Anfíbios ameaçados de extinção são monitorados em Foz do Iguaçu
1 de agosto de 2022Pela primeira vez, espécie Pithecopus rusticus é mantida em cativeiro para finalidade de conservação
Esperança dos pesquisadores é que os anfíbios possam se reproduzir e aumentar a população – Foto: Divulgação Parque das Aves
Um casal de pererecas da espécie Pithecopus rusticus está sendo mantido em cativeiro, no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu. Esta é a primeira vez que exemplares da espécie se encontram sob cuidados humanos. A ideia é que os anfíbios, que estão criticamente ameaçados de extinção, possam se reproduzir num ambiente seguro e, assim, dar o pontapé inicial para um programa de conservação da espécie. O anfíbio só pode ser encontrado em uma área de campos de altitude na Mata Atlântica e a população conhecida é de poucos indivíduos, tendo em vista que o hábitat natural desta espécie já está bastante impactado pela presença humana.
O casal foi trazido do município de Água Doce, em Santa Catarina, divisa com o Paraná, para o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), no início de abril, numa operação que mobilizou a Universidade Federal de Santa Maria, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (RAN-ICMBio), o Parque das Aves e a Reserva Paulista (Zoológico de São Paulo). As pererecas chegaram à Foz do Iguaçu de helicóptero com apoio do Parque Nacional do Iguaçu, o que reduziu o tempo de transporte em seis horas, minimizando o estresse para os animais.
Como a população na natureza é escassa e há a necessidade de reprodução em cativeiro para garantir a inserção de novos indivíduos, a equipe técnica que está cuidando dos animais tem a esperança de que a reprodução num local seguro é um passo importante para a conservação da espécie. Esta foi uma das conclusões levantadas por um evento realizado em 2020, que reuniu os maiores especialistas em anfíbios ameaçados de extinção no Brasil. Assim, a ideia é manter uma população de segurança para que seja facilitada a reprodução dos animais em um espaço seguro, para, posteriormente, enviar os descendentes ao seu local de origem, reforçando a população.
No Parque das Aves, a equipe técnica que cuida dos animais oferece uma alimentação composta por grilos, baratas, besouros e outros pequenos invertebrados, oriundos do biotério (local onde animais são conservados e usados para finalidades científicas em ambiente sanitário controlado) do próprio Parque. A alimentação ainda é suplementada por vitaminas e minerais. Também foi feito um trabalho para simular o ambiente e deixá-lo o mais semelhante possível com o natural. Fora a iluminação natural, uma lâmpada ultravioleta B favorece as funções fisiológica das pererecas.
Por ser uma espécie de hábitos noturnos, uma câmera infravermelha foi instalada especialmente para que a equipe possa realizar um monitoramento minucioso do comportamento do casal todos os dias. A análise das gravações noturnas permite aos pesquisadores aprenderem sobre comportamento, alimentação e padrão de atividade desta espécie.
A equipe técnica já notou que durante o dia, as pererecas gostam de se esconder em bromélias e vegetações afins e que também são bastante sensíveis em relação à qualidade da água. Por esta razão, os técnicos monitoram constantemente parâmetros como pH, a presença de nitrato, nitrito e amônia e outros fatores que podem prejudicar o desenvolvimento dos animais.
Por enquanto, os visitantes do Parque das Aves ainda não terão acesso à sala das pererecas.
As pesquisas sobre a espécie são realizadas por uma equipe de pesquisadores e estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com outras universidades do Brasil e com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN), do ICMBio, que é responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação de Répteis e Anfíbios Ameaçados da Região Sul do Brasil (PAN Herpetofauna do Sul), que iniciou suas atividades em 2012 e coordenou a ação.
No ano 2014, o anfíbio foi formalmente descrito pela ciência como uma nova espécie. Infelizmente, a espécie já está criticamente em perigo de extinção, segundo a Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 148, de 07/06/2022, que atualizou a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. Isso ocorre porque, desde a sua descoberta, poucos indivíduos são registrados em apenas uma localidade, mesmo com buscas na região.
Comunicação ICMBio