ARARINHA AZUL

ARARINHA AZUL O MILAGRE DO RETORNO

1 de julho de 2022

Em 2020, 52 ararinhas-azul foram trazidas de volta para o Brasil, a partir de um acordo com o criadouro alemão ACTP. Agora, os primeiros casais foram soltos em seu habitat.

Silvestre Gorgulho

 

Foi um ato histórico. No início de junho, houve a reintrodução de oito ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) ao seu habitat natural, em uma área de caatinga no norte da Bahia. Em dezembro, outros casais serão reintroduzidos na natureza. Consideradas extintas da natureza há mais de 20 anos, as aves foram soltas em uma Área de Soltura de Animais Silvestres (ASAS) certificada pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, localizada no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul, no município de Curaçá.

 

 

O mesmo ser humano, que com atividades diversas como ocupação de terras para atividade econômica, tráfico, incêndios florestais e comercialização de animais, levou a ararinha azul à extinção, fez um esforço único para recuperar algumas em cativeiro e, depois de prepará-las, soltar alguns casais no seu habitat natural. Para o diretor do Centro de Reintrodução da Ararinha-azul, em Curaçá, Cromwell Purchase, foram adotados todos os procedimentos para que a ação tivesse sucesso. “Fomos muito criteriosos, desde a chegada dos animais. Uma equipe acompanhou tudo. Desde os métodos de ambientação no viveiro, até o retorno a vida em ambiente livre”. Lembra Cromwell Purchase que para “chegarmos até esse momento de soltura foram anos de estudos, trabalhos e dedicação exclusiva de vários especialistas. Dois anos atrás, quando chegamos ao Brasil com 52 ararinhas-azuis, não sabíamos quando esse dia chegaria. Chegou! Foi com o apoio de muitos parceiros nacionais e internacionais. E também da comunidade local. Aqui estamos”, enfatizou o diretor do Centro de Reintrodução da Ararinha-azul, em Curaçá-Bahia”.

SOBRE A ESPÉCIE

 

 

A ararinha-azul é uma ave de origem do bioma Caatinga, na região do Vale do Rio São Francisco no estado da Bahia. É uma espécie que pertence ao grupo dos psitacídeos, apresenta corpo azul, íris amarela e bico negro, alimenta-se de frutos e algumas sementes.

 

O desmatamento reduziu seu habitat natural e sua beleza única fez a ave ser cobiçada por caçadores e colecionadores em todo o mundo, o que acarretou, no ano 2000, na sua extinção na natureza.

 

A EQUIPE

 

A equipe do Inema-BA, coordenada por Jeanne Florence, que representou a diretora-geral, Daniella Fernandes, participou de todas etapas da soltura. Marianna Pinho, Coordenadora de Gestão de Fauna do Instituto, explicou que as meio ambiente da Coordenação de Gestão de Fauna do Instituto, Marianna Pinho, explicou que as áreas destinadas ao retorno à natureza de animais silvestres são dentro de propriedades rurais, cadastradas mediante manifestação voluntária. Essas áreas escolhidas antes foram vistoriadas pelos técnicos do Inema. Dentre os critérios analisados, verificou-se a vegetação nativa conservada, presença de espécies da fauna silvestre, fontes de água e principalmente controle das ações antrópicas, tanto dentro da área quanto no entorno, garantindo aos animais maiores chances de sobrevivência.

 

O RETORNO

Em 2020, 52 ararinhas-azul foram trazidas de volta para o Brasil, a partir de um acordo com o criadouro alemão ACTP, e instaladas em um viveiro no município de Curaçá, para sua ambientação, que envolveu a redução de seu contato com humanos, como também o convívio com araras-maracanã (Primolius maracana), com quem dividia o habitat natural e que tem hábitos semelhantes aos seus. E ainda: o treinamento do voo, o reconhecimento de predadores e a oferta de alimentos que serão encontrados na natureza.

Agora, no início de junho, mais de 20 anos de ser declarada extinta na natureza, as 8 primeiras ararinhas voltaram a voar pela caatinga brasileira. Mais 12 serão soltas em dezembro.

 

ADAPTAÇÃO NA NATUREZA

 

 

Apesar de todos os cuidados, a adaptação na natureza nunca é fácil. E não é apenas a questão do próprio ambiente, do qual a espécie está afastada há duas décadas. Além das as adversidades do clima, às vezes com muita chuva e às vezes seco, tem o problema das linhas de transmissão de energia elétrica que atrapalha nos voos e a existência de espécies exóticas como as abelhas-europeias (Apis mellifera) que ocupa cavidades naturais da área onde as ararinhas nidificam.

MARCADAS COM ANILHAS

Para o Coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-Azul, Antônio Eduardo Barbosa, a soltura envolverá a abertura do recinto onde elas estão se ambientando. As portas serão mantidas abertas durante o dia e fechadas durante a noite, para evitar que as ararinhas que retornem ao cativeiro sejam mortas por predadores.

“Será uma soltura branda, como a gente chama. A gente abre o recinto, mas a gente quer que as aves permaneçam ali. Será ofertada alimentação suplementar durante um ano, para que elas ainda visitem o recinto. Nessa primeira soltura experimental, a gente quer conhecer a dinâmica que as aves vão apresentar”, explica Barbossa.

Os animais serão marcados com anilhas e receberão transmissores, que permitirão seu rastreamento por alguns meses.