Reúso de Água Potável
1 de março de 2021Pedro Mancuso fala sobre o livro e explica a questão da pandemia do COVI-19 e o tratamento de esgoto sanitário.
O livro será lançado durante o Seminário “Segurança Hídrica e Reúso de Água”. O evento será realizado de forma on line no dia 23, das 10h00 às 11h30.
Nas comemorações pelo Dia Mundial da Água, será lançando dia 23 de março, em São Paulo, o livro “Reúso de Água Potável como estratégia para a escassez”. O livro não deixa de contemplar também o que talvez seja o principal fato dos últimos anos: a pandemia da Covid-19. Ele conta com um capítulo dedicado à abordagem das consequências dessa doença para o tratamento do esgoto sanitário.
O uso da água disponível em regiões de grandes concentrações urbanas, para o abastecimento público, é uma questão premente nos dias atuais. Sobretudo com a constante expansão das regiões metropolitanas, já que as reservas de água potável nessas áreas não suportam esse crescimento, o que leva a crises periódicas de abastecimento.
Reúso de água como estratégia para a escassez trata desse assunto, que conta com um número cada vez maior de defensores, abordando seus principais aspectos e as mais atuais tecnologias empregadas no reúso de água potável, apontando inclusive para perspectivas de futuro nessa área. Alguns dos principais pontos discutidos na obra são:
- Reúso potável direto
- Poluentes associados aos rios urbanos
- Riscos associados à prática do reuso
- Escassez de água e saneamento
- Bacias hidrográficas
- Manejo de águas pluviais
- Sistema público de esgotos
- Processo de separação por membranas
- Carvão ativado
- Processos oxidativos avançados
- Ozonização
- Aeração por nanobolhas
- Plano de segurança da água (PSA)
PEDRO CAETANO SANCHES MANCUSO
ENTREVISTA
O livro “Reúso de Água Potável como Estratégia para a Escassez” tem como editores o prof Dr. Pedro Caetano Sanches Mancuso (foto), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; o prof Dr. José Carlos Mierzwa, da Escola Politécnica da USP; Alexandra Hespanhol, do Centro de Referência em Segurança da Água, Cersa, da Faculdade de Saúde Pública da USP; e o prof Dr Ivanildo Hespanhol Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (in memoriam).
Folha do Meio – Quais são as diferenças entre seu primeiro livro Reúso de Água publicado em 2002 e este, lançado neste ano de 2021?
Pedro Mancuso – O lançamento do primeiro livro se deu em uma época onde o tema, reúso de água era absolutamente desconhecido, tanto na área acadêmica como na área de engenharia e saneamento propriamente dita. Assim sendo, houve necessidade de um ‘desbravamento” do tema onde os capítulos foram concebidos de forma a apresentarem os vários processos, até então empregados para tratamento de águas poluídas visando unicamente seu descarte no meio ambiente, e agora com vistas à sua reutilização nas mais variadas atividades humanas.
FMA – Mas já se foram duas décadas…
Pedro Mancuso – De fato, se passaram 19 anos. Esta nova obra se dá em um outro contexto. Como seu título sugere “Reúso de Água Potável como Estratégia para a Escassez” ela surge espontaneamente após a crise hídrica que assolou a região Metropolitana de São Paulo entre 2014 e 2015. Assim, os diversos capítulos foram concebidos por cientistas e profissionais, expoentes no âmbito de tratamento, potabilidade e reúso de água, trazendo uma visão atualizada sobre o reúso de água como parte da solução para escassez de água.
Nessas condições, ele traz algumas importantes abordagens e atualizações tecnológicas voltadas não só para tratamento de água, mas também para análise de riscos. Além disso, contempla temas atualíssimos como a de existência de COVID-19 em esgotos sanitários em bacias hidrográficas urbanas.
Com vistas à questão do risco, dedica um capítulo inteiro para os Planos de Segurança da Água, atualmente uma obrigação legal.
FMA – Existem também as novas tecnologias.
Pedro Mancuso – Verdade. E como parte de experimentação de campo, é apresentada uma tecnologia extremamente atual recentemente testada da recuperação do rio Pinheiros: aeração por nanobolhas.
O seu último capítulo é dedicado ao estudo de casos reais do emprego de reúso potável e no Brasil e no exterior, como forma de enfrentamento de episódios de crises hídricas.
Por fim, mas não menos importante, os editores da obra – Prof. Dr. José Carlos Mierzwa, a senhora Alexandra Hespanhol e eu – dedicamos este segundo livro in memoriam ao saudoso cientista prof. Dr. Ivanildo Hespanhol, precursor de importantes pesquisas em reúso de água na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
FMA – O senhor cita a questão do COVID-19 em esgotos domésticos. Esta é atualmente a grande ameaça para reúso potável de água?
Pedro Mancuso – Naturalmente, a existência de vírus em efluentes domésticos é uma preocupação; porém, não a única. Inúmeros patógenos podem existir em efluentes domésticos ou mesmo em mananciais.
O importante, além da identificação da existência de patógenos nas possíveis fontes de água, é utilizar tecnologias que podem neutralizar e/ou eliminar estes patógenos e outros compostos orgânicos, ou inorgânicos, que sejam prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, como por exemplo, a separação por membranas e a aeração por nanobolhas. Esta última, resultado de pesquisa coordenada por mim no Centro de Apoio à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, é apresentada em um capítulo específico.
FMA – Essa pesquisa é apresentada no livro? O Sr. poderia explanar sobre esta pesquisa?
Pedro Mancuso – O capítulo terceiro do livro refere-se a essa pesquisa. Seu objetivo foi testar a tecnologia de utilização de nanobolhas de ar para recuperação da qualidade de água de rios superficiais contaminados.
Um sistema piloto de tratamento, foi instalado junto a um corpo hídrico superficial bastante poluído. Esse equipamento operou durante oito meses, trabalhando durante oito horas por dia.
FMA – Qual a diferença entre nanobolhas e macrobolhas?
Pedro Mancuso – Interessante, isso. Ao contrário do que possa ser imaginado, as nanobolhas de ar têm comportamento notadamente diferente de micro e macrobolhas. Além delas manterem-se no meio aquoso por um tempo muito superior, quando comparado a micro e macrobolhas, deslocam-se em movimento aleatório denominado Movimento Browniano. Por fim apresentam carga elétrica na sua superfície, conseguindo elevar o nível de oxigênio dissolvido no meio aquoso, acima do seu ponto de saturação. Esse fato é responsável pela alta capacidade de oxigenação da água.
FMA – Quais foram os resultados desta pesquisa?
Pedro Mancuso – Os resultados atingidos, foram: Diminuição dos sólidos totais e não formação de lodo; Taxas de dissolução de oxigênio acima do ponto de saturação; Aumento imediato do potencial de oxirredução.
É importante citar que, em termos de qualidade de água tratada alguns parâmetros têm resultados imediatos. São eles: remoção de odores, oxigenação, remoção de sólidos totais e remoção de turbidez. Essas são características estético sanitárias altamente desejáveis para os rios urbanos.
FMA – De que forma o senhor avalia que esse livro pode contribuir para o emprego do reúso de água potável como estratégia no combate à escassez de água em regiões altamente urbanizadas?
Pedro Mancuso – O desenvolvimento de todos os capítulos do livro foi feito no sentido de desmistificar a questão do reúso potável de água. O conhecimento popular aponta para a crença de que o reúso potável indireto, ou seja, onde esgoto tratado é lançado nos rios ou nos lagos para posterior captação e tratamento é seguro. Por outro lado, o reúso potável direto onde o esgoto tratado é conduzido a uma estação de potabilização sem passar pela “natureza”, é menos seguro.
A desmistificação refere-se a este particular. As empresas de saneamento sabem que rios e, em menor forma lagos, tem qualidade de água extremamente oscilante em função de chuvas e lançamentos clandestinos. Isso inviabiliza o projeto e a operação segura de tais estações.
Por outro lado, ao se usar esgoto tratado como a “matéria prima” das estações de potabilização, conhece-se perfeitamente sua qualidade anulando oscilações qualitativas e quantitativas. E isso faz toda a diferença nos projetos e operações dessas unidades.
FMA – Quais outras novidades o livro traz?
Pedro Mancuso – Sim, o livro também introduz o conceito de Atenuantes Ambientais. Essa metodologia emprega um corpo de água superficial intermediariamente entre o esgoto tratado e a unidade de potabilização. Em última análise Atenuantes Ambientais são corpos de água onde todas, absolutamente todas variáveis intervenientes ficam sob controle da operadora. Nessa concepção, a segurança é total. Não existe oscilações.
Para finalizar é necessário que se diga que o reúso de água potável é apenas uma estratégia para o enfrentamento da escassez de água. Evidentemente, a impotência dos órgãos ambientais na contenção do processo de ocupação desordenada e não planejada no entorno dos mananciais urbanos, particularmente dos grandes centros, é a causa primária do problema.
FMA – Quando o livro será lançado?
Pedro Mancuso – O nosso trabalho está dentro das comemorações do DIA MUNDIAL DA ÁGUA, em 22 de março agora. Mas o lançamento, por circunstâncias de oportunidade e logística, será lançado dia 23 de março. O livro está sendo produzido pela Editora Manole, São Paulo, e será lançado durante o seminário “Segurança Hídrica e Reúso de Água”. O evento será realizado de forma on line no dia 23, das 10h00 às 11h30.