INCÊNDIO FLORESTAL

ESTRATÉGIA PARA A NATUREZA

1 de junho de 2022

O MANEJO INTEGRADO DO FOGO

Silvestre Gorgulho

 

Técnicos do Ibama, profissionais do Corpo de Bombeiros e patrulhas de combate aos incêndios florestais sabem muito bem: o manejo integrado do fogo é uma importante estratégia ambiental para evitar as queimadas.

 

Para o ex-Secretário Nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente e professor do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, Bráulio Ferreira de Souza Dias, o fogo não é apenas destruição, pois este elemento pode também significar vida. “Há diferenças entre queimadas controladas e incêndios. O importante é saber investir em políticas de manejo do fogo para proteger o meio ambiente e prevenir desastres como os já ocorridos no Pantanal e na Chapada dos Veadeiros”.

 

 

Professor Bráulio Ferreira de Souza Dias: “O impacto do fogo depende da época de ano, da sua frequência, extensão, intensidade e velocidade (tempo de residência) e das condições ambientais (temperatura, velocidade do vento e fenologia das plantas e dos animais).

 

DIFERENÇA ENTRE INCÊNDIOS E QUEIMADAS

Bráulio Dias: Incêndio é um fogo descontrolado, de origem natural – raios, ou antrópica [ação do ser humano], que destrói um patrimônio natural (floresta e outras formas de vegetação) ou construído. Queimada é um fogo de origem antrópica intencional com o objetivo de reduzir a biomassa vegetal: para preparar área para cultivo agrícola ou renovação de pasto, para eliminar restos de cultura agrícola, ou para controlar a biomassa combustível em vegetação natural para reduzir os riscos de um incêndio florestal de grandes proporções, ou para restaurar a dinâmica ecológica de ecossistemas campestres ou savânicos onde o fogo é um agente ecológico presente na história e evolução destes ecossistemas. 

CONTRIBUIÇÃO DAS QUEIMADAS

Bráulio Dias: As queimadas podem ser benéficas ou maléficas ao meio ambiente, dependendo das condições onde ocorrem. O Brasil possui uma grande diversidade de ecossistemas e vegetações nativas, mas podemos agrupá-las em dois grandes grupos em relação ao fogo: de um lado, aqueles ecossistemas e vegetações que evoluíram com a presença do fogo em climas com estação de seca pronunciada onde o fogo pode ter um efeito benéfico na dinâmica e renovação da vegetação favorecendo, por exemplo, as floradas e a dispersão das sementes e a oferta de rebrotas nutritivas para a fauna, e cuja flora e fauna possuem adaptações para resistir e responder ao fogo, ex: casca suberosa das árvores, estruturas subterrâneas bem desenvolvidas, com raízes tuberosas, troncos subterrâneos e gemas protegidas do fogo. E de outro lado, os ecossistemas e vegetações que evoluíram em regiões de clima úmido ao longo do ano todo onde o fogo é um elemento estranho e cuja flora e fauna não possuem adaptações para resistir e responder ao fogo – nestes ecossistemas o fogo é sempre um fator de destruição ambiental. Outra coisa: o impacto do fogo depende da época de ano, da sua frequência, extensão, intensidade e velocidade (tempo de residência) e das condições ambientais (temperatura, velocidade do vento e fenologia das plantas e dos animais).

COMUNIDADES TRADICIONAIS

Bráulio Dias – As comunidades tradicionais, os povos indígenas e os agricultores e pecuaristas tradicionais desenvolveram estratégias adaptativas de uso do fogo controlado que propiciam benefícios para estas comunidades sem causar grandes incêndios. São experiências que devem ser melhor documentadas e resgatadas. Na Austrália, por exemplo, o governo faz pagamento por serviço ambiental para estimular as populações aborígines a retomar as tradições de queima controlada em pequenas áreas ao longo do ano desta forma aumentando a heterogeneidade das paisagens e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa com a redução dos grandes incêndios.

MANEJO INTEGRADO DO FOGO

Bráulio Dias: O manejo integrado do fogo é uma estratégia de gestão ambiental, adaptada a cada condição local, que visa reduzir as condições para a ocorrência de grandes incêndios florestais, restaurar o papel ecológico do fogo nos ecossistemas e vegetações que evoluíram com o fogo (aceitando os incêndios naturais provocados por raios, dentro de limites, e promovendo queimadas prescritas controladas em ecossistemas e vegetações adaptadas ao fogo para reduzir o acúmulo de biomassa vegetal seca e para promover maior heterogeneidade espacial das paisagens.

COMO FUNDIONA NOS BIOMAS

Bráulio Dias: O manejo integrado do fogo deve atuar nos ecossistemas úmidos para a prevenção de incêndios florestais orientando e controlando o uso do fogo nas práticas agrícolas. Também promovendo a construção de aceiros para evitar a propagação do fogo e para facilitar o controle do fogo onde necessário. Já nos ecossistemas adaptados ao fogo, deve promover o uso de queimadas prescritas e controladas onde as condições ecológicas assim permitirem e deve promover a proteção dos ecossistemas e habitats vulneráveis ao fogo nas paisagens campestres e savânicas (como por exemplo as veredas, as matas ribeirinhas e os campos rupestres).