Biodiversidade do Santuário do Caraça atrai a atenção de pesquisadores
8 de julho de 2021Com mais de 10 mil hectares de área, a Reserva Particular do Patrimônio Natural faz parte da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, com diversas espécies endêmicas de fauna e flora; biólogo que integra o setor ambiental da reserva, desenvolveu um projeto de mestrado, ficando 120 dias em campo e 80 noites acampado, entrando em riachos e brejos durante a noite para pesquisar os anfíbios da região
O Santuário do Caraça atrai turistas de todas as partes do mundo atraídos por toda a riqueza cultural, histórica, religiosa, gastronômica e ambiental. E alguns dos visitantes chegam até a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com o objetivo de conhecer mais a fundo sobre tudo o que aquela imensidão de verde, montanhas, rios e cachoeiras guarda. Pesquisadores de todo o Brasil, e até de outros países, se dedicam a investigar as espécies de plantas e animais que são encontradas apenas naquela região, que entrou para a história como o cenário que encantou o Imperador Dom Pedro II quando lá esteve, imortalizando a frase: “Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”.
O famoso lobo-guará, que costuma aparecer no Santuário do Caraça, desde 1982, para se alimentar no início da noite, é apenas um dos diversos tipos de animais que habitam aquela porção do paraíso. Menos conhecida, desde 2015 a anta também tem presença constante nos arredores da construção do Santuário e vez ou outra aproveita a oportunidade para fazer um lanche. Há ainda ocorrências de jaratatacas, cachorros do mato, além de vários insetos, aves, répteis e anfíbios.
Há diversos trabalhos publicados e em desenvolvimento sobre as espécies endêmicas do Caraça. Em 2018, o então diretor da RPPN, Padre Lauro Palú, citou em um texto que o Dr. Renner Luiz Cerqueira Baptista, do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tinha catalogado cerca de 250 espécies de aranhas na região. Ele ainda mencionou que o Instituto Butantan, em São Paulo, tem uma lista com mais de 80 aracnídeos encontrados no Santuário do Caraça.
Para preservar a biodiversidade e entender as peculiaridades da flora e fauna da região, o Santuário do Caraça possui um setor ambiental, que conta com uma equipe composta por um guarda-parque, engenheiro ambiental, monitores e um biólogo. Inclusive, o profissional da área da biologia que integra o quadro de colaboradores da RPPN, Douglas Henrique Silva, é também pesquisador e tem o Santuário do Caraça como foco de uma importante investigação.
O projeto de mestrado do biólogo Douglas Henrique Silva teve como objetivo entender a distribuição das espécies de anfíbios predominantes no Santuário do Caraça ao longo de um gradiente de altitude. “Os pontos de coletas, que eram riachos e brejos, estavam entre as altitudes 1300 a 2070 m. Eu andava dentro dos córregos no período noturno, ficava uma hora procurando os anfíbios ao longo do curso d’água. Em um ano, foram 120 dias de trabalho de campo e cerca de 80 dias acampado”, relata o pesquisador, que se dedicava 10 dias por mês no desenvolvimento do trabalho, focado nos picos do Sol e Inficionado, onde passava três noites em cada local.
O biólogo relata que, ao longo dos 12 meses, foram registradas e coletadas 13 espécies de anuros, grupo de anfíbios composto por sapos, rãs e pererecas. “Com os dados levantados, cheguei a conclusões interessantes. O Pico do Sol abriga 12 espécies de anuros, sendo 41% exclusivas. O Pico do Inficionado apresenta oito espécies, sendo 12,5% exclusivas. Os dois picos compartilham 53,85% das espécies registradas. A bokermannohyla martinsi foi a espécie mais frequente e ocorreu ao longo de todo gradiente altitudinal, enquanto as demais espécies ocorreram apenas em determinadas cotas de altitude, demonstrando clara preferência de algumas espécies por cotas definidas”, explica.
Para o biólogo, ainda há muito o que ser investigado e descoberto. “O Santuário do Caraça fica na transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, onde também há campos rupestres. Em suas serras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão. E neste cenário, animais e plantas que se adaptaram às condições que só o Santuário do Caraça tem”, conclui.
A RPPN Santuário do Caraça foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no ano de 1955, quando passou a fazer parte do rol de bens tombados pela União. Também integra a área destinada às Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, reconhecidas pela UNESCO em 2005.
O passado histórico da RPPN – Santuário do Caraça é peculiar, pois uma área excepcional de 12.403 hectares foi mantida em posse de apenas dois proprietários, o Irmão Lourenço de Nossa Senhora e a Congregação da Missão, por mais de 240 anos. A área da Reserva foi constituída pela fusão de quatro propriedades: a original, adquirida pelo Irmão Lourenço por volta de 1770, na qual se acham as edificações principais do Caraça; a Fazenda da Chácara, comprada em 1823, cuja antiga sede não mais existe e que foi, durante muito tempo, o celeiro do Colégio, no antigo caminho de Catas Altas; a Fazenda do Engenho, comprada em 1858, localizada nas proximidades da Portaria de acesso à Reserva; e a Fazenda do Capivari, doada pelo Coronel Manoel Pedro Cotta e por sua esposa, que, por não terem descendentes, legaram sua propriedade ao Caraça em 1870.
Santuário do Caraça
Local: Estrada do Caraça, Km 9 – Entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara – CEP 35960-000
Fácil acesso pelas rodovias BR 381 e MG 436, além do cômodo acesso por trem (Estação Dois Irmãos – Barão de Cocais)
Instagram: @santuariodocaraca
Facebook: https://www.facebook.com/santuariocaraca/
Site: https://www.santuariodocaraca.com.br