LANGSDORFF - UM VIAJANTE COMPULSIVO – Parte 2

EXPEDIÇÃO da CIRCUM-NAVEGAÇÃO 1803: A PRIMEIRA VIAGEM DE LANGSDORFF AO BRASIL

1 de fevereiro de 2022

1803: A PRIMEIRA VIAGEM DE LANGSDORFF AO BRASIL

LANGSDORFF - UM VIAJANTE COMPULSIVO – Parte 2

 

Georg Heinrich von Langsdorff

 

Vamos tratar da primeira visita do médico Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil foi em 1803. A Folha do Meio Ambiente conta toda primeira viagem de Langsdorff ao Brasil, em 9 capítulos. Começamos na edição de janeiro de 2022 e vamos até setembro.

VIAGEM A SANTA CATARINA

Foi a viagem ocasional de Langsdorff a Santa Catarina, em 1803, que o levou a projetar a grande Expedição que ocorreu 20 anos depois. A segunda vinda de Langsdorff ao Brasil aconteceu justamente no tempo que o Brasil conseguiu sua maioridade: a vinda da Corte de D. João VI e a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1808), Independência do Brasil (7 de setembro 1822) e início das Relações Diplomáticas entre Brasil e Rússia (3 de outubro de 1828). O próprio Langsdorff previu em seus relatos de 1821 para a Academia de Ciências de São Petersburgo que a Independência do Brasil estava prestes a acontecer.

 

A Fortaleza de Santa Cruz foi a principal fortificação do antigo Sistema Defensivo da Ilha de Santa Catarina, projetada e construída pelo Brigadeiro português José da Silva Paes, a partir de 1739. Estrategicamente localizada na Ilha de Anhatomirim, em Governador Celso Ramos, Santa Cruz configurava no século XVIII o principal vértice do sistema triangular de defesa da Baía Norte, que protegia a Ilha de Santa Catarina contra as investidas estrangeiras.

 

 

DOMÍNIO DA LINGUA PORTUGUESA

Vale lembrar que Langsdorff dominava a Língua Portuguesa. Em 1797, como clínico particular, Langsdorff acompanhou o príncipe Christian de Waldeck, que assumira o comando da armada portuguesa. Foi ele o introdutor da prática da vacinação em Portugal. Como médico, dispunha de tempo para se dedicar aos estudos da história natural, paixão que o acompanharia por toda a vida. A diversidade cultural dos diferentes povos e suas etnias sempre o seduziram desde seus estudos em Goettingen. A morte do príncipe Waldeck, em 1798, o libera de suas atribuições, tanto que anota em suas memórias: “Durante minha estada em Lisboa, entrei frequentemente em filas de peixes de diferentes aspectos e em grande quantidade. Eles atraíram de tal modo minha atenção que tomei a firme decisão de adquirir alguns conhecimentos desta parte da história natural”.

O aprendizado do português lhe foi muito proveitoso. Dois anos depois, se sentiu à vontade para escrever o livro ‘Observações sobre o melhoramento dos hospitais em geral” como Jorge Henrique Langsdorff, médico da Nação Alemã em Lisboa.

A publicação de seu artigo ‘Observações sobre o embalsamamento e a ressecação dos peixes’, em 1803, pela Academia de Ciências de Goettingen, o torna membro correspondente da Academia e da Sociedade Científica Alemã, como ‘Doutor em Medicina, Lisboa’.

Além de médico e aventureiro compulsivo, Langsdorff é muito ousado.

A segunda parte, para o interior do Brasil, foi feita em canoas por 13 grandes rios até Belém do Pará. Começou em São Paulo e teve como ponto de partida Porto Feliz, em 22 de junho de 1826. A aventura começou com 39 participantes e encerrou com apenas 12. Um dos mortos foi atacado por uma onça. Taunay se afogou nas águas do rio Guaporé. Nem o comandante Langsdorff escapou: perdeu o juízo, depois de contrair malária. Em 1828, um ano antes da expedição acabar, Langsdorff foi infectado por malária e concluiu a Expedição, em 1829, numa maca.

De Porto Feliz-SP até Belém, a expedição seguiu por 13 rios: Tietê, Paraná, Pardo, Coxim, Taquari, Paraguai, São Lourenço, Cuiabá, Preto, Arinos, Juruena, Tapajós e Amazonas.

Do Brasil foi levado para o Império Russo um rico acervo mais de 800 documentos, entre animais empalhados, relatórios técnicos, plantas nativas, ilustrações valiosíssimas da flora, fauna e costumes dos de quilombos, indígenas e ribeirinhos. Todo material foi endereçado à Academia de Ciências de São Petersburgo. Ali ficou esquecida por mais de 150 anos.

DOIS DETALHES IMPORTANTES

DETALHE 1: o czar Alexandre I desembolsou a alta quantia de 330 mil rublos, para Langsdorff organizar a Expedição. Ele também teve apoio de Pedro I e José Bonifácio. Além de escravos, remadores e guias, Langsdorff contratou alguns dos mais respeitados cientistas da época, como Riedel, o zoólogo francês Edouard Ménétriès e o astrônomo russo Nester Rubtsov. Contratou também três desenhistas: Rugendas para a parte terrestre, em Minas. Taunay e Hercules Florence para a segunda parte, a fluvial.

DETALHE 2: O biólogo alemão Ludwig Riedel, que participou também da Expedição, fundou a seção de botânica do Museu Nacional. E tornou-se seu primeiro diretor, em 1831. Além disso, Riedel doou para o acervo algumas das amostras de plantas que coletou durante a viagem. A Expedição Langsdorff inspirou mais de 400 trabalhos entre livros, tratados e exposições em 10 idiomas diferentes.

PRÓXIMA EDIÇÃO 336: MARÇO DE 2022
TERCEIRA PARTE DA EXPEDIÇÃO
A terceira parte, trata da primeira visita de Langsdorff e sua permanência
no litoral brasileiro, Santa Catarina, no fim do ano de 1803. Esta expedição russa da qual Langsdorff tomou parte, como médico e ictiólogo, era comercial. A primeira visita e permanência no litoral brasileiro por alguns meses foi circunstancial, pois durante a viagem de circum-navegação, os navios precisavam de reparo e reabastecimento. O mentor da expedição de circum-navegação era Nikolay Petrovich Rezanov (1764-1807), misto de diplomata, nobre e aventureiro russo que planejava promover a colonização do Alasca e da Califórnia.