BRASÍLIA

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1 de abril de 2023

A REVOLUÇÃO GEOPOLÍTICA QUE VEIO COM A INAUGURAÇÃO DA NOVA CAPITAL

Silvestre Gorgulho – Jornalista, foi Secretário de Estado de Comunicação e de Cultura.

Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília foi marco na geopolítica brasileira. A construção de Brasília fez o Brasil colher um novo país do Centro-Oeste, do Cerrado e da Amazônia. Nos tempos de JK, o Brasil colheu efervescência cultural. O Brasil colheu a primeira Copa do Mundo, colheu Bossa Nova e colheu alegria. O povo brasileiro colheu o sentimento de que é capaz de construir o que parece impossível. JK plantou Democracia. E o Brasil colheu Paz!

 

Brasília nasceu de uma equação política fantástica. Sua construção teve um líder obstinado que concebeu uma fórmula realista de gestão. O presidente Juscelino Kubitschek chamou o então deputado federal Israel Pinheiro e recomendou: – Vai lá e faz acontecer!

Em 16 de março de 1957, foi anunciado vitorioso o projeto do Plano Piloto de Lucio Costa. Começou a nascer a nova capital do Brasil. Hoje, Brasília é um parque de árvores e de artes. Cérebro das mais altas decisões nacionais.

Concebida em 1956 e iniciada em 1957, Brasília nasceu solenemente no dia 21 de abril de 1960. Um ano e pouco para adequar à burocracia das leis. Mais um tempo para plantar no chão a abstração dos desenhos e gráficos. De abril de 1956 a março de 1957 foi tempo da gestação. Depois, mãos à obra.  Foram 1.112 dias de construção.

Vale lembrar: em 18 de abril de 1956 foi assinada a Mensagem de Anápolis. Em 19 de setembro foi criada a Novacap e, dia 30 de setembro desse mesmo ano, foi publicado no Diário Oficial o edital do concurso.

Sobre a Mensagem ao Congresso, o nome oficial ficou Mensagem de Anápolis.  A história é inusitada.

Corria a tarde do dia 18 de abril de 1957, quando o ministro Álvaro Lins, da Casa Civil, chega ao gabinete presidencial, no Palácio do Catete, com a Mensagem ao Congresso para JK assinar. Israel ficou sabendo. Correu lá no gabinete e ponderou:

– Presidente, como o senhor está indo agora à noite a Manaus, que tal o avião fazer uma parada rápida em Goiânia e assinar, lá mesmo no aeroporto, este documento seminal da construção de Brasília?

JK gostou da ideia. Perguntou se havia como avisar o governador Juca Ludovico.  Tempos difíceis de comunicação! Foi consultado o ministro Nelson de Mello, do gabinete militar. Resposta:  – Sim, via rádio amador.

Assim, lá pelas 20 horas, a comitiva presidencial pega o avião C-47 da FAB, com destino a Manaus, com parada programada em Goiânia.

O governador Juca Ludovico, por sua vez, convoca Goiânia em peso para estar no aeroporto, a partir da meia-noite. Queria homenagear JK e estar com ele na assinatura da importante Mensagem.

O pior acontece. Mau tempo em Goiânia. O C-47, após várias tentativas de aterrissagem, alertado pelo comandante, desloca-se para o aeroporto mais perto: Base Aérea de Anápolis. Precisava de reabastecimento. Eram 5h30min da madrugada. Num botequim, depois de uma “média com pão e manteiga”, na presença da comitiva e de alguns curiosos, JK assina a Mensagem. Antes, risca a palavra Goiânia e escreve Anápolis. Daí, “Mensagem de Anápolis”.

 

Em 16 de março de 1957, começou o milagre da redescoberta do Brasil. A partir daí, escolhido o projeto Lucio Costa, começam a desaparecer as fronteiras que impediam que o mar conhecesse o sertão e o sertão conhecesse o mar. Foi o encontro geográfico do Brasil litorâneo onde, há 457 anos estavam as benesses do poder, com o Brasil real, onde tudo era longe e tudo estava para ser conquistado. JK, sempre determinado e com um entusiasmo cívico incomum, conclamou o melhor da inteligência nacional e os mais fortes candangos para dar a largada. E os dois Brasis se uniram.

11 de MARÇO de 1957 – Às 18 horas, encerra-se o prazo de inscrição do concurso para escolha do projeto do Plano Piloto. São entregues 26 projetos no prédio do MEC, Rio de Janeiro.

12 de MARÇO de 1957 – É instalada a Comissão Julgadora, sob a presidência de Israel Pinheiro. Participam Oscar Niemeyer, o arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, representando o Instituto de Arquitetos do Brasil, e o engenheiro Luiz Hildebrando Horta Barbosa, do Clube de Engenharia. Niemeyer fez questão de trazer três consultores internacionais. Os melhores da época: o inglês Willian Holford, o francês André Sive e o norte-americano Stamo Papadaki. O trabalho foi secretariado por Erasmo Martins Pedro.

14 de MARÇO de 1957 – Impasse entre os membros da comissão julgadora. Paulo Antunes, representante do IAB, recusa-se a votar num dos 10 projetos pré-escolhidos pelo grupo. Argumenta que Lucio Costa fez uma ideia e não um projeto.  Sugere um outro projeto, o número 11. Israel Pinheiro sugere que Paulo Antunes faça um relatório e vote em separado. Antunes apresenta outra solução: o tapetão, ou seja, a composição de uma equipe formada pelos autores dos dez projetos previamente selecionados (mais o número 11 que ele queria) para elaboração de um novo Plano Piloto. Israel Pinheiro coloca o relatório do IAB em votação. Há uma recusa formal da comissão.

16 de MARÇO de 1957 – É anunciado o projeto de Lucio Costa como vencedor. Lucio Costa adota um conceito simples e universal do encontro de dois eixos; o Monumental e o Rodoviário. O projeto foi o vencedor não pelo seu detalhamento e sofisticação, mas pela original e fantástica concepção urbanística. Holford, o consultor inglês e maior nome do urbanismo mundial na época, que não falava português, mas sim inglês, espanhol e italiano, foi mais longe:

– “O projeto de Lucio Costa tem inventividade. Eu o li três vezes. Na primeira não entendi. Na segunda, eu entendi e vi que era o único com inventividade. Quando eu li pela terceira vez, I ENJOYED”.

21 DE ABRIL DE 1960 – JK inaugura Brasília, a nova capital do Brasil. Na instalação do Congresso Nacional, o deputado Ranieri Mazzilli proclama: “Mais que um milagre da vontade humana, Brasília é um milagre da fé”! Nesse mesmo dia, Assis Chateaubriand coloca na rua a primeira edição do Correio Braziliense, resgatando o nome do jornal feito por Hipólito José da Costa em 1808. A inauguração da nova capital força a interiorização do desenvolvimento e abre o Planalto Central como nova fronteira do agronegócio e da industrialização.

 

BRASÍLIA é um parque de árvores e de artes. Cérebro das mais altas decisões nacionais. (foto: Bento Viana)