Em comemoração ao Dia do Cerrado, audiência traz iniciativas de preservação do bioma
14 de setembro de 2021O deputado Leandro Grass apontou dados do INPE que revelam que 3.774 quilômetros quadrados de cerrado foram desmatados entre janeiro e agosto deste ano Dar visibilidade às iniciativas de preservação do cerrado foi um dos objetivos da audiência pública da Câmara Legislativa em comemoração ao Dia do Cerrado. O evento remoto, na tarde… Ver artigo
O deputado Leandro Grass apontou dados do INPE que revelam que 3.774 quilômetros quadrados de cerrado foram desmatados entre janeiro e agosto deste ano
Dar visibilidade às iniciativas de preservação do cerrado foi um dos objetivos da audiência pública da Câmara Legislativa em comemoração ao Dia do Cerrado. O evento remoto, na tarde desta segunda-feira (13), foi transmitido ao vivo pela TV Web CLDF e pelo portal da Casa no Youtube, com participação pelo e-democracia.
O mediador do encontro, deputado Leandro Grass (Rede), ao lembrar o Dia Nacional do Cerrado (11), destacou a importância do segundo maior bioma brasileiro. Ele lamentou os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), na semana passada, que revelaram a destruição de 3.774 quilômetros quadrados de cerrado, desmatados entre janeiro e agosto deste ano, o que representa um aumento de 25% em comparação ao mesmo período do ano passado. Em que pese o quadro de destruição do bioma no País, ele sinalizou que no DF houve avanços, como a Lei de Proteção do Cerrado (Lei 6364/2019). “No entanto, isso não é suficiente, sendo necessárias outras ações para manter o cerrado de pé nas mais diferentes perspectivas”, afirmou, ao enfatizar a importância de conferir visibilidade às iniciativas da sociedade civil organizada.
Empreendedorismo
“Conciliar a conservação do cerrado com a geração de alternativa de renda a partir do que a natureza oferece” é o foco da Central do Cerrado, segundo o representante da organização, Luis Carrazza. Ele explanou que a central, com sede em Sobradinho (DF), reúne cooperativas de base comunitária de agricultores familiares e extrativistas que se juntaram para comercializar coletivamente mais de duzentos itens do cerrado, como o jatobá, baru, cajuzinho, babaçu, buriti e mangaba. Ainda segundo Carrazza, o uso sustentável orienta a Central do Cerrado, que está no e-commerce, Mercado Livre, entre outros pontos de comercialização.
A comercialização é um das principais dificuldades da agricultura familiar, observou a representante do Fórum Distrital Permanente das Mulheres do Campo e do Cerrado, Teresinha Araújo. Ela narrou sua história, cujo sustento familiar é oriundo dos produtos que são feitos com frutos do cerrado, como geleias e licores. Nesse sentido, o deputado Leandro Grass reforçou que a logística e comercialização da produção é um “desafio imenso”, o que demonstra a necessidade de fortalecer os produtores rurais para além do cultivo.
Nessa questão, a subsecretária de Gestão Ambiental e Territorial da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Maria Sílvia Rossi, chamou a atenção para o enorme potencial logístico do DF, pela sua localização estratégica. Este fator, somado ao uso da biodiversidade, entre outros aspectos, pode alargar a base econômica do DF, na avaliação de Rossi, que é engenheira agrônoma. “É fundamental fortalecer a atividade produtiva do campo”, reforçou, ao defender o redirecionamento do foco, na revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), para a área rural.
Em outro ângulo, a subsecretária considerou como positiva a construção da sustentabilidade a partir da legislação sobre zoneamento ecológico e econômico. Rossi ainda salientou a importância da participação da sociedade civil nos cursos de capacitação para novas tecnologias, oferecidos pela Secretaria. Oficinas e atividades também estão sendo ofertados pelo Jardim Botânico de Brasília (JBB) como parte das comemorações pelo Dia do Cerrado, segundo a diretora adjunta do local, Lenise Gomes. Ela lembrou que o lugar é conhecido como “jardim do cerrado” e enfatizou as ações do JBB pela preservação desse bioma.
Educação Ambiental
A educação ambiental por meio do programa Parque Educador, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), é uma ação de longo prazo, de acordo com o coordenador do projeto, Luís Felipe Alencar. “Educação não é algo que se faz de um dia para o outro”, disse. O programa, desde 2018, já atendeu mais de sete mil e quinhentos alunos de 122 escolas. Em cinco anos, o alvo é atender todas as escolas do DF, acredita Alencar, ao apoiar as iniciativas educacionais acerca da proteção e preservação do cerrado. “Você só preserva aquilo que você conhece”, argumentou o poeta e ecologista Nicolas Behr, autor do livro “Aves, cores e flores do cerrado” voltado ao público infanto-juvenil.
De modo tangente, o idealizador do projeto Caminhos do Planalto Central, João Carlos Machado, destacou a integração do território para a valorização das experiências. Ele anunciou que no próximo domingo (19), na 110 Norte, haverá atividades sobre as trilhas destinadas às crianças e também apresentações sobre a fauna e a flora locais.
Riscos à biodiversidade
Os riscos à biodiversidade do cerrado foram expostos pelo presidente da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, seção Centro-Oeste, Marcos Trajano, que trabalha com fitoterapia e é idealizador do projeto de cultivo agroflorestal biodinâmico de plantas medicinais. Ele defendeu com veemência políticas públicas de fortalecimento no combate a incêndios florestais “criminosos”.
Por sua vez, a diretora do Museu do Cerrado, Rosângela Corrêa, discorreu sobre a riqueza da biodiversidade do cerrado e sua importância para os aquíferos da América do Sul. “O cerrado tem no seu interior uma fantástica bomba de água”, explicou Corrêa, que também é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Ela chamou a atenção para o fato de que “a crise hídrica é fruto de uma crise civilizatória”, que não percebe a interdependência dos biomas.
As queimadas e ações depredatórias com relação ao cerrado motivaram diversos protestos de participantes pelos canais virtuais da Casa, entre outras manifestações lidas pelo deputado Leandro Grass durante o evento.
Franci Moraes – Agência CLDF