AS PÉROLAS DO RIO TAPAJÓS 3

A CULTURA MUNDURUKU

3 de novembro de 2021

A harmonia na aldeia e o Grupo de Carimbó Bibiyü das jovens guerreiras Munduruku

 

Os mundurukus estão espalhados por várias partes da Amazônia. Todos têm a mesma raiz. Sua riqueza cultural é extraordinária, incluindo um repertório de canções tradicionais de musicalidade e poesia incomum, que versa sobre relações do cotidiano, frutos, animais etc. A cosmologia apresenta narrativas que inclui conhecimentos dos astros, constelações e da Via Láctea, chamada kabikodepu, em que são identificadas as estrelas que a compõe. A comunidade Munduruku de Bragança chegou a formar até um grupo musical de dança que faz apresentações em várias festividades fora e dentro da aldeia.

 

Fotos: Silvestre Gorgulho

 

Uma mesa com a exposição do artesanato munduruku

 

AS LIÇÕES DA ALDEIA

Segundo explicou o Cacique Domingos, há um belo artesanato. Destacam-se as cestarias e os trançados, que são atividades masculinas, cabendo a ele a confecção do Iço – cesto com o qual as mulheres carregam os frutos e produtos da roça –, as peneiras e demais utensílios de uso doméstico feitos com talas e fibras naturais.

Nos cestos munduruku são grafados com urucu desenhos que identificam o clã do marido. Assim, por exemplo, as tipóias para carregar as crianças que são confeccionadas pelas mulheres com a fibra extraída de uma árvore, identificam, com a cor natural vermelha ou branca, a metade do casal ao qual a criança pertence.

São exímios na confecção de colares com figuras peixes, tracajás, gato do mato, jacaré etc.) esculpidos em madeira e com sementes de inajá e tucumã.

 

 

A CARTA DOS MUNDURUKUS

Em 8 de junho de 2013, as Lideranças Munduruku escreveram uma carta ao governo do então presidente Lula e à sociedade brasileira sobre sua história e suas apreensões com a invasão de suas terras por garimpeiros e pelos desmatamentos. A carta abria com a seguinte mensagem:

“Munduruku é o povo mais numeroso da região do sul do estado do Pará, atualmente são 12.000 indivíduos. Nos tempos passados, nós, Munduruku, éramos temidos devido à fama da arte de guerrear em bandos e usávamos estratégias para atacar os nossos inimigos. Não desistíamos tão facilmente de perseguir os nossos inimigos e os nossos troféus eram a cabeça humana, que simbolizava o poder. Dificilmente, nós, Munduruku, em uma expedição de guerra perdíamos um guerreiro sequer na batalha. Atacávamos os inimigos de surpresa, assim vencíamos os nossos rivais e não deixávamos ninguém com vida, somente as crianças que quiséssemos levar para a aldeia, que adotávamos e incluíamos em nosso clã para mantermos a relação de parentesco. (…)

(…) “Alter do Chão (Co’anũnũ’a): é uma montanha onde os Munduruku ficavam observando a presença dos portugueses quando estes surgiam do Baixo Tapajós, e do cume da montanha se percebiam e anunciavam, através de um instrumento do tipo buzina de sopro, emitiam sons para avisar que as tropas portuguesas estavam indo na direção dos Munduruku. Nos primeiros contatos com os brancos, os Munduruku enfrentaram as tropas portuguesas no Rio das Tropas, e nas primeiras lutas os portugueses haviam perdido a batalha mas, no segundo momento, chegaram mais tropas para enfrentar os Munduruku, e desta vez os Munduruku não conseguiram derrotar as tropas e chegaram a fazer o acordo de paz e o local de confronto foi no rio em que hoje se chama Rio das Tropas, no meado do século XVIII”. (…)

 

E a carta das lideranças Munduruku implorava que seus direitos fossem respeitados para sua sobrevivência e porque hoje os índios são os verdadeiros Guardiões da Floresta.

 

BANDA DE CARIMBÓ BIBIYÜ

 

A força e beleza das guerreiras do grupo musical

Para Eldianne Poring Etê Sousa, a líder da Banda de Carimbó Bibiyü, a arte, a música e a dança são formas de alegrar a comunidade e também de mostrar a força e resistência da mulher índia. As letras das músicas cantam o legado dos antepassados e as belezas da floresta. “Todas essas apresentações são para fortalecer e valorizar nossa mensagem de paz e harmonia”, diz Eldianne.

 

Eldianne Poring Etê Sousa é a presidente da Banda de Carimbó Bibiyü: “Nosso tambor toca forte pela nossa cultura”.

 

São 13 meninas guerreiras entre dançarinas, cantoras e percussionistas. Nome da banda: Grupo Carimbó Bibiyü. Na língua Munduruku Bibiyü (lê-se: Bibian) significa meninas guerreiras. A banda tem como presidente Eldianne Poring Etê e como vice a vocalista Luana Corrêa Batista.

Componentes do Grupo:

Tainá Corrêa Batista (Banjo) – Jucinara Corrêa Batista (Curimbó menor) – Carla Corrêa da Costa (cunhã 1) – Larissa Pinto Corrêa (maraqueira) – Eleise Doce Munduruku (bailarina) – Adanna Corrêa Cardoso (maraqueira) – Pâmela Rocha Corrêa (curimbó maior) – Odilene Doce Munduruku (cunhã 2) – Aline Corrêa Oliveira (bailarina) – Deila Pinto Corrêa (coreógrafa) – Sophia Corrêa Batista (bailarina).