Folha do Meio Ambiente

Servidores do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, do Núcleo de Gestão Integrada São Luís e da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba participaram do resgate de um filhote de peixe-boi- marinho (Trichechus m. manatus) encontrado por pescadores do Povoado de Travosa, em Santo Amaro (MA). A mobilização do resgate e os primeiros cuidados teve início na noite de terça-feira (28/03), e se estendeu até a quarta-feira (05/04), quando o filhote foi transferido para base avançada do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), localizada na ilha de Itamaracá (PE), por uma aeronave fretada pelo governo do estado do Piauí.

Segundo relatos dos pescadores da região, este filhote apareceu na praia entre quatro e cinco vezes. Por conta do difícil acesso e a baixa conexão à internet, a comunicação entre os pescadores e o ICMBio não ocorreu a tempo de atender os chamados anteriores e o filhote foi então devolvido para a água, mesmo sem a presença de outros indivíduos ou com orientação técnica do ICMBio ou instituição local com expertise nestes atendimentos. No dia 28 de março, no entanto, o reaparecimento do peixe-boi-marinho foi informado a uma equipe do NGI São Luís e Parna Lençóis que realizavam uma operação de fiscalização na região. Segundo o analista ambiental do NGI São Luís e coordenador da operação de fiscalização, Paulo Afonso, ao receberem a informação de encalhe de um filhote de peixe-boi-marinho a equipe se deslocou imediatamente para o local. “Visitamos esse povoado pela manhã durante a operação de fiscalização contra o corte ilegal de madeira de mangue, quando, no final da tarde, recebemos a informação da ocorrência de um encalhe de peixe-boi marinho. Imediatamente retornamos ao local a fim de averiguar a situação e resguardar o filhote até a chegada da equipe de apoio, também do ICMBio, para o resgate”, explica o analista ambiental.

Os primeiros cuidados foram realizados ainda no local para que o mamífero fosse transportado no dia seguinte para base do peixe-boi-marinho da APA Delta do Parnaíba, no litoral do Piauí. Segundo o biólogo e agente ambiental, Matheus Silva, o filhote macho, medindo 1,26cm de comprimento e pesando 32kg estava bastante desidratado, com a pele ressecada e peso abaixo do esperado, provavelmente, devido aos consecutivos encalhes. “Já estávamos monitorando esse filhote com apoio dos pescadores da comunidade, enfim conseguimos resgatá-lo. O apoio de todos os parceiros envolvidos foi fundamental para o sucesso desta operação de resgate”, ressalta. O local onde o mamífero foi encontrado fica dentro dos limites do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e a 5 km da Reserva Extrativa da Baía do Tubarão, região onde já foi identificada uma das populações de peixe-boi-marinho mais abundante na costa brasileira. Entretanto, na localidade do encalhe, ainda não havia registro da espécie, o que causou grande surpresa para a equipe.

Filhote recebe nome: Amaro

A APA Delta do Parnaíba promoveu uma campanha aberta para a escolha do possível nome do mamífero, sendo as opções de votação escolhidas tanto por comunitários quanto pela equipe de resgate. Após votação por meio das redes sociais, o filhote foi batizado de “Amaro”, que homenageia tanto os moradores quanto o local onde ele foi resgatado: dentro de uma lagoa em Santo Amaro do Maranhão. Além disso, outra lembrança foi levada em consideração durante a escolha do nome do filhote, “o milagre do Santo Amaro”. Na história do catolicismo popular, contam que Santo Amaro salvou, caminhando sobre as águas, um companheiro que se afogava em um lago. “Isso nos remete à própria sobrevivência do filhote de peixe-boi-marinho”, compartilha a equipe de resgate.

Mesmo com uma melhor estabilidade em função do atendimento clínico realizado pelo CMA e do empenho da equipe da APA Delta do Parnaíba, ao chegar na base avançada do CMA, na Ilha de Itamaracá/PE, animal ainda estava em grande risco de morte e sem conseguir se alimentar devidamente. Segundo a veterinária do CMA Fernanda Attademo, após os primeiros dias, foi dado início a um intenso trabalho de recuperação do filhote e tentativa de ensiná-lo a se alimentar, para que se adaptasse a dieta artificial e recebesse os suprimentos necessários para estabilização. “O filhote vem reagindo satisfatoriamente e já consegue tomar a mamadeira sem contenção, aceitando bem a alimentação e com quadro clínico mais estável”, comenta.

Até 2012, o ICMBio/CMA era o único local para recebimento de filhotes de peixes-bois-marinhos encalhados, tanto para o processo de reabilitação quanto de aclimatação. Desde então, por incentivo do Centro, outras instituições passaram a manter e soltar estes animais, nos locais mais próximos do resgate, para desta forma contribuir com a conservação da espécie em toda a área de abrangência da espécie. Atualmente, o ICMBio/CMA possui 14 peixes-bois, dos quais três são do Piauí e dois são do Maranhão, incluindo o Amaro. A expectativa é que estes animais possam ser soltos o mais próximo possível de sua área de encalhe.

Comunicação ICMBio

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