Descoberta na Puna do Atacama: Ecossistema Único Revela Pistas Sobre as Origens da Vida Terrestre
3 de janeiro de 2024Estromatólitos e Condições Primitivas – Uma Janela para o Passado e um ‘Pedaço de Marte’ na Terra
Pesquisadores recentemente descobriram um ecossistema lagunar único na remota região da Puna do Atacama, na Argentina, oferecendo uma visão fascinante das origens da vida na Terra. Esta descoberta, anunciada na semana passada, é resultado do trabalho do geólogo Brian Hynek, da Universidade do Colorado em Boulder, e da microbióloga argentina María Farías, que analisaram imagens de satélite da região por mais de um ano.
Os cientistas identificaram uma intrigante rede de aquíferos no meio do deserto, localizada a quase 4.500 metros de altitude. A visita ao local revelou uma série de lagoas de águas límpidas e extremamente salgadas, cujos fundos eram cobertos por montes verdes de estromatólitos, também conhecidos como “rochas vivas”. Esses estromatólitos, formados por grãos minerais colados por bactérias, são considerados pela NASA como a mais antiga evidência fóssil de vida na Terra, datando de pelo menos 3,5 bilhões de anos atrás.
O ambiente encontrado na Puna do Atacama assemelha-se às condições primitivas da Terra, quando os estromatólitos surgiram. Naquela época, o planeta tinha uma atmosfera muito diferente, com atividade vulcânica intensa, águas salinas carregadas de arsênico e ausência de oxigênio e camada de ozônio.
María Eugenia Farías, coautora da descoberta, explicou que nessas condições surgiram as primeiras formas de vida, as protobactérias, que se associaram para formar colônias. Durante esse processo, as bactérias capturaram dióxido de carbono, parte do qual se transformou em matéria orgânica, enquanto outra parte se converteu em bicarbonato de cálcio, formando os estromatólitos.
Os estromatólitos, ao liberarem oxigênio, desempenharam um papel crucial na transformação do planeta, primeiro nos oceanos, depois na atmosfera e, por fim, na criação da camada de ozônio. O ecossistema encontrado nos Andes, em altitudes superiores a 3.600 metros, é único devido às condições especiais, como a presença de vulcões, baixa pressão de oxigênio e alta radiação ultravioleta.
Além de seu valor histórico, os cientistas destacam a importância do ecossistema na Puna do Atacama como um “pedaço de Marte na Terra”. Os estromatólitos de gesso encontrados têm condições semelhantes às de Marte, oferecendo uma perspectiva única para compreender ambientes marcianos. Hynek e Farías planejam retornar para investigar especificamente os estromatólitos de gesso, que são formados em condições muito similares às daquele planeta distante.
Embora a pesquisa ainda esteja em seus estágios iniciais, a descoberta na Puna do Atacama pode fornecer insights cruciais sobre as origens da vida na Terra e possivelmente revelar paralelos fascinantes com outros planetas do nosso sistema solar.