ARBORIZAÇÃO DA SERRA DO CAPÃO ALTO-MG

PLANTIO DE ÁRVORES: DESAFIO

1 de fevereiro de 2023

A meta da ONU: plantio de 1 trilhão de árvores e a recuperação de áreas degradadas.

Silvestre Gorgulho

Os movimentos para o plantio de árvores e a busca por recuperar áreas degradadas são desafios do mundo inteiro. Hoje é a tônica de uma ação global para restauração de paisagens e solução natural que ajuda as comunidades na adaptação da redução anual de emissões de gases do efeito estuda e melhoria nos problemas das mudanças climáticas. Existem outros benefícios naturais com o plantio de árvores: florestas e plantas impedem a erosão do solo, regulam o abastecimento de água, mantem a terra fértil e equilibram a vida da fauna silvestre. Árvores são ativos econômicos essenciais para a qualidade de vida.

 

Mas todos estes movimentos de plantio de árvores dependem muito de três coisas: engajamento de instituições públicas e privadas, lideranças comunitárias e, também, o aparecimento de voluntários dispostos a enfrentar problemas de todas as ordens para o sucesso da empreitada.  Para fazer a diferença e se chegar ao objetivo do Pnuma-ONU que é o plantio de 1 trilhão de árvores no mundo, existem muitas iniciativas em todos os continentes. Por exemplo, na Índia, existem aldeias que comemoram o nascimento de bebês com o plantio de 111 árvores. No Brasil, tem pelo menos 12 cidades que plantam árvores para cada nascimento de uma criança. No Butão, o primeiro filho do rei Khesar e da rainha Jetson levou 82 mil moradores a plantar uma árvore cada. É essa conscientização coletiva que provoca uma mudança para melhoria ambiental e social do Planeta.

 

 

Os ipês plantados ao longo da Serra do Capão Alto já dão outro visual à paisagem.

 

EXEMPLO QUE VEM DE MINAS

O RESGATE DA SERRA DO CAPÃO ALTO, EM CAMPOS GERAIS, À BEIRA DO LAGO DE FURNAS

 

Da Serra do Capão se avista o Lago de Furnas…

E o Lago de Furnas e a Serra do Capão estão colados numa paisagem que se complementam em beleza e harmonia.

A Serra do Capão Alto fica no Córrego do Ouro município de Campos Gerais-MG. Bem de frente da barragem de Furnas. A Serra do Capão Alto tem quase 20km de margem com o lago. O local é uma atração turística natural da região. Aos domingos recebe visitas de bikers, tropas, jipeiros, turma do trekking e turistas. No topo da Serra existe uma linda Capela de São João Batista, construída em 1953, e um cruzeiro. O nascer e o pôr-do-sol é considerado o mais bonito da região.

Fase importante na recuperação de áreas degradadas e plantio de árvores: o trato com o solo e a proteção das mudas.

SÁVIO MARTINSENTREVISTA

Empresário e há muito tempo entusiasta de vários projetos para o plantio de árvores, Sávio Martins fala especificamente do projeto de arborização da Serra do Capão Alto e de seu engajamento como voluntário na cata de sementes, formação de mudas e plantio de árvores.

Sávio Martins e João Vitor Gorgulho estão juntos do projeto de plantio de árvores na Serra do Capão Alto, em Campos Gerais.

 

FMA – Como e por que nasceu este projeto de plantio de arvores?

Sávio – Desde a década de 90 frequentando a Serra do Capão por nós amigos e familiares, decidimos contribuir nós cuidados na capela, pintura, limpeza e muito mais. Em 2008 eu e Reinaldo fizemos as primeiras tentativas de plantar árvore, sem sucesso por causa do terreno muito rochoso. Em 2018 levei uma retroescavadeira para retirar algumas pedras e possibilitar o plantio.

FMA – Quantas árvores já foram plantadas e em que regiões?

Sávio – No total foram 160 árvores, apenas na primeira área de plantio, que nomeamos de Floresta Sagrada. A verdade é que fomos abençoados neste plantio, pois todas mudas vingaram. Isso num terreno arenoso, no meio de rochas e muito seco. Tivemos que ter muito cuidado na preparação das mudas, das covas e muito trabalho para não faltar água.

 

FMA – Quais as principais espécies de árvores plantadas e como são escolhidas?

Sávio – Essa região é o bioma misto que tem espécies de cerrado e Mata Atlântica. Uma serra. Então escolhemos espécies que se adaptam bem nessa área como copaíba, jatobá, paineira, ipês, figueira, guapuruvu, embaúba, jerivá, guatambu e também de árvores frutíferas, como amora pitanga, para atender a fauna, sobretudo os pássaros.

A Capelinha de São João Batista em noite estrelada.

FMA – Como vocês conseguem sementes para produzir mudas?

Sávio – Tudo começa com a colheita de sementes, aqui mesmo na região da Serra do Capão Alto, mas também em outras regiões próximas e até no cerrado do Centro-Oeste e na região amazônica. Nós temos um viveiro aqui perto onde tenho um sítio.

A Capelinha é sempre um ponto de encontro de visitantes e pessoas das trilhas, bikers e jipeiros.

FMA – Como conseguir apoio para o projeto e quais são os maiores apoiadores?

Sávio – Nós somos voluntários. E o número de voluntários está sempre aumentando. Mas para que possamos agir temos que ter apoio de empresas, pois o custo é alto. Buscar sementes, fazer mudas, adubo, fertilizantes e controle de pragas. Outro custo muito alto é a limpeza dos terrenos, quase sempre em serras, o preparo das covas e, depois, a manutenção das espécies plantadas. Muitas empresas já conhecem o projeto e são constantes nessa ajuda. Mas sempre estamos enviando pedidos a amigos e novas empresas. Entre os dez maiores patrocinadores estão a rede de material de construção Clube da Casa, Crabi Pré-Moldados, Fértil Agro, alguns viveiros de plantas e pequenos comerciantes da região. Tão importante como a ajuda material é a participação voluntária da população para que o projeto cresça e outras áreas, além da Serra do Capão Alto, também sejam reflorestadas.

FMA – Qual foi o projeto que trouxe a você maior alegria?

Sávio – Olha, foi o resultado positivo do primeiro plantio das árvores. Foi uma alegria ver crianças, jovens, os nossos próprios amigos e suas famílias, todos se dando as mãos em prol de uma ação ambiental e social de grande valor. São ações exemplares que motivam, ensinam e educam. Sobretudo conscientiza e mobiliza mais gente para o voluntariado.

As famílias da região participam com Sávio Martins do movimento do plantio de árvores na Serra do Capão Alto.

 

FMA – Teve algum projeto que teve de ser interrompido? Qual o motivo?

Sávio – Não! Interrompido, não. Mas tivemos problemas, porque em volta da Serra existem diversos mateiros, pessoal que tira madeira para vender, que desmatam mesmo e, evidente, além de plantar temos que vigiar para que ninguém desmate. Não é fácil.

FMA – Depois de tantos anos, qual o futuro deste projeto?

Sávio – Estamos tentando uma maneira legal. Alguma lei da prefeitura ou do estado que proteja toda a área.  A atual área pertence a uma freira, Irmã Maria Pereira, que mora em Itajubá. Como freira é herdeira da área, ela nos cedeu uns 5 hectares para que fizéssemos o plantio. Assim, estamos no aguardo para ver sobre a titularidade de toda área e assim poder apelar pela defesa da Serra. Talvez se possa fazer uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural ou até mesmo um Parque. De fato, há que se preocupar com o destino da área.