Abrolhos

Abrolhos comemora dez meses sem ratos

22 de março de 2023

Roedores colocam em perigo de extinção fauna nativa do Arquipélago

2559f6a3-f5d5-43f2-b032-7c4916867a42.png

Ratos são predadores de aves ameaçadas de extinção – Foto: Lucas Cabral

OParque Nacional Marinho dos Abrolhos, no litoral da Bahia, comemora o décimo mês consecutivo sem ratos no Arquipélago. O feito é resultado do Programa de Erradicação de roedores invasores elaborado pelo ICMBio e implementado pela unidade. O objetivo é assegurar a biodiversidade da região, posta em risco pela presença de animais que não são da fauna nativa.

Todas as ilhas do arquipélago registravam a presença do rato preto (Rattus rattus), um roedor comum nas áreas urbanas. Além dos problemas típicos que a presença dos animais pode gerar, como doenças e sujeira, os ratos da ilha ameaçavam a conservação da biodiversidade local, principalmente as aves marinhas, em especial a espécie rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus) – ameaçada de extinção no Brasil

Estudo científico publicado em 2014 indicou que, caso a erradicação ou um programa de controle de roedores exóticos não ocorresse, em menos de 100 anos a grazina-do-bico-vermelho (Phaethon aethereus) estaria extinta de Abrolhos. Seguindo o que foi realizado em diversas ilhas com o mesmo problema, como na Nova Zelândia e Geórgia do Sul, a escolha pela erradicação química foi realizada, por meio de raticidas específicos inseridos em armadilhas para os animais.

No entanto, o longo trabalho iniciou muito antes dos dez meses que se passaram sem os ratos. O Mestre e bolsista de apoio científico do GEF-Mar ICMBio Abrolhos, Lucas Cabral, participou da coordenação técnica do processo e explica que antes de iniciar a erradicação dos ratos da região, foram realizados diversos estudos para identificação do impacto causado pelos roedores, monitoramento das espécies impactadas e para traçar as melhores estratégias de manejo, minimizando os potenciais prejuízos à flora e à fauna local.

“Em 2017, começamos a monitorar as espécies impactadas pelos roedores, como as aves marinhas e os calangos. Desde então, são realizados censos mensais de contagem das populações. Esses estudos confirmam o impacto dos roedores e são importantes linhas de base para avaliar os potenciais efeitos do projeto de erradicação nas populações nativas”, esclarece Lucas Cabral.

Nos anos seguintes, a elaboração do projeto seguiu em curso até que foi construído o Projeto de Erradicação de Roedores Exóticos Invasores. De acordo com o chefe da unidade de Abrolhos na época, Fernando Repinaldo, foi realizado um intercâmbio de informações e experiências entre a unidade do ICMBio em Fernando de Noronha e a de Abrolhos, com apoio dos centros de pesquisas especializados do ICMBio, que tinham propostas semelhantes de erradicação. “Nos auxiliou a construir um método mais eficiente, para planejar uma atividade que fosse mais robusta, com respaldo técnico e científico”, explica Repinaldo.

Para execução do processo de erradicação, foi utilizado o método de controle químico, com aplicação em massa de raticida. Este é o principal método recomendado internacionalmente para a erradicação de roedores em ilhas e é o método proposto pelo ICMBio no “Guia de Orientação ao manejo de EEI em UCs Federais”.

O raticida foi inserido em estações de iscagem, que reduzem a sua disponibilização para o ambiente e o risco de consumo por outras espécies. Além disso, foram retirados o raticida excedente após cada expedição de aplicação. Para a aplicação, foi firmada uma parceria com a Marinha do Brasil. “A Marinha teve um papel importante, pois realizou apoio logístico e de equipe em campo e também possibilitou a permanência de mais servidores do ICMBio nas ilhas. Foi relevante e representou o apoio mútuo entre as instituições”, informa o chefe do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos na época, Fernando Repinaldo.

A última aplicação de raticida foi realizada em maio de 2022. A partir da data, a equipe se mantém alerta e realizando diagnósticos para identificar a presença ou ausência de roedores nas ilhas. Até o momento, ainda não foram registrados roedores ou vestígios em nenhuma das cinco ilhas do Arquipélago dos Abrolhos.

Prevenção

Para manter o sucesso da erradicação, o ICMBio elaborou um plano de prevenção, detecção e resposta rápida para combate de roedores. Nele, constam diversas medidas para serem adotadas no continente, nas embarcações e no arquipélago. “Para o plano de prevenção foram propostas diversas ações, tais como: triagem de cargas, cuidados no armazenamento e transporte de carga, gestão de resíduos sólidos nos portos que saem embarcações para Abrolhos, entre outros”, explica o bolsista de apoio científico do GEF-Mar ICMBio Abrolhos, Lucas Cabral

Os registros mais antigos de roedores na ilha foram realizados por Darwin, no século 19, que foram introduzidos nas ilhas através das grandes navegações. A erradicação representa uma vitória para a conservação da região com maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul e de proteção para os animais nativos, que tinham a sobrevivência ameaçada pela presença dos roedores.

Os meses sem os animais já apresentam resultados animadores, principalmente para as espécies ameaçadas de extinção. O monitoramento mensal de rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus) tem batido recorde de ninhos ativos desde o início do programa de monitoramento. Ou seja, os resultados já indicam aumento do sucesso reprodutivo da espécie e aumento na quantidade de filhotes.

A efetividade do projeto só pode ser concluída com pelo menos um ano de progresso, prazo que se aproxima. Mas, com os resultados colhidos até o momento, já é possível observar uma perspectiva positiva. “Os resultados obtidos até aqui nos deixam felizes e orgulhosos. É possível construir projetos grandiosos com base científica sólida cujos resultados começam a se consolidar”, conclui o chefe do Núcleo de Gestão Integrada de Abrolhos, Erismar Rocha.

Apoio

O Programa de erradicação de roedores exóticos invasores do PARNAM Abrolhos contou com financiamento do FUNBio, através do Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas (GEF Mar) e apoio de diversas instituições, como a Marinha do Brasil, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave/ICMBio), Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Restauração Ecológica (CBC/ICMBio), Instituto Tríade, Programa de voluntariado do ICMBio e universidades federais (FURG, UFAL e UFRGS).

 

 

Comunicação ICMBio

[email protected]