ÁRVORE E PRIMAVERA EM POESIA
1 de setembro de 2023Setembro é o mês da Primavera e do Dia da Árvore no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Então, nada melhor que do lembrar um belo soneto de Augusto dos Anjos.
A ÁRVORE DA SERRA
Augusto dos Anjos
– As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho…
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
– Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…
Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!…
– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
PRIMAVERA
Augusto dos Anjos
Primavera gentil dos meus amores,
– Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o Céu cintilações sidéreas
E a terra chova no teu seio flores!
Esplende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola azul, dos dias teus risonhos,
Tu que sorveste o fel das minhas dores
E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!]
Cedo virá, porém, o triste outono,
Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir o eterno sono,
Num sepulcro de rosas e de flores,
Arca sagrada de cerúleos sonhos,
Primavera gentil dos meus amores!
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AUGUSTO DOS ANJOS, O POETA TRISTEZA
AUGUSTO DOS ANJOS é patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras, ocupada hoje pelo jornalista e escritor José Nêumanne Pinto. O poeta também é patrono da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
“Vês! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de tua última quimera./ Somente a ingratidão – esta pantera – / Foi tua companheira inseparável!”
(…)
“Toma um fósforo. Acende teu cigarro! / O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
(…)
Original, mas muito crítico. Quase sempre é amargo e pessimista. Sua poesia tem a marca da solidão e pela teratologia (Ciência que estuda as deformidades orgânicas) exacerbada, por imagens de dor, horror e morte. Chega a reduzir a vida a combinações de elementos químicos, físicos e biológicos.
“Eu, filho do carbono e do amoníaco, / Monstro da escuridão e rutilância,/ Sofro, desde a epigênese da infância, / A influência má dos signos do zodíaco”.
CRONOLOGIA
- 1884 – Augusto dos Anjos nasce no Engenho de Pau d’Arco, hoje município de Sapé-PB.
- 1907 – Forma-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco.
- 1908 – Dedica-se ao magistério sendo professor do Liceu Paraibano.
- 1910 – Casa-se com Ester Fialho e no mesmo ano transfere-se para o Rio de Janeiro onde foi professor na Escola Normal e no Colégio Pedro II.
- 1912 – É publicado seu único livro “EU”. O livro foi republicado em 1919 com um novo título: “Eu e outros poemas”.
- 1913 – Transfere-se para a cidade mineira de Leopoldina para ser diretor do Grupo Escolar.
- 1914 – Aos 30 anos, falece em Leopoldina no dia 12 de novembro.