Coluna do Meio

8 de março de 2021

Biorreclusão 2021: Covid faz um ano no Brasil

 

O pesadelo mais durável deste século, a pandemia provocada pelo covid-19 ainda está por aqui e ao que tudo indica, por muito tempo ainda ficará. Já passa do primeiro ano, desde o primeiro reconhecido óbito ligado ao vírus no Brasil, que hoje marca o registro de 265 mil mortos no nosso país, que representa apenas 3% da população do planeta, mas 10% das mortes por Covid no mundo.

Um primeiro ano de crescente número de mortes, desconfortos, prejuízos e sofrimentos viscerais e coletivos: um vírus incapaz de sensibilizar a todos. Se de um lado, alguns querem festas, abertura de comércio, “vida normal” que questiona a ciência e os números de vítimas do vírus, de outro, médicos, enfermeiros e gestores estão trabalhando de maneira incessante para conscientizar e incomodar os acomodados diante do colapso do sistema de saúde.

Somado a isso, projetos inacabados de estradas, hospitais, problemas administrativos, ausência de saneamento básico para mais de 135 milhões de pessoas, são contas atrasadas que eclodiram em 2020, diante da real necessidade de lavar as mãos e ficar em casa. Uma corrida desenfreada para aprovar projetos de lei, disponibilizar recursos, auxílio emergencial, fechar escolas, ajudar o comércio.

A dicotomia foi posta quando a paradoxal tensão entre a vida e a economia colide num sistema capitalista, cuja vida é medida pelo valor de mercado do indivíduo. “não é possível viver sem dinheiro”, dizem os defensores do neoliberalismo. De outro lado, percebe-se não ser possível fazer dinheiro sem vida. Seriam as pessoas tão descartáveis quanto máscaras?

O Estado Democrático de Direito (re) existe em meio a uma pandemia premiada com discursos autocráticos de condução a um genocídio, em que é preciso revelar, dentre os conselhos letais, as condenações da história. Alguma semelhança no comportamento dos idosos tratados como fugitivos por saírem de casa para tomar um sol e respirar, no duelo sobre quem pode ou não dizer o que é apropriado neste momento. Nós, ou a ciência, com resultados e pesquisas realizadas ao longo de décadas, com bancos de pesquisas e diversos resultados que leigos sequer imaginavam existir.

A essa altura, todo mundo já tem algum conhecido ou familiar que foi infectado. Alguém que já não está mais entre nós. Os que ficaram com sequelas, umas mais graves, outras nem tanto. Aqueles que tiveram falta de ar e os sintomas persistem há meses. Transtornos, ansiedade, medo, isolamento, fome, miséria. Aqueles que não sabem sequer pedir ajuda, por que parece bobo demais ou se não mata, fortalece.

No novo normal, o que se repete em meio ao desassossego é o desejo de que esse vírus vá embora. Enquanto isso ligue seu microfone está desligado. Você esqueceu sua máscara. Precisamos auferir sua temperatura. Quero te abraçar. Sinta-se abraçada. Vamos ligar a câmera. Saudade. Saudade. Saudade. Aceita álcool em gel?