Bioluminescência 3

A ARTE DE VAGALUMEAR EM METÁFORAS POÉTICAS

2 de maio de 2024

Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Essa figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.

Silvestre Gorgulho

 

Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]

Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.

 

“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE OS PRADOS”.

 

Para continuar no mote dos vagalumes (ou pirilampos) tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:

“Quando a cachoeira desce nos barrancos 

Faz a várzea inteira se encolher de espanto 

Lenha na fogueira, luz de pirilampos 

Cinzas de saudades voam pelos campos.

Lindo demais!  É a arte de vagalumear.

 

E o Vira-Vira de Ney Matogrosso nos Secos&Molhados:

 

“Bailam corujas e pirilampos
Entre os sacis e as fadas
E lá no fundo azul, na noite da floresta
A lua iluminou a dança, a roda, a festa”

 

CUPINZEIROS LUMINOSOS

 

A cientista Keila Eliza Grimberg, Licenciatura em Ciências Exatas da USP – São Carlos, explica que, no Brasil, o espetáculo da bioluminescência é oferecido pelos chamados “cupinzeiros luminosos”. Estes cupinzeiros luminosos são encontrados na região amazônica e no cerrado, especialmente em Goiás. Muito comum no Parque Nacional das Emas. A concentração maior de vaga-lumes está no Cerrado e o melhor período de observação é de outubro a abril. No caso dos cupinzeiros luminosos, o fato é que a fêmea depois de fecundada, deposita os ovos no pé dos cupinzeiros. À noite, elas “acendem” suas luzes, atraindo insetos para sua alimentação.

 

Os cupinzeiros luminosos oferecem o espetáculo da bioluminescência

 

 

 

 

PARA SABER MAIS PERGUNTAS E RESPOSTAS

 

O QUE SÃO VAGALUMES?

São besouros que emitem luz. Porém, nem todas as espécies possuem luminescência. Só algumas espécies, ao longo da evolução, incorporaram a bioluminescência porque ela facilita a comunicação sexual e a defesa. 

Os vagalumes que não emitem luz em geral desenvolvem atividades diurnas.

 

COMO É PRODUZIDA A LUZ DO VAGALUME?

A luz é produzida pelo organismo do inseto com uma reação bioquímica que libera muita energia. O processo, chamado de “oxidação biológica”, permite que a energia química seja convertida em energia luminosa sem a produção de calor, por isso é chamada de luz fria. 

As luzes têm diferentes cores, pois variam de espécie para espécie e nos insetos adultos facilitam a atração sexual. Os lampejos equivalem ao início do namoro: são códigos para atrair o sexo oposto. Mas a luminescência também pode ser usada como instrumento de defesa ou para atrair a caça.

 

PROCESSO DE “PRODUÇÃO DE LUZ”

Uma molécula de luciferina é oxidada por oxigênio, em presença de ATP (trifosfato de adenosina), ocorrendo assim a formação de uma molécula de oxiluciferina, que é uma molécula energizada. Quando esta molécula se desativa, ou seja, quando ela perde sua energia, passa a emitir luz. 

Esse processo só ocorre na presença da luciferase, que é a enzima responsável pelo processo de oxidação. As luciferases são proteínas compostas por centenas de aminoácidos, e é a sequência destes aminoácidos que determina a cor da luz emitida por cada espécie de vaga-lume. Para cada molécula de ATP consumida durante a reação, um fóton de luz é emitido. Portanto, a quantidade de luz enviada pelo vaga-lume indica o número de moléculas de ATP consumidas.

 

ENGENHARIA GENÉTICA

Há mais de uma década o fenômeno da bioluminescência dos vagalumes vêm sendo objeto de estudo. 

Técnicas de engenharia genética estão sendo usadas para fazer com que bactérias possam produzir luz. Para isso, é necessário isolar e multiplicar os genes dos elementos presentes no organismo do vagalume e inserir dentro da bactéria e essa passa a emitir luz como ocorre nos vagalumes.

 

CUPINZEIROS LUMINOSOS

No Brasil o espetáculo da bioluminescência é oferecido pelos chamados “cupinzeiros luminosos”. Esses cupinzeiros luminosos são encontrados na região amazônica e no cerrado de Goiás. 

É no cerrado onde a concentração de vagalumes é maior, fazendo com que a paisagem fique com chamativos pontos luminosos. 

É observado principalmente no período de outubro a abril, em noites quentes e úmidas, como se fossem uma série de árvores de natal. O que ocorre na verdade é que a fêmea depois de fecundada, deposita os ovos no pé dos cupinzeiros. 

 

 

À noite, elas “acendem” suas luzes, atraindo a caça; insetos que em geral são cupins, mariposas e formigas. Antigamente era possível observar no cerrado de Goiás enormes campos cobertos com esses cupinzeiros, mas com a ocupação da área para o plantio de soja os campos foram praticamente destruídos. É necessária a preservação desses campos, pois a importância dos cupinzeiros luminosos não está apenas associada com sua beleza.

 

 

AMEAÇA AOS VAGALUMES

Um problema que ameaça os vagalumes é a iluminação artificial, que por ser mais forte, anula a bioluminescência, podendo interferir diretamente no processo de reprodução da espécie que podem sofrer perigo de extinção.