SERTÃO ROSEANO I

Museu Guimarães Rosa

1 de dezembro de 2020

Cordisburgo: Museu Casa Guimarães Rosa abriga acervo da vida e obra do escritor

Silvestre Gorgulho

 

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes.

E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.

Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo

vivendo no Rio São Francisco (…) porque

amo os grandes rios, pois são profundos

como a alma de um homem”.  Guimarães Rosa

 

Era uma segunda-feira, 3 de novembro. Cheguei a Cordisburgo no início da tarde. Queria fazer uma nova visita à Gruta de Maquiné. Estava fechada devido à pandemia do novo Coronavírus. Depois, tinha o interesse de conhecer, detalhadamente, o Museu Casa Guimarães Rosa. Preocupado, achei que não era dessa vez que mergulharia no mundo roseano. Mas tive o privilégio de ser o primeiro visitante do Museu Guimarães Rosa pós-pandemia. Fui recebido pelo Coordenador do Museu, Ronaldo Alves de Oliveira, que foi logo dizendo:

– Acabamos de abrir o Museu e você é o primeiro visitante pós-pandemia.

Com tempo e disposição, pude fazer uma viagem tranquila pelo sertão das Minas Gerais. E comprovei, mais uma vez, o que escreveu Guimarães Rosa: “O SERTÃO É DO TAMANHO DO MUNDO”.

 

Em 19 de novembro de 1967 falece João Guimarães Rosa, que teve uma vida dedicada à medicina, diplomacia e literatura. Guimarães Rosa renovou o romance brasileiro. Em 6 de agosto de 1963, Guimarães Rosa foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, sendo empossado só em 16 de novembro de 1967. Foi o terceiro ocupante da Cadeira 2, na sucessão de João Neves da Fontoura e recebido pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco. Três dias depois da posse na ABL, em 19 de novembro, Guimarães Rosa tem um infarto e morre no Rio de Janeiro.

A última mensagem de João Guimarães Rosa veio de seu memorável discurso pronunciado, em 1967, ao assumir sua Cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras. A morte de Guimarães Rosa três dias depois da posse pareceu a muita gente um presságio. Outros afirmam ser apenas coincidência. O fato é que o autor de “Grande Sertão: Veredas” deixou para a literatura nacional um legado de emoções, em causos, história e cultura regional.

CASA GUIMARÃES ROSA

O MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA fica na casa onde o diplomata, escritor e médico nasceu e viveu seus primeiros nove anos de sua vida. O imóvel característico e bem situado em frente à estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, está na rua Padre João com a Travessa Guimarães Rosa, na cidade mineira de Cordisburgo-MG. Era a residência da família. Tinha uma venda que atendia vaqueiros da região e era mantida por seu pai Florduardo, mais conhecido pelo “seu Fulô”. A vendinha de “seu Fulô” funcionou até 1923. Depois teve outros donos. Em 1971, o governo de Minas comprou o imóvel e transferiu-o para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Em 1982, o museu passou por restaurações e adaptações arquitetônicas para receber a exposição ROSA DOS TEMPOS, ROSA DOS VENTOS.

Segundo o coordenador do Museu, Ronaldo Alves de Oliveira, o museu tem dois fatos que originam seu surgimento. O primeiro deles foi o inesperado falecimento do escritor, em 1967. O segundo foi a criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em setembro de 1971, que materializava o sonho preservacionista que vigorava na época. A Casa apresenta varanda lateral, cunhais de madeira pintada, paredes de adobe, cobertura em duas águas (tipicidade do telhado), vãos internos em linhas retas e acabamento singelo. Conserva planta e arquitetura originais, concebido como centro de referência da vida e da obra do escritor mineiro e como núcleo de informações, estudos, pesquisa e lazer.

 

IMAGENS DO MUSEU GUIMARÃES ROSA

Inaugurado em março de 1974, o museu tem dois fatos que originam seu surgimento. O primeiro deles foi o inesperado falecimento do escritor, em 1967. O segundo foi a criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em setembro de 1971, que materializava o sonho preservacionista que vigorava na época.

 

O MANTO DO VAQUEIRO

O Manto do Vaqueiro é a representação do sertão mineiro, uma homenagem aos vaqueiros – personagens importantes da História do Brasil. É também uma possível leitura da literatura de João Guimarães Rosa. O Manto foi bordado por aproximadamente 200 pessoas. A capa partiu da cidade de São Paulo e viajou pelas cidades de Cordisburgo, Andrequicé, Três Marias e Morro da Garça. O Manto significa uma experiência coletiva de tecer e compartilhar a criação de uma obra bordada por muitas mãos a partir de muitos causos e histórias.

 

O MANTO DO VAQUEIRO

 

ENTRA-SE NO CONTO –  Cartaz colocado na entrada do Museu Guimarães Rosa escrito pelo então Secretário da Cultura de Minas Gerais, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos.

 

O Museu Guimarães Rosa reúne grande acervo de fotos, coleção com as ilustres gravatas-borboleta, aproximadamente 700 documentos textuais, toda a obra literária, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia (última obra publicada), matrizes de xilogravuras usadas em volumes como Corpo de Baile (1956), espada, bainha e diploma da Academia Brasileira de Letras, máquina de escrever, rascunhos de trabalhos e outros objetos pessoais.

 

 

 

Em 3 de novembro, uma segunda-feira, cheguei a Cordisburgo para visitar pela terceira vez a Gruta de Maquiné e conhecer o Museu Casa Guimarães Rosa. Um sonho antigo. Devido à pandemia do novo Coronavírus, a Gruta de Maquiné ainda estava fechada. Mas tive o privilégio de ser o primeiro visitante do Museu Guimarães Rosa pós-pandemia. Fui recebido pelo Coordenador do Museu, Ronaldo Alves de Oliveira, que foi logo dizendo:

– Acabamos de abrir o Museu e você é o primeiro visitante pós-pandemia.

Com tempo e disposição, pude fazer uma viagem tranquila pelo sertão de Minas Gerais. E pude comprovar o que escreveu Guimarães Rosa: “O SERTÃO É DO TAMANHO DO MUNDO”.

 

CORPO DE BAILE – Correções de próprio punho de Guimarães Rosa no texto datilografado.