Meio ambiente

BEETHOVEN, TEU NOME É MÚSICA PARA A NATUREZA.

2 de janeiro de 2023

Morreu dia 15 de dezembro passado o ambientalista Luiz Van Beethoven Benício de Abreu. Beethoven foi chefe do Parque Nacional de Brasília por cerca de 20 anos, entre os anos 1960 e 1980, e professor universitário. Foi um dos precursores no Brasil na atividade de turismo e natureza.

Silvestre Gorgulho

Ao centro, Luiz Van Beethoven, então presidente do Conselho Curador da Funatura ladeado pelos conselheiros Fernando Thomé Andrade (à esquerda) e João Carlos de Souza Carvalho (à direita).

 

Luiz van Beethoven Benício de Abreu, nascido em uma família de músicos e ele mesmo tendo recebido o nome de uns dos maiores gênios da música no mundo, foi um dos membros fundadores da Funatura, em julho de 1986, tendo presidido o seu Conselho de Curadores nos períodos de 1994 a 1995 e 2004 a 2011.

Para a direção atual da Funatura, os exemplos deixados por Beethoven se farão brilhar como estrelas na lembrança de quem o amou. Ele agora é uma semente que foi plantada, e que, devidamente regada, vai florescer e produzir frutos.

Segundo o ambientalista Carlos Alberto Ribeiro de Xavier, Luiz Beethoven deixou um amplo e forte legado na área de turismo ecológico e de preservação ambiental. A ele devemos o Parque Nacional Grande Sertão Veredas e os primeiros viveiros em Brasília. Beethoven contribuiu com Burle Marx em seus principais projetos na Capital, como a vereda de Buritis no Palácio do Itamaraty e os jardins do Teatro Nacional. Apoiou Dom Pedro Carlos de Orleans e Bragança na criação do Jardim Botânico de Brasília no governo José Aparecido de Oliveira.

Maria Tereza Jorge Pádua, a grande idealizadora da Funatura, lembra que a Funatura começou a ser concebida no escritório da CESP em Brasília. A CESP, em 1988, nos emprestou uma sala para a preparação da criação da entidade. Logo depois Christopher Hurdina nos deu para uso uma sala de 80 metros quadrados na sua empresa, com telefone e tudo. Muitos doaram recursos para o fundo necessário à criação da ONG, entre eles Luiz Van Beethoven Benício de Abreu, Paulo Nogueira Neto, José Goldemberg, Thomas Lovejoy, Russel Mittermeier, Roberto Klabin, Roberto Marinho, Rodrigo Mesquita e João Carlos Carvalho.

O AMOR PELAS ÁRVORES

O arquiteto-da-paisagem e escritor Carlos Fernando de Moura Delphim lembra que conheceu Beethoven em sua cidade natal, Lavras, onde nasceu e estudou. Mas só no final da década de 1970, foi reencontrar Luiz Beethoven em Brasília quando ele era o diretor do Parque Nacional de Brasília. Tão logo nos encontramos, já fomos descobrindo traços recíprocos de afinidade: o amor pelas árvores.

Para Carlos Alberto Ribeiro de Xavier, a importância da contribuição de Luiz Beethoven para a Capital Federal talvez não tenha registrado. Enquanto os governantes de todo o país se ocupavam de fechar os olhos ao desmatamento do Brasil, ele, carinhosamente, coletava sementes, plantava-as e produzia mudas que, tão logo atingiam um porte conveniente, eram distribuídas pela cidade. Justamente como Nicholas Beher, foi ele quem mais plantou e cuidou de árvores em todo o Cerrado. Os dois viveiristas e amigos – Nicolas e Beethoven – reproduziam e distribuíam as tão ameaçadas árvores do Cerrado, quando esse bioma ainda não era tão ameaçado.

Lembra Carlos Fernando de Moura Delphim, autor do projeto de paisagismo do Superior Tribunal de Justiça que, a pedido de Oscar Niemeyer, durante muitos anos ele próprio não fazia nada sem apoio de Beethoven. Tanto na área pública como projetos em jardins da iniciativa privada.

Tanto Carlos Alberto como Carlos Fernando fazem questão de salientar que não se fazia esses trabalhos por dinheiro como tantos paisagistas modernos que, em vez de uma só muda, saturam e amontoam os canteiros com um excesso de plantas que logo começam a se apinhar, a se acotovelar, muitas vindo a morrer na competição por espaço e vida.

Na comemoração dos 25 anos da Funatura, Luiz Beethoven entre os também, ex-presidentes da ONG, Henrique Brandão Cavalcanti, Herbert Schubart e Cleber Alho.

E A LUZ SE FEZ PARA BEETHOVEN

Para Carlos Fernando Moura Delphin “há criaturas que vêm a este mundo apenas para semear aquilo que é bom e belo. Tanto é, que a palavra grega calli, significa igualmente bondade e beleza. Nesse insensato mundo, essas raras criaturas deixam um rastro muito diferente do legado da maioria das pessoas. Em uma cidade onde a podridão dos poderosos impera, às custas da população trabalhadora e honesta, nem mesmo a luz infinita de um firmamento incomparável, revela ou deixa perceber exemplos como o de Beethoven, cujo trabalho nada mais visava além da satisfação de cumpri-lo”.

E finalizou dizendo: – “Beethoven não somente cultivou e plantou arvores. Como elas, lançou sua copa em direção aos céus, para onde acaba de se dirigir, dali lançando semente que só germinam e medram em terrenos férteis. Soube conviver com a podridão dos poderosos, assim como as flores o fazem com o estrume e com a matéria em decomposição. Subiu em direção à luz dos céus de Brasília, de onde agora contempla nossa humana impotência e desolação. Enquanto nós aqui permanecemos na obscuridade de nossos propósitos, para ele, a Luz se fez”.