Parque do Juquery

As lições deixadas pelo combate ao incêndio que durou 4 dias

5 de junho de 2024

Três anos depois, agentes recordam o trabalho de combate às chamas causadas por um balão

Do Portal do Governo

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Parque do Juquery, em Franco da Rocha, é uma das unidades de conservação da Fundação Florestal de SP

O incêndio no Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, ocorrido em 2021, marcou a memória e trouxe lições para quem atuou no combate ao fogo. Foram quatro dias de incêndios, mais de metade da área verde destruída e o auxílio de 400 pessoas na operação. Dano causado por conta de um balão que caiu no local. Passados quase três anos, toda a área atingida está praticamente recuperada.

“Foi devastador, mas dali tiramos muitas coisas que hoje em dia levamos como lição. Eu fiquei em torno de 30 horas atuando neste incêndio. Ficava cerca de três horas na linha de fogo, voltava e revezava com as equipes”, relembra João Luiz da Cruz, bombeiro civil da Fundação Florestal, órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e responsável pelo parque.

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João Luiz da Cruz, bombeiro civil da Fundação Florestal, atuou por cerca de 30 horas no combate ao incêndio

A causa do incêndio foi a queda de um balão em uma área de eucaliptos dentro do parque. “O balão caiu na copa de um eucalipto, que estava seco devido à geada. As fagulhas foram se espalhando e não foi possível defender a área de vegetação rasteira. Nosso maior objetivo era proteger as matas ciliares, que são o refúgio dos animais. O parque tem em torno de 60 nascentes e olhos d’água”, afirma o bombeiro civil.

De acordo com os relatos, naquele dia, cerca de 20 balões sobrevoavam a área do parque. A captura é comum na região, especialmente nos finais de semana.

Além disso, de acordo com o coordenador da Operação SP Sem Fogo na Fundação Florestal, Vladimir Arrais, o ano de 2021 foi atípico, com uma seca prolongada, altas temperaturas e ventos fortes, o que agravou a ocorrência. “Estava no que chamamos de ‘30/30/30’. Temperatura acima de 30 graus, umidade abaixo de 30% e o vento acima de 30 km/h. Isso facilitou muito o avanço do fogo”, diz Arrais.

O total atingido foi de 1.175 hectares, o que corresponde a 53% da área do parque. O fogo também afetou parte da fauna. Vinte e cinco animais foram resgatados por veterinários voluntários, sob responsabilidade do Conselho Regional de Medicina Voluntária (CRMV). Destes animais, 14 não resistiram aos ferimentos e morreram.

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Imagem de satélite mostra dimensão da destruição do fogo causado por queda de balão

Memórias do combate

O incêndio teve início na manhã do dia 22 de agosto de 2021, um domingo de sol. Integrantes do Corpo de Bombeiros, brigadistas e funcionários do parque, além de agentes da Defesa Civil de municípios do entorno, atuaram para controlar as chamas.

“A lembrança que eu tenho é do momento que o vento estava soprando muito forte e saiu lambendo. A gente olhava, tentava combater e não conseguia. Cheguei por volta das 17h e fiquei até as 6h de segunda-feira. Depois, fui para casa trocar de roupa, voltei e fiquei até meia-noite”, relata a bombeira florestal Silmara Oliveira, que trabalha há cerca de quatro anos no local.

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A bombeira florestal Silmara Oliveira foi uma das cerca de 400 pessoas que atuaram na ocorrência em 2021

Coordenador da Defesa Civil de Francisco Morato à época, Alexander Sakowicz também recorda das dificuldades. “Em uma das frentes de combate, nos deparamos com um foco de incêndio próximo ao lago. O vento mudou de direção enquanto fazíamos o trabalho e nos cercou. A alternativa foi pular na água”, relata.

De acordo com os agentes, um dos desafios era equilibrar a urgência do combate com a segurança dos profissionais. “São áreas com declividade acentuada, então o risco era grande. A gente ficava na ansiedade de querer combater, mas existe toda uma técnica. O principal é a integridade do combatente”, explica Josenei Gabriel Cará, gerente da região metropolitana da Fundação Florestal.

Recuperação

Desde o incêndio, a equipe do parque faz monitoramento da recuperação da unidade. Por ser de cerrado, a vegetação local tem alta capacidade de regeneração natural. Aos poucos, a rotina da biodiversidade local foi retomada. “Os mamíferos já estão voltando ao seu ambiente. Para acompanhar, realizamos captação de imagens”, afirma Cará.

Como forma de prevenir novos incêndios, o Parque do Juquery tem cerca de 200 km de aceiros em vias internas: faixas delimitadas onde a vegetação é retirada da superfície do solo, evitando que o fogo se alastre para áreas maiores de mata. Como todas as unidades de conservação da Fundação Florestal, a estrutura conta com caminhonete equipada com motobomba e caminhão pipa.

“Temos um Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais que norteia qualquer ação preventiva e de combate. Esse documento é construído com outros órgãos públicos. Ali tem o mapa da unidade, o tipo de vegetação, quais são os acessos e o que cada instituição tem disponível em caso de incêndio”, afirma Vladimir Arrais, coordenador da Operação SP Sem Fogo na Fundação Florestal.

Outro equipamento utilizado para monitorar a área é o drone termal, que ajuda na identificação de focos de calor. Ele também serve para medir a área atingida em caso de queimada.

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Parque ficou praticamente destruído após incêndio de grandes proporções em 2021
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Três anos depois, vegetação de Cerrado da unidade está praticamente recuperada

Simulados da operação SP Sem Fogo

Palco da histórica ocorrência, o Parque do Juquery recebeu no dia 9 de maio um simulado de incêndio em cobertura vegetal como parte da fase preparatória da operação SP Sem Fogo, voltada à prevenção de incêndios durante o período mais seco do ano, que vai de junho a outubro.

O evento foi organizado pela Escola de Defesa Civil do Governo de São Paulo e contou com a participação de prefeituras locais, Defesa Civil Estadual, Corpo de Bombeiros e voluntários. O objetivo é treinar as equipes para uma ação rápida e eficiente, por meio da simulação de combate a um incêndio de grandes proporções, utilizando técnicas e equipamentos especializados.

“São ações para que a gente consiga passar pelo período de estiagem da melhor forma possível. Em caso de incêndio, precisamos chegar rapidamente até o local, fazer o monitoramento da área e o combate”, explica a gestora do Parque do Juquery, Aparecida Pereira Descio.

Desde abril, as equipes da Defesa Civil realizam oficinas preparatórias para a operação em diferentes regiões do estado.

“É a oportunidade que os agentes têm de utilizar os equipamentos, aprimorarem as técnicas e trabalharem de forma conjunta. Estamos passando por uma massa de ar quente e isso colabora para ocorrências de fogo em mata”, afirma o sargento Carlos Arthur Tavares, do núcleo de capacitação da Defesa Civil.

Operação SP Sem Fogo

A operação SP Sem Fogo visa diminuir os focos de incêndio no Estado no período de estiagem. É uma parceria entre as Secretarias de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), por meio da Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade (CFB), Segurança Pública e Defesa Civil do Estado. Além disso, conta com iniciativas e investimentos do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Fundação Florestal (FF), e Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA).

De acordo com o Painel Geoestatístico dos Incêndios Florestais em Unidades de Conservação e Áreas Protegidas, em 2023, 1.030 hectares foram atingidos por incêndios, ante 7.181 em 2022, queda de 86%. Participaram das ações da operação 378 cidades, um número recorde.