NAVEGAR É PRECISO

A FORÇA DA ENERGIA EÓLICA

1 de setembro de 2023

Na terra, no mar e nos transportes marítimos

Silvestre Gorgulho

Navegar é preciso. Além da precisão – exatidão e rigor técnico – é preciso e indispensável diminuir os custos das operações para que tudo corra bem. E tem mais: além da diminuição dos custos, há necessidade de buscar a sustentabilidade, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis. A energia eólica é gerada a partir da energia cinética dos ventos que movimenta as pás e ativa os aerogeradores (turbinas). Esse movimento gera energia mecânica, que é transformada em energia elétrica por meio da indução eletromagnética que ocorre em um gerador. Mas, no caso dos navios, o uso da energia eólica tem duas modalidades: 1) como no passado, o uso de grandes velas para movimentar a embarcação. 2) ou a energia eólica (ou também solar) para carregar baterias para impulsionar os navios. O fato é que a modernidade chegou e a tecnologia alternativa avança pela necessidade dos navios diminuírem em até 30% o consumo de combustíveis fósseis.

 

NAVIO CARGUEIRO MOVIDO A VENTO ESTREIA VIAGEM AO BRASIL

Desde 2019, a Cargill, Mitsubishi, BAR Tech e a Yara Marine trabalham no desenvolvimento de uma nova tecnologia de propulsão auxiliada pelo vento para seus navios cargueiros. A parceria entre as quatro gigantes surtiram o efeito e, agora em 2023, navios cargueiros se lançam ao mar com a implantação de dois propulsores eólicos que aceleram significativamente o impulso rumo a descarbonização. A sustentabilidade avança e o meio ambiente agradece.

Viagem inaugural do navio movido a vento. O Pyxis Ocean é equipado com velas especiais gigantes, chamadas WindWings, e partiu da China. Deve chegar ao porto de Paranaguá no final de setembro (Foto: Divulgação/Cargill)

O FUTURO CHEGOU. A VOLTA DAS VELAS

A tecnologia para propulsão de grandes cargueiros volta ao passado utilizando velas. Além da energia eólica, outras tecnologias estão em experimento, como o navio da Tesla, cargueiro alimentado por baterias que podem ser carregadas por energia solar e eólica. O fato é que a modernidade nos grandes transportes marítimos chegou.

O combustível fóssil perdendo espaço nos mares pelo uso das velas ou, como na foto, de baterias carregadas por energia solar ou eólica.

A FORÇA MOTRIZ DOS NAVIOS

No início, a força era do braço do homem com remos. Depois vieram as velas das caravelas. Há uns 200 anos, os navios começaram queimando combustíveis fósseis. Primeiro o carvão para aquecer caldeiras e depois o diesel dos motores de explosão. A modernidade dos combustíveis fósseis significava também muita poluição, pois navios queimam óleo pesado não muito refinado. Isso significa uma alta poluição pela grande quantidade de óxido de enxofre e compostos de óxido de azoto quando queimado, ou seja, emissão alta de CO2. Para uma frota mundial de navios calculada em 100 mil embarcações de grande porte, a poluição está na casa de 830 milhões de automóveis usando gasolina.

VELAS DE ROTOR

As inovações não param. A empresa de transporte marítimo global Maersk programa instalar “velas de rotor” para um de seus petroleiros, como uma forma de reduzir os custos de combustível e emissões de carbono. A empresa de tecnologia, a Norsepower, finlandesa, diz que este é o primeiro sistema de ‘retrofit’ de energia eólica num petroleiro”. E o tema hoje mexe com a indústria naval. O vento volta a ser estudado como o grande propulsor das grandes embarcações.

Ilustração: rotaractclubpalmaresdosul.blogspot.com

NAVIO CARGUEIRO ‘MOVIDO A VENTO’ ESTREIA EM VIAGEM AO BRASIL

No final de setembro, o porto de Paranaguá, no Paraná, recebe viagem-teste de primeiro navio cargueiro “movido a vento”.

(Reportagem da BBC Londres) Um navio de carga equipado com velas especiais gigantes movidas a vento partiu em sua viagem inaugural. A empresa de transporte marítimo Cargill, que fretou a embarcação, diz esperar que a tecnologia ajude a indústria a caminhar em direção a um futuro mais verde.

O uso das grandes velas (ou “asas”) WindWings, de design britânico, visa a reduzir o consumo de combustível e, portanto, a pegada de carbono do transporte marítimo.

Estima-se que a indústria seja responsável por cerca de 2,1% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2).

A primeira jornada do navio Pyxis Ocean será da China para o Brasil — e servirá como o primeiro teste da tecnologia no mundo real.

Dobradas quando o navio está no porto, as velas são abertas depois da embarcação zarpar. Elas têm 37,5 metros de altura e são construídas com o mesmo material das turbinas eólicas, o que as torna mais duráveis.

Permitir que uma embarcação seja levada pelo vento, em vez de depender apenas de seu motor, pode reduzir as emissões de um navio de carga em até 30%.

Jan Dieleman, presidente da Cargill Ocean Transportation, disse que a indústria está em uma “jornada para descarbonizar”. Ele admite não haver uma “bala de prata”, mas disse que essa tecnologia demonstra a rapidez com que as coisas estão mudando.

“Cinco, seis anos atrás, se você perguntasse às pessoas sobre descarbonização, elas diriam ‘bem, vai ser muito difícil, não vejo isso acontecendo tão cedo'”, disse ele à BBC.

TECNOLOGIA BRITÂNICA

Duração da viagem do ‘Pyxis Ocean’: mais ou menos seis semanas para chegar ao Brasil.

A tecnologia usada na embarcação foi desenvolvida pela empresa britânica BAR Technologies, que surgiu da equipe do velejador britânico Ben Ainslie na Copa América de 2017, uma competição chamada por muitos de “Fórmula 1 dos mares”.

“Este é um dos projetos mais lentos que já fizemos, mas sem dúvida com o maior impacto para o planeta”, disse à BBC o chefe da equipe, John Cooper, que trabalhava para a McLaren, da Fórmula 1.

Ele acredita que esta viagem marcará uma virada para a indústria marítima.

“Prevejo que até 2025 metade dos novos navios serão encomendados com propulsão eólica”, disse ele.

“A razão pela qual estou tão confiante é a economia – uma tonelada e meia de combustível por dia. Com quatro ‘asas’ em uma embarcação, são seis toneladas de combustível economizadas, ou seja, 20 toneladas de CO2 economizadas. Por dia. Os números são enormes.”

“A energia eólica pode fazer uma grande diferença”, diz Simon Bullock, pesquisador de navegação no Tyndall Centre, na Universidade de Manchester. Ele disse que novos combustíveis mais limpos levarão tempo para surgir, “então temos que mergulhar de cabeça em medidas operacionais em navios existentes, como modernizar embarcações com velas, pipas e rotores”. (BBC – Londres).