Pesquisa desenvolve técnicas para produção de teca em sistemas ILPF
8 de setembro de 2023Ao planejar seu sistema ILPF, o produtor deve definir se utilizará o componente arbóreo como adição ou substituição de renda
Produtores rurais contam agora com um pacote completo de técnicas de manejo para usar a teca (Tectona grandis) como componente arbóreo em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Esse conhecimento se deve, especialmente, ao pioneirismo de produtores como Arno Schneider, de Santo Antônio do Leverger (MT), e Antônio Passos, de Alta Floresta (MT), que apostaram no uso dessa árvore em sistemas silvipastoris antes mesmo de haver informações técnicas ou pesquisas que atestassem sua viabilidade.
Os erros e acertos cometidos por eles em cerca de 15 a 20 anos e as pesquisas desenvolvidas na última década possibilitaram a abertura de caminho para novos produtores que pensam em utilizar a espécie florestal em ILPF.
As experiências desses pioneiros, os resultados obtidos por eles e as pesquisas realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril (MT) estão reunidas em um capítulo dedicado ao uso da teca em sistemas ILPF que acaba de ser publicado no livro “Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil” (ver quadro abaixo).
A publicação reúne, pela primeira vez, recomendações que vão desde o preparo da área para plantio das mudas até a condução das árvores com desbastes e desramas (podas), passando pela definição de espaçamentos e configuração dos renques de árvores.
O trabalho feito pelos pesquisadores da Embrapa Maurel Behling e Flávio Wruck mostra que, ao planejar seu sistema ILPF, o produtor deve definir se utilizará o componente arbóreo como adição ou substituição de renda.
“Em sistemas de ILPF, com foco na pecuária, a implantação de linhas simples facilita o manejo das árvores, exigindo menor demanda de mão de obra. Por outro lado, o sistema pode ser configurado para privilegiar a produção de teca com maior densidade de árvores por área. Nessas configurações, o carro-chefe do sistema passa a ser a teca e pode-se assumir que as perdas de produtividade nos componentes agrícola ou pecuário serão compensadas pelas receitas geradas com as árvores, ou seja, há uma substituição de receitas”, explica Behling.
Livro sobre TecaO livro “Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil“ foi publicado pela Embrapa Florestas e está disponível gratuitamente para download. A publicação reúne em seus 18 capítulos um grande acervo de informações sobre a cultura da teca no País. A obra teve como editores técnicos os pesquisadores Cristiane Reis, Edilson de Oliveira e Alisson Santos e contou com participação de 47 autores da Embrapa, de universidades, empresas privadas e outras instituições parceiras. |
As pesquisas realizadas mostram que, considerando a meta de uso da madeira para serraria, atividade em que a teca tem o seu maior valor agregado, o plantio deve ser feito em linha simples com espaçamento de 4 metros entre as plantas.
No caso de o plantio ser feito em linhas duplas ou triplas, deve ser adotado o arranjo quincôncio, ou seja, com as árvores de linhas vizinhas formando um triângulo. Isso evita a competição lateral. A distância entre os renques varia conforme o interesse do produtor e seu maquinário, sendo a recomendação mínima de 16 metros para que se mantenha a entrada de luz para a pastagem.
Arte: Maurel Behling
Maior crescimento na ILPF
As árvores de teca em ILPF demonstraram maior crescimento do que árvores cultivadas em plantios homogêneos. Dados mensurados na Fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), mostraram que, aos 11 anos, as árvores no sistema ILPF estavam mais altas e com o diâmetro à altura do peito (DAP) 52% maior do que aquelas árvores do plantio homogêneo em talhão instalado ao lado.
Dependendo do número de plantas por hectare, será necessária a realização de cortes seletivos anteriores visando aumentar a entrada de luz no sistema e reduzir a competição entre as árvores. Nos anos iniciais, a madeira desse desbaste pode ser usada para energia ou fabricação de mourões, mas já aos 12 anos é possível retirar madeira destinada à serraria.
Para obtenção do melhor desempenho das árvores, os pesquisadores da Embrapa recomendam o uso de mudas clonais e não as produzidas por sementes. Mensurações feitas comparando os dois tipos de uso mostram que árvores clonadas tiveram crescimento 28% maior em DAP, 21% maior em altura total e 80% maior em volume total.
“A expectativa no sistema silvipastoril, com uso de clones de teca, é realizar o corte raso das árvores entre 18 a 20 anos”, afirma Behling. Com uso de mudas seminais, a expectativa sobe para 25 anos.
Outra vantagem do uso dos clones é que, ao crescerem mais rapidamente, essas mudas permitem antecipar a entrada do gado no sistema sem riscos de danificar ou quebrar as plantas. A recomendação é que animais mais jovens entrem nos pastos sombreados pela teca quando as árvores tiverem DAP entre 3 e 4 centímetros.
Recomendações para condução
Para que se obtenha o melhor retorno financeiro com a teca em sistemas integrados, o produtor deve estar atento à condução do sistema. Para isso, pesquisadores recomendam a desrama das árvores a fim de retirar os galhos baixos e evitar a formação de nós na madeira.
Os cuidados com formigas, com mato competição e a atenção para evitar a deriva de herbicidas são outros pontos que devem ser observados, sobretudo nos anos iniciais. Além disso, a prevenção contra o risco de incêndios deve estar presente na agenda da fazenda.
Software auxilia no manejo de Teca em ILPFProdutores interessados no plantio de teca em ILPF contam com o apoio de um software gratuito, desenvolvido pela Embrapa Florestas, que visa dar suporte às atividades de manejo, análise econômica e planejamento do componente florestal. O SisILPF Teca funciona como um simulador em que o usuário pode testar, para cada condição de clima e solo, todas as opções de manejo de teca na ILPF. Segundo o pesquisador Edilson Batista de Oliveira, da Embrapa, “o produtor pode fazer prognoses de produções de madeira no presente e em condições futuras, efetuar análises econômicas e decidir sobre a melhor alternativa para conduzir sua plantação”. Essas simulações possibilitam a quantificação da madeira produzida por tipo de utilização industrial, desde o seu uso para energia, até toras de diversas dimensões para serraria na produção de blocos e tábuas, e exportação. “Com isso,o produtor poderá manejar suas florestas para a produção de madeira direcionada ao uso mais rentável”, afirma o pesquisador. Outro aspecto importante é que o software calcula o carbono capturado pelas árvores, em equivalentes de gás carbônico e metano, e emite gráficos com estimativas do número de animais que podem ter a emissão de metano compensada pelas árvores do ILPF. “Esses sistemas estão em ascensão e entram na contabilidade do País na mitigação dos impactos da mudança do clima. O SisILPF_Teca é uma ferramenta importante de apoio ao planejamento e manejo dos plantios”, finaliza Oliveira. Foto: Gabriel Faria |
Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril
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