COOPERAÇÃO REGIONAL

Cúpula da Amazônia é oportunidade para novos paradigmas sustentáveis, diz Marina Silva

7 de agosto de 2023

Ministra participou do último dia dos Diálogos Amazônicos ao lado de outras autoridades climáticas da região

mma

Ministra Marina Silva participa de encerramento dos Diálogos Amazônicos

OMinistério do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi anfitrião neste domingo (6/8) de uma plenária no último dia dos Diálogos Amazônicos, evento que reuniu em Belém (PA) representantes de governos pan-amazônicos e da sociedade civil para discutir os problemas e soluções para a maior floresta tropical do planeta antes da Cúpula da Amazônia, nos dias 8 e 9. Em seu discurso, a ministra Marina Silva defendeu que é momento de pensar coletivamente em novos paradigmas para promover o desenvolvimento sustentável da região.

Marina discursou no painel “Mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias da Amazônia: manejo sustentável e os novos modelos de produção para o desenvolvimento regional” ao lado do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e das ministras do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhammad, e do Peru, Albina Ruiz. Marina argumentou que uma nova abordagem é necessária para fazer frente à crise climática e suas consequências.

“Agora é um momento de reconhecermos que vamos precisar de novas palavras, novos paradigmas, novas formas de governar. Reconhecendo o saber milenar das populações tradicionais, estabelecendo um novo ciclo de prosperidade que fortaleça a democracia, que combata as desigualdades, mas que faça isso com sustentabilidade”, discursou ela. “O que nós estamos desestabilizando precisa ser estabilizado em novas bases”.

O evento com Marina foi uma das cinco plenárias-síntese dos Diálogos, em que serão elaborados relatórios para serem entregues aos presidentes que participarão da Cúpula da Amazônia. Será o primeiro encontro dos oito países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e seus convidados em 14 anos.

Diante da mudança do clima e das transformações sociais, políticas e econômicas, o contexto atual é diferente daquele em que o Tratado de Cooperação Amazônica foi criado há 45 anos, quando uma “visão desenvolvimentista” era dominante, disse a ministra. Hoje os países já entendem que combater a destruição do bioma é imperativo, e buscam promover uma ação conjunta por meio de posicionamentos comuns, explicou Marina, afirmando estar “claro que o crescimento não é linear e o progresso não é constante”.

“Essa Cúpula da Amazônia em pleno século XXI, em mudança do clima, em mudança social, política e econômica, em esgotamentos muito profundos, tem que sair daqui com compromissos éticos”, afirmou Marina.

A ministra colombiana Susana Muhammad defendeu maior cooperação para desenvolver as economias locais de forma sustentável e promover o desenvolvimento em harmonia com a natureza. Já a peruana, Albina Ruiz, destacou entre outros pontos a importância da bioeconomia para reduzir a vulnerabilidade das comunidades locais.

Ministra Marina Silva ao lado das ministras do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhammad, e do Peru, Albina Ruiz

Bioeconomia foi tema da plenária “Diálogos sobre Bioeconomia Amazônica: Transformação Rural Inclusiva”, da qual participou o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco. Ele defendeu que é prioritário pôr fim à destruição da floresta e à agressão contra povos originários:

“Essa tarefa inicial abre a janela de oportunidades para implementar a mudança estrutural no modelo de desenvolvimento econômico da Amazônia”, disse ele, lembrando que o desmatamento na Amazônia caiu 42,5% nos sete primeiros meses de 2023.

Neste domingo, Marina participou ainda do evento “Religiões em Ação por uma Amazônia Sustentável”, ação da Iniciativa Inter-religiosa Pelas Florestas Tropicais (IRI) do Brasil, Colômbia e Peru. Depois, teve uma audiência com o ministro do Planejamento Territorial e Meio Ambiente do Suriname, Marciano Dasai, com quem conversou sobre a cúpula e oportunidades para expandir as parcerias na agenda climática.

Houve também uma reunião com Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). As duas delegações conversaram sobre os esforços brasileiros para combater a crise climática e a candidatura de Belém (PA) para sediar a COP30, em 2025.

Na véspera, Marina já havia realizado reuniões bilaterais com a ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social da República do Congo, Arlette Soudan-Nonault; com a presidente da Funai, Joenia Wapichana, e com uma delegação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), chefiada pela vice-diretora-geral do órgão, Maria Helena Semedo.

Também no sábado, Marina participou do painel “Mulheres pelo bem viver: justiça climática e combate às desigualdades”, do qual também participaram as ministras das Mulheres, Cida Gonçalves, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, além da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana. Em seu discurso, destacou como a crise climática afeta mais drasticamente pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.

“Quem destrói menos? São os indígenas e as pessoas mais pobres. Isso tem a ver com injustiça climática, porque aqueles que preservam mais pagam o mesmo preço. Aqueles que emitem mesmo pagam o mesmo preço, e muitas vezes não tem para onde ir”, afirmou Marina durante a conversa, que teve também representantes do Ministério dos Povos Indígenas, da academia e de lideranças quilombolas, indígenas e de movimentos defensores dos direitos das mulheres.

A importância dos povos originários para a preservação também foi abordada durante uma participação na sessão sobre a Política de Gestão Ambiental e Territorial Indígena como perspectiva para garantia da posse das terras indígenas.