COVID-19 E ESGOTOS

Coronavírus: carga viral no esgoto de Belo Horizonte

1 de março de 2021

Estudo aponta que carga viral ainda está em patamar semelhante ao verificado entre o fim de 2020 e o início de 2021 e é cerca de 50% superior à carga observada no mês mais crítico da pandemia na capital mineira.

Da redação

A relação entre esgoto e coronavírus ainda está sendo pesquisada. Com o surgimento do vírus SARS-CoV-2 no final de 2019 e a sua rápida disseminação pelo mundo, diversos estudos estão sendo feitos para entender melhor o vírus e tudo que se relaciona a ele. Desta forma, estudos estão surgindo e indicando a relação entre esgoto e coronavírus, ou seja, a possibilidade do vírus ser excretado nas fezes de pessoas contaminadas.

 

FEZES E CORONAVÍRUS

Uma pesquisa publicada recentemente na revista The Lancet, estudou os vírus SARS-CoV e MERS-CoV. Estes dois vírus também são da família coronavírus e responsáveis por infecções respiratórias. Os dados apresentados indicam que uma parte significativa das pessoas infectadas com tais vírus, apresentaram sintomas gastrointestinais, como diarreia.

Além disso, foi detectada a presença de RNA dos vírus SARS-CoV e MERS-CoV nas fezes de parte das pessoas contaminadas.

Um outro estudo, realizado em um hospital de Zhuhai, na China, avaliou, utilizando a técnica de RT-PCR, a presença do vírus em 74 amostras fecais e respiratórias de pacientes contaminados com o vírus. Destes, 45% tiveram resultados negativos nas amostras fecais e positivos nas respiratórias. Enquanto os outros 55% tiveram resultados positivos tanto nas amostras fecais como nas respiratórias.

Um outro dado importante é em relação ao tempo em que o vírus foi detectado nas amostras fecais. Nas amostras respiratórias ele foi detectado por de 15 a 16 dias, enquanto nas fecais por cerca de 27 dias. Ou seja, mesmo após o desaparecimento do vírus nas vias respiratórias, ele continuou sendo excretado nas fezes.

 

ESGOTO E CORONAVÍRUS

O estudo que avaliou presença de SARS-CoV e MERS-CoV em fezes de pessoas contaminadas, também trouxe dados que apoiam a hipótese de transmissão fecal-oral, uma vez que tais vírus são viáveis em condições ambientais. Dois hospitais de Pequim, que tratavam pacientes contaminados com o vírus SARS-CoV, encontram o RNA do vírus em seus esgotos.

Desta forma, considerando a capacidade dos outros dois coronavírus estudados serem excretados nas fezes, e permanecerem viáveis em condições ambientais que favorecem a transmissão fecal-oral, existe a possibilidade do SARS-CoV-2 ser transmitido por este meio.

 

FIOCRUZ TAMBÉM PESQUISA

Um estudo iniciado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a prefeitura de Niterói/RJ, está avaliando a presença de material genético do vírus SARS-CoV-2 em esgotos da cidade. Os testes estão sendo realizados através da técnica de RT-PCR, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A primeira coleta foi realizada em 12 pontos e 5 destes tiveram resultados positivos, sendo detectado material genético do vírus. Vale ressaltar que ainda não existem evidências da transmissão fecal-oral. Embora tenha sido detectado RNA viral nas amostras, não há evidências da possibilidade deste vírus infectar outras pessoas após ser excretado nas fezes.

 

UFMG EM BELO HORIZONTE

 

A carga viral (quantidade de cópias do vírus) detectada nas amostras de esgoto oriundo de Belo Horizonte (MG) voltou a subir nas duas primeiras semanas de fevereiro, segundo o Boletim de Acompanhamento nº 31 do projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos. A quantidade de cópias do vírus detectada nas coletas entre 1º e 12 de fevereiro foi de cerca de 28 trilhões de cópias por dia. Isso equivale a aproximadamente 50% acima da carga observada no mês mais crítico da pandemia na capital mineira, julho de 2020, quando foram registradas 18 trilhões de cópias.

 

Segundo o Boletim nº 31, o aumento da carga viral em Belo Horizonte pode estar relacionado à retomada gradativa de atividades não essenciais a partir de 1º de fevereiro na cidade. “Sendo assim, cumpre reforçar a importância de medidas de prevenção e controle, tal como o isolamento social, para redução da disseminação do vírus no município”, alerta o documento.

Veja o gráfico:

 

Levando em conta a metodologia adotada a partir do Boletim 29, a estimativa da população infectada passa a ser considerada por faixas mínima, média e máxima. Nesse sentido, o Boletim de Acompanhamento nº 31 estima que a população total infectada em Belo Horizonte seja respectivamente de 170, 230 e 315 mil pessoas com base nas faixas.

Abaixo, veja o gráfico que ilustra a variação do equivalente populacional para um mesmo valor de carga viral, de acordo com tais critérios:

 

Os resultados das amostras de esgotos coletadas durante todo o projeto estão acessíveis no Painel Dinâmico Monitoramento COVID Esgotos (dashboard) em: https://bit.ly/dashboard_covid_esgotos.

 

 

SOBRE O PROJETO-PILOTO

O projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos tem o objetivo de monitorar a presença do novo coronavírus nas amostras de esgoto coletadas em diferentes pontos do sistema de esgotamento sanitário das cidades de Belo Horizonte e Contagem, inseridos nas bacias hidrográficas dos ribeirões Arrudas e do Onça. Assim é possível gerar dados para a sociedade e ajudar gestores na tomada de decisão.

O trabalho é fruto de Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado entre a ANA e o INCT ETE Sustentáveis/ UFMG. Com a continuidade dos estudos, o grupo pretende identificar tendências e alterações na ocorrência do vírus nas diferentes regiões analisadas para entender a prevalência e a dinâmica de circulação do vírus.

Os pesquisadores participantes no estudo reforçam que não há evidências da transmissão do vírus através das fezes (transmissão feco-oral) e que o objetivo da pesquisa é mapear os esgotos para indicar áreas com maior incidência da doença e usar os dados obtidos a partir do esgoto como uma ferramenta de aviso precoce para novos surtos, por exemplo.

Com os dados obtidos, é possível saber como está a ocorrência do novo coronavírus por região, o que pode direcionar a adoção ou não de medidas de relaxamento consciente do distanciamento social. Também pode possibilitar avisos precoces dos riscos de aumento de incidência da COVID-19 de forma regionalizada, embasando a tomada de decisão pelos gestores públicos.