Em quase uma década, anualmente Caatinga retirou da atmosfera 5,2 t de carbono por hectare
30 de abril de 2024Torres de fluxo, geram dados que indicam a Caatinga entre os sumidouros mais eficientes de carbono, entre as florestas secas do mundo
Em comparação com outros 30 locais secos ao redor do mundo, a Caatinga demonstra elevada eficiência no uso de carbono, superando até mesmo as florestas da Amazônia. Esse foi o resultado de uma pesquisa inédita que investiga os fluxos de carbono no bioma, considerando diversas condições de clima, solo e vegetação. O objetivo é quantificar e avaliar a evolução sazonal e anual das trocas de carbono na Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro.
O trabalho, liderado pelo Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga (OndaCBC), envolve uma rede multidisciplinar de pesquisadores de diversas instituições, como a Embrapa Semiárido (PE), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Os estudos realizados ao longo de quase dez anos revelaram que a Caatinga conseguiu retirar da atmosfera uma média de 527 gramas de carbono por metro quadrado ou 5,2 toneladas por hectare.
Caatinga 365 – Transformação da Caatinga ao longo de um ano
O professor Bergson Bezerra, da UFRN, líder da rede de torres de fluxos do OndaCBC, explica que, ao ser comparada com as florestas secas ao redor do mundo, de todos os pontos que foram analisados, o valor máximo obtido foi 548 gramas de carbono por metro quadrado, registrado em uma floresta no Peru. “Os demais valores são inferiores a esse; inclusive houve áreas que se comportaram como fonte de CO2. Portanto, a Caatinga está seguramente entre os maiores sumidouros entre as florestas secas do mundo”, completa.
As florestas tropicais sazonalmente secas, como a Caatinga, desempenham um papel crucial como sumidouros de carbono, ou seja, depósitos naturais que absorvem e capturam o CO₂ da atmosfera, reduzindo sua presença no ar, com implicações para o clima local, regional e global. Esses processos são influenciados pela distribuição espaço-temporal e pelos volumes de chuva, que afetam diretamente a cobertura vegetal.
Foto: Marcelino Ribeiro
Bezerra acrescenta que, na Caatinga, a temperatura, a radiação e a umidade permanecem praticamente constantes ao longo do tempo, com pequenas variações que não afetam muito as trocas de CO2. No entanto, foi constatado que, nesse bioma, as chuvas, mesmo que em pequenas quantidades, são o fator mais importante para as trocas de carbono. “Isso porque as chuvas estimulam o crescimento vegetal, aumentando, assim, a capacidade do bioma de absorver CO2 da atmosfera, agindo como um sumidouro altamente eficaz desse gás”, completa.
ApresentaçãoO trabalho da Embrapa voltado a avaliação das emissões de carbono em biomas e em sistemas produtivos será abordado nas comemorações do 51º aniversário da Empresa, no próximo dia 25 de abril. É esperada a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na solenidade. |
Rede de torres
Desde 2010, o Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga, que é integrado ao programa de Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (INCTs), realiza a coleta de dados em várias torres micrometeorológicas, conhecidas como torres de fluxo, localizadas em municípios de Pernambuco (Serra Talhada, São João e Petrolina), Paraíba (Campina Grande) e Rio Grande do Norte (Caicó e Serra Negra). A mais antiga e completa dessas torres está instalada na Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), que monitora há 13 anos uma área de Caatinga nativa, na sede da instituição.
A pesquisadora da Embrapa Magna Soelma Beserra de Moura destaca que, para avaliar todo o potencial da Caatinga como sumidouro de CO2, foram comparados os dados gerados pela rede de torres, na qual a da Embrapa teve um papel importante. Também foram utilizados dados disponibilizados na rede internacional de fluxo, a FluxNet, que engloba dados mundiais de fluxos de energia, carbono e água.
Foto: Magna Moura
Esses dados abrangem áreas de países como Estados Unidos, Canadá, México, a região do Sahel na África, Espanha, Austrália e até mesmo uma região subpolar semiárida na Rússia.
Moura ressalta que o trabalho é contínuo e envolve análises periódicas tanto de dados ligados às variáveis meteorológicas, como chuva, radiação solar, temperatura, umidade relativa, vento e pressão do ar, quanto às medidas de concentrações do vapor d’água, do dióxido de carbono, velocidade vertical do vento e temperatura em altas frequências. A partir desses dados, são realizados os cálculos das trocas de energia, água e, principalmente, do CO2.
“Antes do Observatório, não tínhamos dados consistentes e organizados em uma rede de estudos sobre o quanto a Caatinga poderia atuar como sumidouro de carbono. Com este trabalho em rede, por meio das torres, estamos obtendo fortes evidências de que esse bioma é um sumidouro altamente eficiente, que contribui significativamente para a absorção de CO2 atmosférico, ajudando a retardar a taxa de crescimento da concentração atmosférica desse gás, um dos principais causadores do efeito estufa”, destaca Moura.
Clarice Rocha (MTb 4733/PE)
Embrapa Semiárido
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