Mudanças climáticas e a responsabilidade das empresas
18 de agosto de 2021Sem espaço para negacionismo, especialista em Direito Ambiental chama à atenção para práticas de governança social e ambiental (ESG) nas empresas
Às vésperas da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas, que será realizada entre os dias 1 e 12 de novembro deste ano, em Glasgow, na Escócia, a divulgação do 6º relatório do IPCC revela o que todos já sabiam: aumentaram as emissões de gases de efeito estufa, o planeta continua aquecendo e os responsáveis são os humanos. Alguns efeitos já são irreversíveis e os eventos climáticos deste ano confirmam essas alegações.
Só no estado do Paraná, as geadas reduziram em 58% a produção de milho, além disso, o café teve a maior quebra de safra em 27 anos e a cana-de-açúcar do estado de São Paulo é colhida precocemente por causa da estiagem. Sinais claros de que os eventos climáticos extremos se apresentam cada vez com mais intensidade.
Advogada e especialista em Direito Ambiental Samanta Pineda, também sócia do escritório Pineda & Krahn chama à atenção para os eventos recentes: “Temos uma sequência de eventos climáticos extremos como as chuvas que foram mostradas na Alemanha, alagamentos na China e grandes secas no Brasil”. Diante disso, ela também observa: “Do ponto de vista empresarial, para quem calcula riscos, fala em governança, em retorno financeiro, em previsões de crescimento, não tem mais espaço para teoria negacionista em torno das mudanças climáticas.”
E neste mês, incêndios de tamanhos recordes tem assustado moradores de diferentes países, com Estados Unidos e Turquia, o que requer ainda mais essa precaução num todo. “Existe um movimento das empresas em entender que o consumidor está de olho nos processos produtivos, nos produtos que não são testados em animais, de olho nas empresas que tem um selo verde (vários foram criados). Essa mudança faz com que as companhias se preocupem e apresentem os seus relatórios de sustentabilidade”, reforça Samanta sobre essa tendência mundial.
A especialista em Direito Ambiental diz que mesmo com a retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris, quando Donald Trump governava o país, 86% das grandes empresas norte americanas publicaram relatório de sustentabilidade e, agora com o retorno ao grupo, essa consciência e ações sustentáveis tendem a crescer mais. “A gente percebe que o empresariado mundial mudou”, comemora Samanta Pineda.
Relatórios de Sustentabilidade, o ESG e o Greenwashing
Os ativos ESG podem ultrapassar US$ 53 trilhões globalmente até 2025, segundo analistas da Bloomberg Intelligence. De olho nas alterações ambientais e abraçando a ideia de que também é possível lucrar com a preservação, empresas tradicionais deixam de lado o ceticismo. “Ninguém mais fala que não existe mudança climática, pode até acreditar nisso, mas precisa preparar a empresa para as alterações climáticas, mitigar riscos que pairam sobre os sistemas de produção, aperfeiçoar as tecnologias, programar práticas de prevenção dos prejuízos que os eventos climáticos podem gerar para o seu negócio, explica Samanta e completa: “Logo, os relatórios de sustentabilidade são cada vez mais comuns e provocaram um fenômeno nas empresas, que é a integração de dados.”
As companhias mudaram também suas próprias interfases ao direcionar o olhar para questões ambientais. “O financeiro precisa falar com o agrícola ou a produção precisa falar com o comercial. Os departamentos que não tinham essa relação, agora precisam ter em função dos relatórios de sustentabilidade. É aí que começa o movimento ESG na empresa. Quando todos conversam sobre esse tema, acontece a mudança de mentalidade.”
Para que as empresas consigam fazer e respeitar o relatório de sustentabilidade, os princípios do ESG (Governança Social e Ambiental) precisam ser seguidos à risca, do contrário, práticas de Greenwashing – “discursos verdes” que na realidade não são colocados em prática, ou ações “maquiadas” para se parecerem sustentáveis – colocam em risco toda uma cadeia produtiva séria e sustentável.
Só por causa dessa prática, o mercado europeu para investimentos sustentáveis encolheu em US$ 2 trilhões entre 2018 e 2020 depois da introdução de regras contra o chamado Greenwashing, segundo dados da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA).
“Quando uma consultoria diz que está executando um projeto e não está, quando uma empresa apenas finge que abraça ações sustentáveis, não estão sendo lesados apenas a empresa e seus consumidores, mas todo o planeta”, alerta Samanta.
Sobre Samanta Pineda
Advogada atuante especialista em Direito Socioambiental, habilitada como Coordenadora de Gestão Ambiental pela DGQ da Alemanha, Professora de Direito Ambiental no MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e de Brasília, no INSPER/SP, na Fundação Escola Superior do Ministério Público do RS e no Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio IBDA (Faculdade CNA) de Brasília. Palestrante requisitada em todo o país sobre temas relacionados à sustentabilidade, possui diversos artigos publicados, além de ser colaboradora da Revista Exame. Samanta também é colunista do Jornal TerraViva e apresentadora do programa Ação Sustentável no canal Agromais do Grupo Band. Sócia fundadora do escritório Pineda e Krahn Sociedade de Advogados.