Amazonas

Nove ex-ministros do Meio Ambiente pedem que europeus ajudem o Amazonas

27 de janeiro de 2021

Documento é assinado também por José Sarney Filho, Marina Silva, Carlos Minc, Edson Duarte, entre outros

 

Reunião dos ex-ministros do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, Edson Duarte, Carlos Minc, Rubens Ricupero, José Sarney Filho, Marina Silva e Izabella Teixeira realizada em 8 de maio de 2020

Reunião dos ex-ministros do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, Edson Duarte, Carlos Minc, Rubens Ricupero, José Sarney Filho, Marina Silva e Izabella Teixeira realizada em 8 de maio de 2020 – Rodrigo Capote/Folhapress

 

Nove ex-ministros do Meio Ambiente enviaram um pedido de ajuda a líderes europeus nesta terça-feira (26) para combater a crise da Covid-19 na Amazônia. Assinam a carta: José Goldemberg, Rubens Ricupero, Gustavo Krause, Izabella Teixeira, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc e Edson Duarte.

O documento foi encaminhado ao presidente da França, Emmanuel Macron, à primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e à primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg. Inicialmente, o texto diz que a “Amazônia brasileira está sendo devastada neste momento por dupla calamidade pública, ambiental e de saúde, que necessita da urgente solidariedade e colaboração de países amigos”. Em seguida, os ex-ministros explicam quais são os principais problemas causados pela Covid-19, em especial no estado do Amazonas (veja a íntegra da carta no fim da reportagem).

“Conhecendo de perto a realidade amazônica, os signatários desta carta, ex-ministros do Meio Ambiente do Brasil, sabem por experiência que nem o governo federal nem os governos locais possuem todos os meios indispensáveis para socorrer as populações mais frágeis e vulneráveis da região”.

“É por esse motivo que nos permitimos dirigir um veemente e emocionado apelo a Vossa Excelência, em favor de imediata ajuda a essas populações, sob a forma de doação de materiais, equipamentos e medicamentos vitais para assegurar a sobrevivência deles, como por exemplo: cilindros de oxigênio, concentrador de oxigênio, usinas de produção de oxigênio medicinal, equipamentos para a instalação de unidades de terapia intensiva, macas, oxímetros, bi-level positive airway pressure (bipap), compressor que infla as vias aéreas superiores (vpap) e remédios usados no tratamento da Covid-19”, escreveram os ex-ministros.

A carta pede, ainda, que os líderes europeus façam uma intermediação com os governos de outros países desenvolvidos para um “urgente pedido de socorro que lhes dirigem os necessitados habitantes das nossas florestas, tão severamente assolados pela pandemia”.

 

Situação do Amazonas

Nesta terça-feira, o estado do Amazonas registrou sua maior marca de mortes por Covid em 24 horas: foram 192, o que levou também a um recorde em sua média móvel de óbitos. Na última semana, morreram por coronavírus em média 139 pessoas por dia no estado. Em maio, no ápice do primeiro pico de Covid-19 no AM, essa média não passou da casa de 70 mortos por dia.

Com falta de oxigênio e lotação nos hospitais, 277 pessoas precisaram ser transferidas para atendimento médico em outros estados. Apenas na noite desta segunda-feira (25), 16 pacientes foram enviados para Recife.

 

Íntegra da carta:

Brasília-DF, 26 de janeiro de 2021.

À Sua Excelência o Senhor EMMANUEL MACRON, Presidente da República Francesa

À Sua Excelência a Senhora ANGELA MERKEL, Primeira Ministra da República Federal da Alemanha

À Sua Excelência a Senhora ERNA SOLBERG, Primeira Ministra do Reino da Noruega

C/C EMBAIXADAS DA FRANÇA, ALEMANHA E NORUEGA

Senhor Presidente e Senhoras Primeiras Ministras,

A Amazônia brasileira está sendo devastada neste momento por dupla calamidade pública, ambiental e de saúde, que necessita da urgente solidariedade e colaboração de países amigos interessados de forma genuína e desinteressada na solução dos problemas amazônicos.

No ano de 2020, a região sofreu aumento sem precedentes do desmatamento e das queimadas florestais, que atingiram cifras não registradas há uma década. Incêndios criminosos, em larga escala, durante o período de estiagem, agravaram enormemente os problemas respiratórios causados pela pandemia da Covid-19, contribuindo para a elevada taxa de óbitos na Amazônia.

Infelizmente, as primeiras semanas do ano de 2021 vêm coincidindo com um colapso do sistema hospitalar que se iniciou por Manaus, capital do estado do Amazonas, já se propaga rapidamente pelo interior desse estado de mais de um milhão de km² e ameaça os demais estados amazônicos. Uma característica particularmente cruel do colapso atual reside na ausência de oxigênio, o que vem provocando a morte atroz por asfixia de centenas de pessoas, às vezes aniquilando famílias inteiras.

Com mais de 30 milhões de habitantes, a Amazônia brasileira sofre de problemas que a tornam especialmente vulnerável à pandemia em razão do isolamento, da pobreza, da estrutura precária de saúde e da dificuldade de acesso. Essa situação se vê agravada pelo padrão de dispersão da população que vive às margens dos grandes rios e dos povos indígenas que habitam áreas ainda mais distantes.

Grande parte dessas populações que estão sendo dizimadas pela pandemia são justamente as detentoras de valiosos conhecimentos tradicionais associados aos recursos naturais. Esses grupos são também os principais guardiões da floresta, da qual necessitam para sua própria sobrevivência e cujo modo de vida e valores culturais os levam a conviver harmoniosamente com a biodiversidade.

Conhecendo de perto a realidade amazônica, os signatários desta carta, ex-ministros do Meio Ambiente do Brasil, sabem por experiência que nem o governo federal nem os governos locais possuem todos os meios indispensáveis para socorrer as populações mais frágeis e vulneráveis da região.

É por esse motivo que nos permitimos dirigir um veemente e emocionado apelo a Vossa Excelência, em favor de imediata ajuda a essas populações, sob a forma de doação de materiais, equipamentos e medicamentos vitais para assegurar a sobrevivência deles, como por exemplo: cilindros de oxigênio, concentrador de oxigênio, usinas de produção de oxigênio medicinal, equipamentos para a instalação de unidades de terapia intensiva, macas, oxímetros, bi-level positive airway pressure (bipap), compressor que infla as vias aéreas superiores (vpap) e remédios usados no tratamento hospital da Covid-19.

Solicitamos igualmente que V. Exa possa se fazer intermediária, junto a outros governos de países desenvolvidos, deste urgente pedido de socorro que lhes dirigem os necessitados habitantes das nossas florestas, tão severamente assolados pela pandemia.

Um gesto efetivo de solidariedade nesta hora dramática jamais será esquecido pelos brasileiros de todas as regiões e se constituirá em mais uma demonstração do compromisso de sua nação com a proteção da floresta amazônica e com o bem-estar de seus habitantes.

Por fim, encaminhamos o link do artigo do The Guardian, como suplemento a esta carta, que retrata de forma verossímil a situação calamitosa do Estado do Amazonas e, em especial de Manaus.

https://www.theguardian.com/world/2021/jan/24/brazil-covid-coronavirus-deaths-casesamazonas-state

Com os respeitosos cumprimentos dos Ex-Ministros do Meio Ambiente do Brasil:

JOSÉ GOLDEMBERG

RUBENS RICUPERO

GUSTAVO KRAUSE

IZABELLA TEIXEIRA

JOSÉ SARNEY FILHO

JOSÉ CARLOS CARVALHO

MARINA SILVA

CARLOS MINC

EDSON DUARTE