Projeto GuardeÁgua busca soberania alimentar e nutricional para agricultores do Semiárido alagoano
1 de fevereiro de 2024Projeto busca aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano
O projeto GuardeÁgua, liderado pela Embrapa Solos (RJ), está sendo desenvolvido nos territórios do Agreste, Médio e Alto Sertão de Alagoas, em localidades com agricultores e agricultoras que são referência na adoção da tecnologia social barragem subterrânea. Eles serão multiplicadores irradiadores das inovações tecnológicas desenvolvidas em suas comunidades.
Maria Sonia Lopes da Silva, pesquisadora da Embrapa Solos e líder do projeto, explica que o GuardeÁgua é um projeto de inovação social, codesenvolvido com agricultores e voltado para eles, buscando aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano. O objetivo principal, segundo ela, é fortalecer a reprodução social, econômica e ecológica das famílias agricultoras de áreas de escassez de água de chuva.
“Esperamos contribuir com o bem-viver das famílias por meio do uso adequado do solo e da água e da diversificação do espaço rural, resultando em um conjunto de funções socioeconômicas e ambientais, como a soberania alimentar e nutricional, a provisão de serviços ecossistêmicos e o papel dos agricultores como guardiões da água, essencial à segurança hídrica”, revela a cientista.
O projeto possui duas soluções para inovação de desenvolvimento técnico. Uma delas consta de sistemas de produção agroecológica de múltiplos cultivos para áreas de barragem subterrânea, baseados na interculturalidade, visando à segurança hídrica e à soberania e segurança alimentar e nutricional de famílias agricultoras do Semiárido alagoano. A outra solução será uma plataforma digital para identificação de áreas apropriadas à construção de barragem subterrânea e recomendações de manejo das áreas de plantio.
“A ideia é que, pelo site, o usuário prepare previamente o seu trabalho, utilizando o aplicativo para o trabalho de campo. A aplicação utilizará recursos do dispositivo móvel, como por exemplo o GPS, e variáveis locais de geologia, solo, clima e relevo, para estimar o potencial de uma área para a implantação de barragem subterrânea, seu dimensionamento, materiais necessários e o passo a passo de sua construção. Essa plataforma também fornecerá indicações de práticas de manejo do solo, da água e de cultivos apropriados para a área da barragem subterrânea dimensionada”, explica o pesquisador Luís de França da Silva Neto.
Parceiros do GuardeÁgua
O GuardeÁgua teve início em julho de 2023 com uma oficina no campus de Santana do Ipanema (AL) do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), que reuniu os parceiros do projeto: famílias agricultoras e representantes do Ifal, Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Fael/Senar, Aagra e Articulação no Semiárido Brasileiro/ASA Alagoas (ITViva, Cactus e Cdecma), além da Embrapa.
Luana Torres, superintendente do Senar Alagoas, salienta a importância da iniciativa envolvendo diversos parceiros para a disseminação de informação qualificada sobre a tecnologia social. “Muitos produtores veem a barragem subterrânea e estranham por que não enxergam a água ali. Eles precisam entender como essa tecnologia realmente funciona. Captar a água no período chuvoso, para que no período da estiagem essa água esteja ali, dentro do solo, tornando aquela área produtiva, com o solo mais fértil. O projeto vem para trazer conscientização e ganhos sociais por meio de parcerias entre Senar, Sebrae, Embrapa e outras instituições, a exemplo do que foi o projeto ZonBarragem, sem o qual não teríamos a condição de saber os lugares mais adequados para construção das barragens subterrâneas.”
“Essas capacitações sobre as barragens subterrâneas são de suma importância para o Semiárido nordestino. Falta um complemento na capacitação não somente dos agricultores, mas da assistência técnica. Muitos beneficiados não sabem como manejar as culturas e a questão hídrica. Usar a água em excesso também pode prejudicar as plantas e o solo. Esse projeto vem para auxiliar esses agricultores”, comenta Reginaldo Silva, secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Inhapi (AL) e presidente do Comitê do Sertão do São Francisco.
Para Eliene Bezerra Pereira, coordenadora de projetos do Cactus e da ASA estadual de Alagoas, o GuardeÁgua chegou num momento necessário. “Nós que trabalhamos com tecnologias de convivência com a seca, muitas vezes implementamos os projetos para instalação dessas tecnologias, mas depois não conseguimos a assistência técnica. Esse projeto irá fortalecer as tecnologias já implantadas nas propriedades, com capacitação e informação que vão gerando no agricultor uma maior autonomia para ampliar suas atividades e utilizar melhor a água.”
Fernando Vieira, técnico do Senar, diz que o aplicativo que será desenvolvido no âmbito do projeto para a indicação de áreas aptas à construção de barragens subterrâneas, irá facilitar as ações de assistência técnica desenvolvidas em Alagoas. “Hoje temos vários critérios, como o tipo de solo, topografia e vegetação, que são determinantes para sabermos os melhores locais para construção das barragens subterrâneas, ou até para indicar se já existe água em determinado subsolo. Já fiz barragem subterrânea com um produtor do Alto Sertão que passou a vida toda carregando água de longe, e havia água a cerca de 20 metros da casa dele, numa área com espécies como quixabeira, mulungu, craibeira. As próprias plantas ajudam o solo a segurar aquela quantidade de água. Com o aplicativo GuardeÁgua, teremos maior segurança e rapidez na identificação de áreas potenciais e na indicação do seu manejo”, explica.
Foto: Fernando Gregio
“O ideal é que, assim que a barragem subterrânea seja construída, seja feita também a análise do solo por um técnico. Se o agricultor gosta de plantar hortaliças, a assistência vai estudar se dá para plantar hortaliças naquela área. Se gosta de frutíferas, será que o solo está preparado? Eu acho que esse tipo de orientação é muito importante, unir o técnico e o agricultor”, opina a agricultora Maria do Amparo, do município de Senador Rui Palmeira (AL).
Na mesma linha, a agricultora e presidente da Associação de Areia Branca, Maria Auxiliadora, acredita que além da criação de um aplicativo para os agricultores que pretendem construir uma barragem subterrânea em seu sítio, é necessária uma ferramenta que una os agricultores e os técnicos do Senar e de outras instituições parceiras para orientar sobre as culturas mais adequadas para plantio ao redor da barragem subterrânea.
Início das missões de campo
Três atividades de campo foram realizadas no segundo semestre de 2023. Em setembro, em propriedades rurais com barragens subterrâneas, localizadas em Santana do Ipanema, Senador Rui Palmeira e São José da Tapera, as pesquisadoras da Embrapa Solos Elaine Fidalgo e Marysol Schuler trabalharam com avaliação e monitoramento comunitário de serviços ecossistêmicos, além de segurança alimentar/nutricional e segurança hídrica de comunidades rurais.
Em outubro, em Santana do Ipanema, os pesquisadores Gustavo Vasques, Silvio Tavares, Flavio Adriano Marques e Manoel Neto (Embrapa Solos), e Thales Pantaleão e Augusto Santos (Ifal), deram início às ações das atividades “Uso de sensores proximais em campo para locação, modelagem 3D e cálculo de parâmetros físico-hídricos” e ”Manejo Sustentável da água para irrigação” em áreas de barragens subterrâneas.
O projeto também desenvolveu, em novembro, atividades no Alto Sertão, nos municípios de Mata Grande, Inhapi e Água Branca; no Médio Sertão, nas cidades de Senador Rui Palmeira e Olho d’Água das Flores; e na bacia leiteira do estado, em Batalha, Major Izidoro, Estrela e Cacimbinhas. Os pesquisadores Manoel Batista de Oliveira Neto e Maria Sonia Lopes da Silva, que atuam na UEP Recife da Embrapa Solos, foram a campo para conduzir atividades de caracterização geoambiental de agroecossistemas e de gestão do uso e manejo do solo, da água e da diversidade de cultivos.
“Também realizamos em 2023, no âmbito do GuardeÁGua, um curso para técnicos e agricultores sobre construção de barragem subterrânea e uma capacitação sobre tecnologias sociais hídricas”, complementa Maria Sonia.
Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
Embrapa Solos
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