AS NASCENTES HISTÓRICA E GEOGRÁFICA DO VELHO CHICO
1 de setembro de 2023Em homenagem a GERALDO GENTIL VIEIRA a Folha do Meio publica reportagem feita em abril de 2004, quando o jornal noticiou em primeira mão o grande trabalho científico do agrônomo da Codevasf que identificou a verdadeira nascente geográfica do Rio São Francisco.
QUEM FOI GERALDO
GENTIL VIEIRA
Geraldo Gentil Vieira (30/março/1948 – 27/maio/2023) foi um engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras-UFLA (1975), especializado em Irrigação e Solos pelo IICA/FAO e pela Codevasf, também pelo The Egyptian International Centre for Agriculture-EICA, Cairo, Egito. Trabalhou na Codevasf na área de Geoprocessamento.
O mais importante disso tudo é que Gentil Vieira foi um apaixonado pelas questões ambientais e se dedicou muito em pesquisa sobre recursos naturais. Foi também o idealizador e coordenador técnico de duas grandes expedições: “Parnaíba Vivo”, em abril e maio de 2001, e “Américo Vespúcio”, em novembro e dezembro de 2001. Ambas as expedições foram inéditas, pois a equipe navegou de ponta a ponta os dois maiores rios que banham a região Nordeste: o São Francisco e o rio Parnaíba.
Geraldo Vieira era GENTIL até no nome.
Sonhador, gentil, desbravador e apaixonado pelas questões ambientais, o engenheiro-agrônomo Geraldo Vieira fez história ao identificar a nascente geográfica do rio São Francisco, no Planalto de Araxá, no município de Medeiros. Ele próprio preservou a nascente da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, como histórica. Na Folha do Meio Ambiente, Geraldo Gentil Vieira, idealizador da Expedição Américo Vespúcio, que percorreu os 2.863,30 km do Velho Chico, ocupou um espaço significativo para contar lendas, falar da cultura e propor ações políticas na defesa e revitalização das bacias do São Francisco e do rio Parnaíba. Geraldo Gentil Vieira deixou um forte legado científico e cultural. Iguatama, sua terra natal às margens do Velho Chico, a Codevasf e o Brasil devem muito às ações e pesquisas desse companheiro que tinha um amor especial por este País. (SG)
A Folha do Meio mostra na edição 147, de maio de 2004, a confluência história e geográfica do rio São Francisco. Entrevista importante com o engenheiro-agrônomo Geraldo Gentil Vieira
AS DUAS NASCENTES
DEPOIMENTO DE GERALDO GENTIL
O próprio Geraldo Gentil Vieira começou a contar a verdadeira história da nascente do São Francisco, tão logo voltou da expedição: “Ao retornar aos quadros da Codevasf em 1999, queria tirar uma dúvida. Afinal, nasci e vivi nas barrancas do rio São Francisco, na cidade de Iguatama, em Minas Gerais. Queria saber a extensão exata do Velho Chico e descobrir sua verdadeira nascente”. Na verdade, Gentil Vieira sabe a o valor das medidas: “Tal como as pessoas têm a sua estatura, os rios têm suas medidas. Alguns deles não estão contentes com a sua altura. Assim, o orgulhoso Amazonas, o maior rio em volume de águas e até bem pouco tempo o segundo em tamanho com 6.436 km, é alvo atual de expedições aos píncaros andinos e de intensas medições e avaliações em modelos e imagens digitais para superar o faraônico Nilo, com os seus 6.693 km bem vividos”. E por que com o nosso velho guerreiro São Francisco ocorre o contrário? Por que teimam em encurtá-lo? Por que os 2.700 km redondos?
Gentil Vieira responde com a autoridade de um descobridor: “Não concordo que o São Francisco tenha menos de 3.001 km de extensão. Conheço-o desde menino. Sei que ele cai no Samburá, seu primeiro “grande” afluente, que por sua vez já recebeu as águas do Santo Antônio”. E Gentil Vieira pergunta com razão: “Como um rio maior pode ser afluente do menor? Como pode ser mais importante do que seu afluente? A verdade é cristalina como as águas de todas as nascentes do mundo: o São Francisco é afluente do rio Samburá.”
PICO DA BANDEIRA E PICO DA NEBLINA
Como o Pico da Bandeira até há alguns anos era o ponto culminante do Brasil e perdeu essa hegemonia para o Pico da Neblina, assim também parece acontecer com a nascente do São Francisco. Explicação? Gentil Vieira tem na ponta da língua, do lápis e do computador: “É só buscar imagens de satélite, fazer novas expedições para comprovar essa realidade. É só ir lá na confluência no cânion (3) de São Leão, uma beleza natural que poucos conhecem e ver as águas barrentas do São Francisco caindo no cristalino rio Samburá.”
No século 17 os bandeirantes deliberaram e batizaram o curso principal do São Francisco fascinados pela majestosa cachoeira Casca d’Anta, apelidada de cachoeira catedral, do alto dos seus 162,828 metros. Segundo Gentil Vieira a nascente do São Francisco está a 98,12 km acima do encontro com o rio Samburá. Enquanto o São Francisco nasce a 1.469 metros de altitude, o Samburá nasce no planalto de Araxá a 1.254,66 metros. O Samburá tem precisamente 147,30 km de extensão até encontrar o São Francisco e o São Francisco exatos 98,12 km até encontrar o Samburá. Desta confluência até a foz são 2.716 km.