América Latina lidera redução da fauna nos últimos 50 anos
13 de outubro de 2022Relatório de 50 anos do WWF aponta para uma ‘crise global’ na vida selvagem, com uma redução de quase 70% de mais de 5 mil espécies no planeta. Na América Latina e Caribe, taxa foi de em média 94%.
Boto-cor-de-rosa no Rio Negro, na Amazônia. Espécie foi uma das que mais diminuíram nas últimas décadas. — Foto: MarkCarwardine/WWF
O planeta perdeu 69% de seus animais selvagens em menos de 50 anos devido principalmente à ação humana (como o desmatamento, a poluição dos oceanos e a crise climática) segundo o mais novo relatório da ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF), divulgado nesta semana.
E mais uma vez, a situação é ainda mais crítica na região da América Latina e Caribe, onde a devastação da fauna chega a 94%.
Por outro lado, na América do Norte, Europa e Ásia Central, o índice de perda de biodiversidade ficou perto dos 20%. Já na África a taxa foi de 66% e na região da Oceania e do Pacífico Asiático o índice foi de 55%.
No Brasil, o destaque negativo do relatório fica para as onças-pintadas, corais, botos amazônicos e tatus-bola. As espécies foram algumas das que mais diminuíram no país nas últimas décadas.
O levantamento analisou cerca de 32 mil populações de vida selvagem em todo o mundo e mais de 5.000 espécies.
Somente os botos cor-de-rosa tiveram uma queda de 65% entre 1994 e 2016 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas. Segundo o relatório, estes animais estão sofrendo com a captura não intencional em redes e pela contaminação por mercúrio.
“Os botos têm grande capacidade de se aproximar e interagir com humanos, o que acaba gerando situações de conflito com a atividade pesqueira que, frequentemente, terminam com a morte de indivíduos da espécie”, diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.
No Pantanal, outra espécie sob ameaça é a onça-pintada que, ainda de acordo com o relatório, está sofrendo com o crescente barramento dos rios da Bacia do Alto Paraguai e as queimadas recorrentes na região.
Como mostrou o g1, em 2020, incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares, ou 26% do bioma – uma área maior que a Bélgica.
Além da onça, outras espécies brasileiras em risco mapeadas pelo WWF são o tatu-bola e a tiriba-do-Paranã, no Cerrado; populações de lagartos, na Caatinga; o gato-palheiro, no Pampa; e os corais, no litoral do país.
No caso dos corais, estima-se que um aumento de 1,5°C na temperatura global cause o desaparecimento de 70% a 90% dessas espécies em todo o mundo.
“Estamos enfrentando uma dupla emergência global provocada pelas ações humanas: a das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, ameaçando o bem-estar das gerações atuais e futuras”, acrescentou Marco Lambertini, diretor geral do WWF Internacional.
Para reverter esse cenário, a ONG argumenta que é necessário, além de esforços de conservação e restauração, uma aceleração da transição econômica para que os recursos naturais sejam devidamente valorizados.
O WWF também enfatiza a necessidade de produzir e consumir alimentos de forma sustentável, bem como descarbonizar todos os setores de forma rápida e profunda.
“O Relatório Planeta Vivo contém números chocantes diretamente relacionados às crises climáticas e de biodiversidade e, em resposta, devemos ver sistemas transformadores mudarem se quisermos deter e reverter a perda das espécies e garantir um futuro próspero para as pessoas e a natureza”, acrescentou Lambertini.