestas que ocorrem os passeios de lancha.
Eles levam às ilhas Caju e das Canárias.

Em frente à Caju, o plus é contemplar a revoada dos guarás, pássaros de coloração vermelha que, no final de tarde, se recolhem na copa das árvores. Silenciosas, as aves chegam solitárias ou em bando, aos poucos.

 

Guajiru

Os gringos e amantes de kitesurfe conhecem bem Guajiru, em Itarema, a 220 km de Fortaleza (CE). Há quem até tenha apelidado o lugar de “Cancún cearense”, por conta das águas com tom levemente verde-esmeralda, mas há um pouco de exagero.

Para visitar Guajiru, o melhor lugar para se hospedar é Trairi, que já foi descrito no clássico literário “Iracema”, de José de Alencar. É a melhor referência em boas pousadas e tem até um resort com toque indiano, o Zorah Beach (zorahbeach.com.br).

Com baixa densidade de turistas, Guajiru é para aquele turista que gosta de desbravar destinos emergentes. Ele se encanta de imediato quando vê a longa faixa praiana, a barra com coqueiros e o lago cristalino no meio, entre a península e o continente.

 

Sul/Sudeste

Nos 7.491 km de litoral – o Brasil está em 16ª posição n vco mundo –, a dica é fugir de ilhas que atraem muitos turistas, como Fernando de Noronha (PE), Itamaracá (BA), Tinharé (onde está localizado Morro de São Paulo), Ilha Grande (RJ) e de São Sebastião (SP).

Na região Sudeste, a ilha do Mel, pertencente a Paranaguá, no litoral do Paraná, reabriu em setembro aos turistas, mas o visitante deve ter reserva de hospedagem. A ilha também só pode receber 60% de sua capacidade, ou seja, 2.500 pessoas por dia.

A ilha pode ser combinada com passeio de trem (acesse serraverdeexpress.com.br) que percorre as paisagens da serra do Mar. Com 90% da área protegida pela Unesco, além das praias, vale visitar a fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, o morro do Farol e a gruta das Encantadas.

No litoral sul de São Paulo, a ilha do Cardoso é um lugar esquecido. Próxima a Cananeia, a 216 km da capital paulista, mistura ecossistemas (manguezais, restingas, florestas), guarda ruínas coloniais, muitas trilhas e praias desertas. No verão, o acesso é permitido a 1.100 pessoas.