Reservatório do Descoberto, no DF, registra pior nível desde crise hídrica, em 2018
17 de setembro de 2022Bacia está com 51,3% da capacidade total. ‘Tem mais gente consumindo água do que nascentes produzindo’, diz especialista.
Reservatório do Descoberto, em Brasília, em imagem de arquivo — Foto: Dênio Simões/GDF/Divulgação
O reservatório do Descoberto, responsável pelo abastecimento de água de cerca de 60% da população do Distrito Federal, registrou nível de 51,3%, nesta sexta-feira (16), o pior desde 10 de fevereiro de 2018, quando os medidores marcaram 51,2%. À época, Brasília enfrentava racionamento de água (veja detalhes abaixo).
Apesar do nível do reservatório, ele ainda está um pouco acima do valor de referência para o mês de setembro, que é de 48%. Os dados são da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal.
No caso da bacia de Santa Maria, que abastece cerca de 20% do DF, o nível está em 80,4%, também acima do valor de referência, de 74%. Porém, o índice registrado é o menor desde 27 de março de 2019, quando foi marcou 79,6%.
O ecossociólogo Eugênio Giovenardi, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, explica que, a longo prazo, Brasília pode passar por um novo desabastecimento. De acordo com ele, o crescimento populacional impacta, anualmente, no uso do recurso.
“A política não se preocupou em adequar a população à capacidade do fluxo da água. Então, naturalmente estamos sofrendo por isso. Tem mais gente consumindo água do que nascentes produzindo”, diz Giovenardi.
O especialista explica que a barragem do Descoberto foi construída em 1974, com capacidade para atender 500 mil habitantes. No entanto, atualmente, segundo a Companhia de Planejamento (Codeplan), apenas Ceilândia tem essa quantidade de pessoas.
O g1 entrou em contato com a Subchefia de Relações com a Imprensa do Palácio do Buriti e questionou medidas do Executivo para lidar com o abastecimento de água e perguntou se o nível atual dos reservatórios representa algum risco. No entanto, o órgão não respondeu até a última atualização desta publicação.
Déficit de água
Reservatório do Descoberto com 96,9% da capacidade; em imagem de arquivo — Foto: Tony Winston/Agência Brasília
Eugênio Giovenardi afirma que o DF passa por um “déficit de água”. De acordo com ele, o volume de água produzido é menor do que o consumido.
“A cada ano, a situação se torna mais difícil e perigosa”, diz o especialista.
Por conta do problema, o ecossociólogo diz que o governo passou a procurar outras fontes de captação de água, como Corumbá IV e o Lago Paranoá. Entretanto, Giovenardi alerta que “todos esses recursos são finitos”.
Ele diz ainda que não existe solução imediata para garantir que Brasília não sofra com novas situações de racionamento, e que a conservação das áreas verdes é uma ação fundamental para manter o fluxo da água. “Quando chove, por exemplo, e a água cai em uma área em que o solo é impermeabilizado, ela não recarrega os aquíferos.”
O especialista também chama a atenção para o monitoramento dos reservatórios. De acordo com Giovenardi, o Descoberto, por exemplo, sofre assoreamento e, por isso, a Adasa deve intensificar o monitoramento do volume.
Racionamento no DF
Pessoas tenta ligar torneira, que está sem água, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
O Distrito Federal passou por um racionamento de água entre janeiro de 2017 e junho de 2018. A medida que criou um rodízio para o abastecimento durou 513 dias.
À época, o nível do reservatório do Descoberto chegou a ficar em 5,3%. O rodízio estabelecia que, uma vez por semana, algumas regiões ficavam sem água por 24 horas. A medida começou por locais abastecidos pelo Descoberto, mas, após um mês, foi expandida para pontos atendidos pelo reservatório de Santa Maria.