Migração que virou filme
18 de abril de 2022Jornalista brasiliense mostra em documentário a vinda de seu pai e tios para Brasília
A migração do maranhense Eliézer Alcântara Lima e de seus 11 irmãos para Brasília durou 20 anos. A saga de duas décadas acabou se tornando um documentário feito pela filha dele, a jornalista Larissa Leite. A família iniciou a mudança para Brasília logo após a inauguração da nova capital, fugindo da vida difícil na pequena Presidente Dutra, no Maranhão.
Eliézer, hoje com 68 anos, aposentado do Banco Brasil, pai de cinco filhos, avalia que atingiu seu objetivo: conseguir equilíbrio financeiro. Já os filhos tiveram mais liberdade para buscar seus caminhos, como é o caso de Larissa, que, em vez da estabilidade do serviço público, encontrou a satisfação no instável mercado jornalístico.
“Eu lia as cartas e enxergava claramente a possibilidade do roteiro. Queria documentar a trajetória impressa ali, em papéis já desgastados pelo tempo, em movimento”Larissa Leite, jornalista
Larissa, hoje casada, mãe de um menino de 4 anos, Santiago, e à espera de uma menina, define Brasília como uma cidade que lhe proporcionou muitas oportunidades. Criada no Guará, entre avós e tios – também vindos do Maranhão – e muitos primos, ela classifica a capital como acolhedora. “Minha infância foi muito preenchida, livre, não havia vazio”, lembra.
A convivência estreita com parentes possibilitou à jornalista ler as cartas que seu pai, tios e avós trocaram durante os 20 anos de migração. Daí surgiu a ideia de fazer o documentário Cartas de Brasília. “Eu lia as cartas e enxergava claramente a possibilidade do roteiro”, afirma.
”Queria documentar a trajetória impressa ali, em papéis já desgastados pelo tempo, em movimento, em passos que voltariam ao passado e, quem sabe, trariam novos significados ao presente, a essa história particular que, ao mesmo tempo, é de tantas famílias brasileiras que apostaram em Brasília”, conta.
Para ela, seu pai e irmãos conseguiram proporcionar aos filhos, aqui em Brasília, uma estrutura não só financeira, mas familiar. “Gosto muito de Brasília, acho que ela possibilita muitas oportunidades. Contesto todos que dizem que é uma cidade estranha. Não é mesmo”, diz Larissa, que planeja criar seus dois filhos na capital onde cresceu.
Enquanto Eliézer e irmãos buscaram em Brasília a estabilidade, a geração de Larissa e de seus primos queria a realização profissional. “Nós, primos, tivemos a liberdade de fazer nossas escolhas. Tenho primo físico, médico… Tivemos a possibilidade de escolher entre várias profissões”, avalia a jornalista. A filha de Eliézer pensa em Brasília com carinho e diz querer retribuir à cidade o que ela deu à sua família.