Pesquisa inédita mostra que no Brasil a recuperação energética evita 96% de lixo a aterros e impede 91 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera
18 de agosto de 2021Recuperação energética é a solução mais eficaz para a mitigação dos gases de efeito estufa do lixo urbano
O 6º Relatório (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) teve o relatório do seu 1º Grupo de Trabalho publicado esta semana, indicando enorme preocupação com aquecimento Global e suas já importantes consequências em diversas ocorrências nestes últimos meses, como incêndios florestais, inundações e elevação da temperatura e do nível do mar, apontando que o planeta terra aquecerá 1,5 graus até 2040, com fortes efeitos inclusive no Brasil de acordo com uma pesquisa no país realizada pela Associação Brasileira de Recuperação Energética (ABREN).
O mesmo relatório indica emissões insustentáveis de gases do efeito estufa (GEE), mensurados em toneladas equivalentes de CO2, e parte delas são provenientes do metano gerado pela disposição de lixo em aterros, equivalente a 64 milhões de toneladas por ano. De acordo com a ABREN, no Brasil isso representa em torno de 4% de todas as emissões totais de GEE.
Diversos países já adotaram há décadas a utilização de resíduos como fonte de energia em vez de simplesmente aterrá-los. O 5º Relatório do IPCC já apontava que as usinas de recuperação energética (Waste-to-Energy) reduzem em 8 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas a aterros com sistema de captura de metano, e são a forma mais eficaz para mitigação dos gases de efeito estufa dos RSU (resíduos sólidos urbanos).
Estudo do IEA Bioenergy indica que, cada tonelada de resíduos urbanos que deixam de ir para aterro, e são enviados para centrais de remoção dos recicláveis, e o material restante utilizado para gerar energia, permite a redução de aproximadamente 2 toneladas de gases de efeito estufa. Ou seja, considerando que somente 50% dos resíduos urbanos sejam utilizados para gerar energia, em substituição de combustíveis fósseis, teríamos uma redução de 5% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
De acordo com a pesquisa local e os estudos de mercado da ABREN no Brasil, considerando um cenário que representa 58% de todo o lixo urbano gerado no Brasil (RSU), englobando as 28 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, somados aos municípios com mais de 200 mil habitantes, poderão ser demandados investimentos de R$ 78,3 bilhões (CAPEX), nas 274 usinas URE (94), Plantas de produção de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) (95) e Biogás (85), além de instalações de centrais de reciclagem não computadas nesse valor.
Nesse cenário apresentado, é considerado o tratamento de 46 milhões de toneladas de RSU por ano, sendo destinado 62% para URE, 21% para CDR, 11% para biogás e 6% para reciclagem, sendo que somente 4% continuarão sendo destinados para aterros. Serão gerados 15 mil empregos diretos, e evitados 91 milhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde ao reflorestamento de uma área de 273 milhões de árvores plantadas por ano, área similar a 1,5 vezes a do Município de São Paulo.
A tecnologia de utilização correta dos resíduos, após retirada dos recicláveis, é empregada há décadas na maioria dos países do mundo, com destaque na Europa, EUA, Canadá, Japão, China e Coréia do Sul, e mais recentemente também em países da África e Oriente Médio, e também Austrália e Israel. A América Latina, no entanto, não detém nenhuma planta de grande porte de Waste-to-Energy (WTE) ainda em operação, mas já desponta com 36 fábricas de cimento licenciadas, que substituem 16,2% do combustível fóssil por CDR.
No Brasil, a utilização de resíduos como fonte de energia é utilizada em maior escala pela indústria cimenteira, e pela primeira vez a ANEEL lançou leilão de novos projetos de Waste-to-Energy, tendo como combustível os resíduos sólidos urbanos, sendo que diversos projetos estão em processo de implantação.
De acordo com o presidente da ABRE, Yuri Schmituke, “ainda há no País bastante resistência, inclusive de alguns Órgãos Ambientais que ainda não se adaptaram aos novos tempos e proíbem tecnologias amplamente utilizados e incentivadas em praticamente todos os países do mundo, como os Estados que proíbe a recuperação energética por incineração de RSU para geração de energia elétrica, tecnologia utilizada como fonte de energia limpa em 98% das 2.440 usinas em operação comercial no mundo, bem como outro Estado que limita o poder calorífico dos resíduos a serem utilizados em coprocessamento nos fornos de cimento em valores altíssimos não praticados em nenhuma parte do mundo e mais de 3 vezes o praticado em outros Estados do país”.
Sobre a ABREN: A Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN) tem como objetivo fomentar a recuperação energética de resíduos, resolvendo simultaneamente dois grandes problemas atuais do Brasil e do mundo: a destinação dos resíduos sólidos e a geração de energia limpa.
A problemática dos resíduos, produzidos em quantidades cada vez mais monumentais, danificando o meio ambiente, a biodiversidade e a saúde pública, passou a ter uma solução, o da recuperação energética.
A ABREN integra o Global Waste to Energy Research and Technology Council (GWC), instituição de tecnologia e pesquisa proeminente que atua em diversos países, com sede na cidade de Nova York, Estados Unidos, tendo por objetivo promover as melhores práticas de gestão integrada e sustentável de resíduos por meio da sua recuperação energética, conhecida como Waste-to-Energy (WTE) ou Energy from Waste (EfW). O Presidente Executivo da ABREN é também o Presidente do WtERT Brasil, representando desta forma o Conselho Global do WtERT (GWC).
A ABREN é associada da Associação Internacional de Resíduos Sólidos ou International Solid Waste Association (ISWA) e da Federação da Indústria Alemã de Gerenciamento de Resíduos, Água e Matérias-primas ou Bundesverband der Deutschen Entsorgungs, Wasser-und Rohstoffwirtschaft e. V. (BDE), o que permite à ABREN receber informações relevantes sobre o mercado de resíduos internacional, participar de eventos, integrar grupos técnicos de trabalho e buscar a troca de conhecimento para o desenvolvimento do mercado brasileiro.