meio ambiente

Cachalote que encalhou na costa do AP é enterrada para que ossada seja exposta em museu

15 de junho de 2021

Iepa, Mamirauá e ribeirinhos atuam na região para proteger material, que também pode ser usado para estudo. Encalhe do animal foi confirmado na sexta-feira (11).

Por Fabiana Figueiredo e Joy Silva, G1 AP — Macapá

 

Cachalote que encalhou na costa do Amapá foi enterrada para que ossada seja exposta em museu — Foto: Iepa/Divulgação

Cachalote que encalhou na costa do Amapá foi enterrada para que ossada seja exposta em museu — Foto: Iepa/Divulgação

 

A cachalote encontrada encalhada na costa passou a integrar o acervo do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa). A intenção é utilizar o material para estudos e também expor a ossada em um museu de Macapá. Para isso, a cachalote foi enterrada na região onde foi achada.

Esse foi o primeiro registro oficial de encalhe desta espécie na costa amapaense, segundo o Instituto Mamirauá, que acompanha o trabalho, realizado em conjunto com moradores da região.

Foram os próprios ribeirinhos que avistaram o animal há uma semana, no dia 8, próximo ao arquipélago do Bailique e acionaram os especialistas. O encalhe foi confirmado na sexta-feira (11) e, desde então, iniciou-se a mobilização para proteger o achado e planejar o que seria feito.

“Como ainda tem muitas partes de tecidos, gordura do próprio animal, a gente precisa retirar isso. Então a gente o colocou numa vala rasa para que a própria terra vá decompondo esses tecidos naturalmente. Então daqui a 4, 6 meses, a gente só vai ter os ossos. E aí a gente retira esses ossos, faz a contagem, traz para Macapá, e depois são limpos, preparados para serem montados”, explicou o diretor de pesquisas do Iepa, Alan Kardec.

O animal encontrado na costa do Amapá é de aproximadamente 10 metros de cumprimento, de sexo não identificado e já foi achado em avançado estado de decomposição. Não se sabe ainda como ele parou na região. A cachalote é um grande cetáceo, como um golfinho, e se difere da baleia justamente por ter dentes.

Conforme o Iepa, a área do encalhe na região costeira é de difícil acesso. Por isso, os próprios ribeirinhos, que já atuavam em colaboração com o Instituto, realizaram a remoção do animal e o enterro das peças no domingo (13) e na segunda-feira (14).

Cachalote encalhou na costa do Amapá e foi avistada por ribeirinhos — Foto: Instituto Mamirauá/Divulgação

Cachalote encalhou na costa do Amapá e foi avistada por ribeirinhos — Foto: Instituto Mamirauá/Divulgação

 

De acordo com a bióloga Danielle Lima, membro do Mamirauá, o resgate das ossadas é um ponto positivo para estudos, uma vez que o Amapá tem poucas informações sobre o encalhe de grandes cetáceos.

“A gente já tem a informação de outros encalhes, mas é a primeira vez que registramos o aparecimento de um cachalote, que a gente consegue ter acesso a material biológico”, declarou a bióloga.

Apenas outros dois casos de encalhe foram registrados oficialmente na mesma região, um em 2009 e outro em 2018. O mais recente foi de uma baleia-jubarte, cuja ossada foi removida do local e também integra o acervo do Iepa para ser exibida em breve.

 

Imagem de satélite mostra onde animais que integram o acervo do Iepa foram achados encalhados: no ponto amarelo, a localização da cachalote em 2021; e mais abaixo, no ponto vermelho, a baleia-jubarte em 2018 — Foto: Acervo/Iepa

Imagem de satélite mostra onde animais que integram o acervo do Iepa foram achados encalhados: no ponto amarelo, a localização da cachalote em 2021; e mais abaixo, no ponto vermelho, a baleia-jubarte em 2018 — Foto: Acervo/Iepa

 

Pesquisadora do Iepa, Valdenira Ferreira explica que os encalhes da cachalote e da baleia-jubarte, apesar de terem sido em locais distantes um do outro, ocorreram numa área extremamente rasa, com variações de marés muito rápidas.

“A hipótese é que eles não consigam sair a tempo da zona. Existem várias outras hipóteses, mas dentro do que a gente imagina é isso. É preciso pesquisar para saber o que realmente está acontecendo. O que a gente pode dizer é que essa é uma zona extremamente rasa, com altas variações de maré e que pode ser um local propício ao encalhe de animais. Isso é algo que merece ser investigado”, pontuou a pesquisadora.

Até agora, a operação da cachalote já custou quase R$ 8 mil. Mas a montagem é a etapa mais trabalhosa e também a mais cara.

“A intenção do Iepa é ter uma coleção geológica, coleção de ossos, que fica aberta para visitação. O importante desse achado é que nós só temos duas dessas montadas a nível de Brasil, sendo uma no Ceará e outra no Piauí. Podemos ser os primeiros a ter uma baleia-jubarte e uma cachalote montadas no mesmo ambiente. Isso para a ciência é muito importante porque serve para estudos”, destacou Kardec.