QUINTA DA BOA VISTA

História da expansão urbana

1 de junho de 2021

Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, ontem e hoje.

Silvestre Gorgulho

Para entender a expansão urbana, fui visitar a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Queria entender um pouquinho como nasceu esse Parque Municipal, em São Cristóvão, bairro da cidade que foi capital do Brasil e em 1808 recebeu a Corte de D. João VI. É bom lembrar: até 1815, o Brasil foi tão-somente uma colônia de Portugal. Daquele ano em diante, até 1822, quando seria proclamada nossa independência, passamos a carregar o título de Reino Unido a Portugal e Algarves. “Essa mudança de status esteve intimamente relacionada à mudança da Corte lusitana para o Brasil e ao Congresso de Viena. Com a chegada da família real no Brasil criara-se uma situação invertida: o príncipe regente de Portugal, d. João VI, reinava sobre os domínios lusitanos não a partir da metrópole, mas, sim, da colônia. Mas com a elevação do Brasil à condição de reino unido, d. João passou a atender pelo título de “Príncipe Regente de Portugal, Brasil e Algarves, daquém e dalém mar em África, senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”.

A história da Quinta da Boa Vista é interessantíssima. Tudo começou com uma fazenda dos padres Jesuítas, no século 16. Com a expulsão dos Jesuítas, em 1759, a área foi toda desmembrada e ocupada por particulares.

Em 1800, o comerciante e traficante de escravos português Elias Antônio Lopes construiu um casarão sobre a colina, que tinha uma boa e bela vista para a Baia de Guanabara.

O casarão foi doado à Família Real, em 1808, quando da vinda da Corte de d. João VI para o Brasil. A área era alagadiça e de difícil acesso, mas foi aos poucos aterrada e ocupada. Hoje a Quinta da Boa Vista funciona como um parque abrigando o Jardim Zoológico, Museu Nacional, guardando ainda características dos jardins do paisagista francês Auguste Glaziou.

 

GRANDE REFORMA

O arquiteto inglês John Johnston, foi o encarregado da reforma na Quinta da Boa Vista. Além da reforma do paço, ele instalou um portão monumental na entrada, presente de casamento do general Hugh Percy, 2° Duque de Northumberland. Atualmente, o objeto histórico está na entrada principal do zoológico da Quinta da Boa Vista.

 

É interessante notar a semelhança entre a Quinta da Boa Vista nesse período pós reforma com o Palácio da Ajuda, em Lisboa. A obra portuguesa ficou inacabada devido a invasão dos franceses e fuga da Família Real para o Brasil. Quinta da Boa Vista: Palácio da Ajuda (em cima) e Quinta da Boa Vista (embaixo) têm várias semelhanças entre si

Em 1822, após a Independência do Brasil, a Quinta da Boa Vista passou por outra reforma significativa. Dessa vez, o projeto do Paço Imperial foi do arquiteto português Manuel da Costa (1822-1826), que posteriormente foi substituído pelo francês Pedro José Pézerát (1826-1831), creditado como autor do projeto do estilo neoclássico da Quinta da Boa Vista.

 

Quinta da Boa Vista em torno de 1840 a 1853: gravura de Karl Robert Barton von Planitz

 

A Quinta da Boa Vista foi residência da família real até a Proclamação da República, em 1889. Por isso, Dom Pedro II também deu seus pitacos em reformas na Quinta da Boa Vista, principalmente no que diz respeito ao paisagismo. O Imperador contratou os serviços do francês Auguste François Marie Glaziou, que realizou um trabalho que pode ser visto até hoje, como a Alameda das Sapucaias, pontes, cascatas e lagos. É bom lembrar que o paisagista Auguste Glaziou foi o primeiro a projetar o Lago Paranoá, em Brasília, quando esteve na região acompanhando a segunda Missão Louis Cruls, em 1904).

OCUPAÇÃO DA ÁREA E A EVOLUÇÃO URBANA

Mas melhor do que falar sobre a Quinta da Boa Vista, é ver em sequência de desenhos e fotos a evolução e expansão urbana sobre a área até os dias de hoje. Vale a pena conferir.

A primeira imagem é de 1808, quando a família imperial chega ao Brasil. A segunda imagem é de 1840, já com algumas reformas, pois era a residência oficial da família Imperial.

A terceira imagem é de 1920 e, a terceira, de 1950 quando já havia sido construído o estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de 1950. A quarta imagem, para melhor comparação, é de 1808, como D. João VI a encontrou. A última foto é recente (2008) e todas elas obedecem o mesmo enquadramento.

Esta é a imagem da Quinta da Boa Vista, em 1808, quando Dom João VI chega ao Rio de Janeiro.

Esta segunda imagem é de 1840, já como residência oficial da família Imperial.

A terceira imagem é de 1920.

Esta quarta imagem é de 1950 quando a região estava urbanizada. Dom Pedro II salvou a Quinta da Boa Vista com o projeto paisagístico de Auguste Glaziou que fez o grande parque urbano.

A quinta imagem é de 2008, uma foto abrangente do bairro de São Cristovão que tem pega toda a Quinta da Boa Vista com seus 155 mil metros quadrados.