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“Indivíduos emblemáticos podem melhorar a conservação da biodiversidade”, diz pesquisa com coautoria de servidor do ICMBio

5 de novembro de 2023

Histórias como de Cecil, o leão, ou Lua, a peixe-boi, podem aumentar a sensibilização para a conservação, sugere estudo

ICMBio

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Lua, o peixe-boi das Antilhas – Foto: Luciano Candisani

Bichos fofos como pandas e ursos polares são amplamente utilizados em campanhas de conservação como espécies bandeira. O artigo científico “Flagship individuals in biodiversity conservation”, produto de um novo estudo com coautoria do servidor do ICMBio Iran Normande (https://doi.org/10.1002/fee.2599 ), defende que indivíduos isolados de animais ou plantas também podem ser usados como carros-chefe para a sensibilização do grande público para aumentar a conscientização na sociedade e mobilizar apoio para a conservação da biodiversidade.

Imagem 5. Sam, uma coala fêmea que atraiu a atenção mundial para o impacto dos incêndios florestais na biodiversidade após um vídeo do seu salvamento por um bombeiro durante os incêndios florestais de Sábado Negro na Austrália (Crédito da imagem: B Healley, ©Museums Victoria; CC-BY 4.0)

Sam, uma coala fêmea que atraiu a atenção mundial para o impacto dos incêndios florestais na biodiversidade após um vídeo do seu salvamento por um bombeiro durante os incêndios florestais de Sábado Negro na Austrália (Crédito da imagem: B Healley, ©Museums Victoria; CC-BY 4).0

“Indivíduos emblemáticos normalmente compartilham algumas características comuns”, diz o autor principal Ivan Jarić, da Universidade de Paris-Saclay, na França, e da Academia Tcheca de Ciências. “Eles pertencem principalmente a espécies carismáticas e muitas vezes têm algumas características individuais particulares que os tornam atraentes, como corpo grande ou aparência ou comportamento únicos. Eles frequentemente interagem com humanos, e normalmente têm histórias de vida únicas, ou destino trágico. Ao formar conexões únicas com as pessoas e gerar empatia, esses indivíduos podem incentivar o engajamento e a mudança de comportamento, atrair doações e até mesmo desencadear mudanças políticas”, declara o pesquisador. 

O artigo destaca exemplos como Lua, o peixe-boi marinho (Trichechus manatus), uma espécie severamente impactada pela perda de habitat e caça no Brasil. Em 1994, Lua, um filhote órfão à época, foi um dos primeiros peixes-boi soltos em um novo programa de reintrodução em Alagoas. Lua, juntamente com o macho Astro, foram os primeiros peixes-boi marinhos a serem reintroduzidos na natureza e ela a primera fêmea reintroduzida a ter filhotes no habitat, sendo símbolo do Projeto Peixe-boi, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos – CMA/ICMBio.  

“Lua rapidamente se tornou o símbolo do programa, sendo usada na mídia local e em atividades comunitárias para ganhar a atenção do público”, diz Iran Normande, do ICMBio e doutorando pela Universidade Federal de Alagoas e um dos autores do estudo. “Por causa de sua natureza dócil e vontade de se aproximar de humanos e barcos, Lua deu a muitas pessoas o primeiro contato com um peixe-boi selvagem. Isso ajudou a criar uma indústria local de turismo sustentável que atualmente apoia cerca 400 famílias, direta e indiretamente. Lua, agora de meia-idade aos 31 anos, foi o primeiro peixe-boi solto a se reproduzir com sucesso na natureza, e teve seis filhotes. 

No entanto, este exemplo também destaca a desvantagem potencial de indivíduos emblemáticos, uma vez que alguns visitantes menos conscientes já alimentaram Lua, acostumada ao convício de seres humanos dado seu histórico, com coisas potencialmente prejudiciais, incluindo cerveja e peixe frito. 

“Se implementada corretamente, a promoção de indivíduos emblemáticos pode produzir benefícios substanciais para a conservação de escalas locais a globais”, explica Sarah Crowley, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, outra coautora do estudo. “Isso precisa ser feito com cuidado, tanto para evitar danos ao indivíduo, quanto para evitar a disseminação de informações falsas ou distorcidas. Mais pesquisas agora são necessárias para identificar como promover indivíduos emblemáticos de uma forma que gere um apoio mais amplo à conservação, atraia novos públicos e limite qualquer dano potencial.”