CIÊNCIA 1

QUANDO O BRASIL AMANHECE PELA JANELA DE UM JUMBO DA VARIG

31 de agosto de 2022

“Brasil: um país lindo com nome de árvore. O Pau-Brasil é hoje uma raridade.”

Silvestre Gorgulho

Natureza combina com o maestro Antônio Carlos Jobim. Árvores, água, pássaros e mar estão em todas suas canções. Tom Jobim e Vinicius de Moraes fizeram e cantaram canções maravilhosas evocando a natureza, como “Água de Beber” feita por Tom e Vinícius em 1959, nos mananciais do Catetinho, em Brasília. A própria Sinfonia da Alvorada, composta a pedido de Juscelino Kubitschek, é um hino à Natureza. Mas pouco conhecido é este texto que Tom Jobim deixou, de próprio punho, escrito a bordo de um avião da Varig, vindo de Nova York, quando sobrevoava Minas Gerais para aterrissagem no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Vale a pena ler.

Por Tom Jobim

 

“Brasil: um país lindo com nome de árvore. O Pau-Brasil é hoje uma raridade. O Brasil era um paraíso, um país mateiro, grande Nação Florestal. Floresta com onça, anta, macuco, madeiras preciosas que nem foram utilizadas, mas queimadas, as queimadas que começavam em Minas e iam até as praias do Espírito Santo. 

Queimar; fogo, sempre fogo na fabricação demente, insana, do deserto. Depois vinha a chuva e carregava os restos e vinha o sol e cozinhava o chão.

Ao lado a voçoroca, o buracão profundo. Insensatos. A superfície da terra virou uma moringa, uma telha.

Amanhece no interior do Boeing Jumbo 747 da Varig. Lá embaixo Minas, Zona da Mata. Não tem mais mata. Estamos chegando… cadê a Floresta Atlântica? E a terra despencando morro abaixo. Um compatriota sentado ao meu lado me diz:

 – Os americanos já destruíram suas matas, seus índios e nós temos os mesmos direitos… Meu Deus, o que que os índios pensarão disto, o que as árvores pensarão disto?

Chico Mendes falou na TV americana em bom português: – Vão me matar, não mandem flores, deixem as flores vivas na floresta.

Com legendas em inglês.

 TOM JOBIM

O Maestro Tom Jobim e seu parceiro Vinicius de Moraes no Catetinho, durante a construção de Brasília, quando compuseram duas sinfonias da natureza: Água de Beber, Camará e Sinfonia da Alvorada.