MELIPONICULTURA 2

ABELHAS SEM FERRÃO

2 de janeiro de 2023

Importância e principais espécies das abelhas nativas

Silvestre Gorgulho

A polinização é o processo que garante a produção de frutos e sementes, além da reprodução de diversas plantas. Por isso, as abelhas se destacam na manutenção e promoção da biodiversidade da Terra. Há mais de 20 mil espécies de abelhas espalhadas pelo mundo. A maioria delas tem comportamento solitário, mas dentre elas existem aproximadamente 420 espécies de abelhas sociais nativas sem ferrão, 300 dessas são encontradas no Brasil. As abelhas nativas sem ferrão com hábito social vivem em ninhos e se organizam em três castas – a rainha, as operárias e os zangões. Seus ninhos podem ser encontrados em troncos de árvores, em muros ou até mesmo no chão. Elas se alimentam de néctar e pólen, enquanto fazem a polinização. Armazenam seu alimento em potes de cera, mel e pólen e são responsáveis pela existência da maioria das espécies vegetais, incluindo os alimentos. Sem elas, a variedade de alimentos seria bem menor, pois auxiliam na produção de um terço de tudo que comemos.

PRINCIPAIS ESPÉCIES DE

ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO

Os ninhos, o mel, própolis e regiões onde são encontradas

(Fotos: Denis Ferreira Netto)

GUARAIPO (MELIPONA BICOLOR)

Única espécie do gênero Melipona que possui uma ou mais abelhas rainhas poedeiras em seus ninhos. Estão distribuídas entre o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul e podem ter variações na coloração desde um amarelo claro até uma cor mais escura, como grafite. Elas costumam construir ninhos em bases ou ocos no alto das árvores. Essa espécie está na lista de espécies ameaçadas no Paraná.

MANDURI (MELIPONA MARGINATA)

Pertencente ao subgênero Eomelipona, como uma das menores espécies e também uma das mais ancestrais (NOGUEIRA-NETO, 1963 apud MORESCO, 2009). Sua distribuição geográfica compreende desde o estado do Ceará até o Rio Grande do Sul, assim como os estados de Missiones na Argentina e Caaguazú no Paraguai (MOURE et al., 2007 apud MORESCO, 2009). Realiza nidificação em ocos de árvores e paredes de taipa (VON IHERING, 1930 apud MORESCO, 2009), com favos dispostos horizontalmente e potes (locais de armazenamento de pólen e mel) e invólucro construídos com cerume, resultante da combinação da cera produzida pelas abelhas com resina coletada de plantas (MORESCO, 2009). É a única espécie do gênero que realiza diapausa reprodutiva (a rainha pode parar a postura de ovos em períodos frios ou durante o inverno) (BORGES, BLOCHTEIN, 2006 apud MORESCO, 2009).

MANDAÇAIA (MELIPONA QUADRIFASCIATA)

A mandaçaia possui ampla distribuição no Brasil (SILVEIRA et al., 2002 apud RAVAIANO, 2017), ocorrendo desde o Rio Grande do Sul até a Paraíba, Argentina e sudoeste do Paraguai (MOURE, KERR, 1950 apud RAVAIANO, 2017). Existem duas subespécies registradas: M. quadrifasciataquadrifasciata e M. quadrifasciataanthidioides. A primeira possui bandas amarelas tergais contínuas, enquanto a segunda possui bandas amarelas tergais descontínuas (SCHETTINO, 2013). Apresenta, ainda, diversidade de híbridos, encontrados por todo o Brasil (CAMARGO, PEDRO, 2012 apud SCHETTINO, 2013). Os ninhos são encontrados usualmente em troncos de árvores ocos com altura entre 1 e 3 metros e as colônias podem ter de 300 a 400 abelhas, aproximadamente (ROSELINO, 2005).

JATAÍ (TETRAGONISCA ANGUSTULA)

Essa espécie de abelha, com distribuição geográfica desde o Sul do México até o Sul do Brasil (CAMARGO, PEDRO, 2012 apud SANTIAGO, 2013), é caracterizada por corpo pequeno e delgado, medindo de 4 a 5 mm e corbícula (estrutura localizada na tíbia das pernas traseiras de determinadas espécies de abelhas, destinada a armazenamento de pólen durante o forrageamento) pequena, que não ocupa toda a largura da tíbia (MICHENER, 2007 apud SANTIAGO, 2013). É generalista quanto aos hábitos de nidificação, construindo ninhos em troncos vivos ou mortos, tubulações e paredes de alvenaria. Ocorre com frequência em ambientes antropizados (FREITA, SOARES, 2004 apud SANTIAGO, 2013) e com grande número de colônias de outras espécies de abelhas. Suas colônias podem possuir até cerca de 10 mil indivíduos (SANTIAGO, 2013).

MIRIM (PLEBEIA SP)

As abelhas mirins constroem ninhos em árvores e barrancos, desde que possuam ocos de tamanho e aquecimento apropriados. Distribui-se nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (APIS GUIA, sem data). São abelhas pequenas e mansas produzem própolis com resinas de característica pegajosa, armazenadas nas colmeias em bolas. Essa resina na colmeia tem função de defesa contra inimigos que tentam entrar e à vedam contra a luz e o vento.

IRAÍ (NANNOTRIGONA TESTACEICORNES)

A origem de seu nome vem do Tupi e significa Rio do Mel ou Rio Doce (Ira: abelha; Y: rio). Considerada uma abelha indígena, é pertencente a tribo das Trigonini, onde uma de suas principais características é a criação de um tubo de cerume na entrada da colônia que, no caso da Iraí, é de coloração variando de parda a escuro, onde sempre apresentará várias abelhas guardiãs. Constrói seus ninhos em locais variados, como muros, blocos de cimentos, tijolos vazados e, principalmente, em ocos de árvores, sendo encontrada facilmente em áreas urbanas. É uma espécie considerada muito mansa por ser de fácil manejo, possui o comportamento de fechar a entrada da sua colônia com cerume ao anoitecer, e abri-la ao amanhecer. Pode ser encontrada dede o Paraná até o sul do Estados Unidos. Produz grande quantidade de própolis puro e viscoso, usado para a defesa de seu ninho e dona de um mel considerado de alta qualidade.