Arara-azul

A AVE E O VENTO

1 de junho de 2023

Em risco de extinção, Arara-azul de Lear freia projeto eólico em Canudos

Canudos, no norte da Bahia, região do semiárido nordestino, tem ventos fortes e velocidade estável. A região concentra mais de 90% da produção nacional de energia eólica e o governo Lula pretende torná-la o maior ‘celeiro de renováveis’ do mundo. O parque eólico em Canudos deveria abrir as portas à energia limpa na região do sertão baiano. Mas preocupações com outro tipo de impacto ambiental confrontam o projeto com moradores e protetores da arara-azul-de-lear, uma espécie em risco de extinção.

Raso da Catarina: Atualmente não há mais de 2.000 exemplares de arara-azul-de-lear na natureza.

A companhia francesa Voltalia obteve permissões e começou a construir, em 2021, um complexo eólico com 28 turbinas com capacidade para produzir 99,4 megawatts no município de Canudos. Mas rapidamente, o projeto se deparou com uma parede de críticas após a divulgação de que as enormes torres de 90 metros, com aerogeradores de 120 metros, atravessam duas áreas onde a arara-azul-de-lear pernoita.

Arara-azul de Lear imortaliza o nome do poeta e viajante inglês Edward Lear, que identificou essas aves em um de seus desenhos, no século XIX. Elas são araras endêmicas e foram classificadas como espécie no fim dos anos 1970. Atualmente não há mais de 2.000 exemplares na natureza.

Para Marlene Reis, do Projeto Jardins da Arara-de-lear o projeto é muito arriscado e poderá aumentar consideravelmente os riscos de extinção. Acrescenta Marlene Reis: O impacto do complexo eólico pode ser irreversível, especialmente para um bicho tão emblemático como é o caso da arara, que habita e se reproduz, única e exclusivamente, nessa região.

JUSTIÇA PARALISA PROJETO

Em abril, a justiça federal entrou em ação e levando em conta todos os argumentos dos biólogos, paralisou a construção das turbinas (já em fase final), derrubando as permissões dadas pelo estado da Bahia à Voltalia.

Para a justiça federal, um complexo eólico situado no território de espécies ameaçadas ou em rotas de aves migratórias não pode ser considerado de baixo impacto ambiental. A corte ordenou fazer estudos mais rigorosos, assim como consultar as populações locais.

SUSPENSÃO

Para a Voltalia, fundada em 2005, hoje uma produtora de energia e um prestador de serviços internacionais, que atua em quatro estados brasileiros e 20 países, a suspensão judicial “indevida”. Por isso recorreu da decisão.

Para Nicolas Thouverez, executivo da Voltalia no Brasil, os estudos solicitados pelas autoridades indicaram que a instalação dos parques eólicos “de nenhum modo coloca a conservação da espécie em perigo e demostraram a viabilidade ambiental do projeto”.

A empresa argumentou, ainda, que o impacto pode ser minimizado pintando as pás das turbinas para aumentar sua visibilidade, colocando GPS nas aves ou instalando tecnologia que permite deter imediatamente as máquinas ao detectar o sobrevoo das araras.

Em tempo:

  • O Brasil detém o maior percentual de eletricidade limpa do G20 (89%) e é líder na América Latina em geração de energia a partir de fontes renováveis.
  • As usinas eólicas e solares geram 27 gigawatts (21,5 e 5,4, respectivamente) e outros 217 gigawatts são esperados até 2030 (Relatório do Global Energy Monitor).