A POLUIÇÃO NO RIO TAPAJÓS

CRIME AMAZÔNICO

1 de fevereiro de 2022

ESTÃO POLUINDO A PÉROLA DO RIO TAPAJÓS

Silvestre Gorgulho

 

O belíssimo rio Tapajós está sob pressão. Alter do Chão e as muitas praias e enseadas do rio Tapajós está em perigo. Um dos lugares mais lindos do Brasil e onde a Amazônia se revela pelas entranhas de sua selva, de seus rios, igarapés, praias e pelos habitantes da grande floresta – índios e ribeirinhos – está sofrendo uma grave e nefasta invasão de garimpeiros. O desmatamento, o uso produtos químicos, a lavagem do minério, a destruição mananciais e de pequenos afluentes em busca do ouro, numa mineração desenfreada e sem cuidados ambientais, estão destruindo um cenário de paisagens exuberantes e o que há de mais belo no rio Tapajós: o azul turquesa das águas.

 

ALTER DO CHÃO: ANTES E DEPOIS

Alter do Chão, o paraíso amazônico conhecido como Pérola do Tapajós, corre perigo por estar sendo degradado pela poluição de garimpos e desmatamentos no rio Tapajós.

 

 

 

O rio de água azul turquesa tem mudança de cor e a origem na poluição, próximo à vila de Alter do Chão, não é natural. A nova coloração das águas está também relacionada aos sedimentos de garimpos clandestinos, desmatamento na região, queimadas e outros crimes ambientais. No ano passado, ambientalistas, pesquisadores e técnicos de entidades e da própria Universidade do Oeste do Pará revelaram que manchas de poluição dos garimpos de outros na bacia do rio Tapajós já se estendia por 500 quilômetros rio abaixo, entre os municípios de Jacareacanga e Santarém. Imagens de satélite expõem que a atividade garimpeira no rio disparou 70% nos últimos cinco anos.

Estima-se que existam mais de 60 mil garimpeiros, cerca de duas mil dragas ilegais e cerca de 850 garimpos legalizados ao longo do Tapajós e seus afluentes. A Polícia Federal e técnicos do Ibama sobrevoaram várias dessas áreas e puderam comprovar que o garimpo chamado de barranco além de desnudar as matas ciliares, esburacam a terra com bombas d’água, intensificando a erosão nas margens do rio, além de despejarem produtos químicos, especialmente, mercúrio nas águas.

 

MUDANÇA NA COR DAS ÁGUAS

A bióloga Heloisa Meneses, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), avalia que embora não haja estudos mais aprofundados para comprovar a atual conexão entre a alteração da cor do rio e o garimpo, a hipótese, levantada por populações tradicionais que vivem nas margens do Tapajós, é válida. “Que a cor do rio vem mudando é fato, o que se precisa é comprovar a causa desta mudança. Na minha opinião, isso é consequência de um conjunto de fatores, no qual o garimpo e o desmatamento têm um papel importante por serem dois potenciais poluidores ambiental”, avalia A bióloga Heloisa Meneses.

A verdade é que pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) monitoram a área desde 2014 e as análises identificaram aumento nos níveis de mercúrio no sangue dos moradores de Santarém. De acordo com a PF, garimpeiros despejam 7 milhões de toneladas de rejeitos no Rio Tapajós.

 

Os garimpos ilegais na região cresceram mais de 300% nos últimos anos. (foto: Gazeta de Santarém)

Garimpeiros despejam 7 milhões de toneladas de rejeitos no Rio Tapajós. (foto: Gazeta de Santarém)

A febre do garimpo ilegal de ouro no rio Tapajós. (foto: Oldair Lamarque)

 

Os garimpos ilegais ficam a cerca de 300 quilômetros de Santarém. Antes, por causa da distância, a maior parte dos resíduos acabava armazenada no caminho. Mas com o aumento de áreas degradadas, a poluição chegou a Alter do Chão.

Segundo o Instituto Socioambiental, em apenas um ano, a área devastada pelo garimpo ilegal na terra indígena Munduruku cresceu mais de 300%.

No final de janeiro, a Polícia Federal enviou peritos à região de Santarém para uma análise mais apurada. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar os motivos da alteração na tonalidade das águas no rio Tapajós, no distrito de Alter do Chão. A investigação foi aberta em 20 de janeiro.

 

A superfície do rio Tapajós no Porto dos Milagres, em Santarém, no oeste do Pará, está tomada por lixo flutuante. Tem isopor, garrafas, sacolas e muitos outros objetos que foram depositados à margem do rio em uma área que deveria atrair turistas, mas pela ação humana degrada e compromete a transparência e a beleza das águas do rio.

 

 

Para o pesquisador Paulo Basta, da FIOCRUZ, esse é um problema antigo.  “A contaminação está atingindo praticamente toda a bacia do Tapajós e colocando em risco não só as populações tradicionais, mas todo o cidadão amazônida”.

 “Esses níveis de exposição, a gente considera elevados, considerando o limite que é estipulado pela Organização Mundial da Saúde, que é de até 10 microgramas por litros, e nós temos voluntários que apresentam até 10 vezes mais”, conta a pesquisadora Suelen Souza, da Ufopa.

Outro reflexo do desmatamento é a maior presença de algas e bactérias, que liberam substâncias tóxicas.

A comunidade científica e os moradores da região, preocupados com a repercussão no turismo local, cobram do governo do Pará uma ação mais efetiva. “Tem que haver fiscalização mais dura e permanente. Já o Secretário de Meio Ambiente do Pará, Mauro de Almeida, disse que vai começar a montar uma fiscalização específica para a área do Rio Tapajós, bem como fazer uma análise dos reais motivos dessa turbidez.