Peace is our choice

CLDF recebe homenagem e exposição em memória do genocídio dos tutsi em Ruanda

13 de junho de 2024

Christian Niyoyita, sobrevivente do genocídio, perdeu pai e irmã e lembra que as pessoas suplicavam para serem mortas com tiros, pois todos eram cortados por facões

CLDF

Foto: Eurico Eduardo/Agência CLDF

Christian Niyoyita, sobrevivente do genocídio, perdeu pai e irmã e lembra que as pessoas suplicavam para serem mortas com tiros, pois todos eram cortados por facões

Na tarde desta quarta-feira (12), a CLDF sediou a abertura da exposição “Peace is our choice: A paz é nossa escolha” em lembrança do 30º aniversário do genocídio da etnia Tutsi em Ruanda. A Embaixada de Ruanda no Brasil é a responsável pela exposição, que tem o intuito de preservar a memória dos quase 1 milhão de mortos por um genocídio com motivações políticas.

“Kwibuka30”, nome que levou a homenagem, significa “Lembrar30”. A palavra vem de origem da língua Quiniaruanda, falada em Ruanda.

A embaixada da Ruanda no Brasil tem pouco menos de três meses de existência. Lawrence Manzi, embaixador da Ruanda no Brasil, agradeceu a recepção do Brasil e de Brasília ao seu país natal. “Não imaginei que apresentar meu país seria assim, mas é uma decisão lógica: para entender a nova Ruanda, é preciso entender de onde viemos. Ganhamos uma recepção incrível, é bom saber que Ruanda tem amigos”, agradeceu Manzi.

Outras entidades também participaram do evento. O diretor do Departamento de África no Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antonio Augusto Martins Cesar, pontuou que Ruanda é exemplo de reconciliação e de como se curar feridas e cidades. “O terrível derramamento de sangue de 30 anos atrás nos faz lembrar que devemos escolher a coragem de agir à covardia da omissão”, defendeu.

Ele ainda lembrou do esforço do governo federal em fazer a reaproximação com o continente africano: “A África hoje é prioritária, até porque vive desafios comuns com o Brasil.”

O embaixador da República de Camarões do Brasil, Martin Agbor Mbeng, discursou em favor da solidariedade e de honrar a memória dos mortos, refletindo sobre nunca ficar em silêncio sobre injustiças.

“Que nossas ações de hoje ecoem por gerações. Nossa humanidade compartilhada e nossa inabalável determinação de construir um amanhã melhor”, disse.

 

O massacre

A Ruanda teve, por muito tempo, a dominância da etnia Tutsi, que foi derrubada em 1959 pelos hutus, povo que hoje corresponde a mais de 80% da população. Após o exílio, um grupo de tutsis criou uma união rebelde chamada de Frente Patriótica Ruandesa (RPF), responsáveis por uma invasão que durou de 1990 até 1993, quando foi estabelecido um acordo de paz.

O genocídio teve início em 6 de abril de 1994, quando o avião onde estavam os presidentes da Ruanda e Burundi, ambos hutus, foi derrubado. Extremistas de mesma etnia culparam a RPF, que por sua vez devolveu a culpa aos hutus, dizendo que causaram o acidente com a intenção de começar o genocídio. Em apenas 100 dias, cerca de 1 milhão de pessoas, em sua maioria tutsis, foram mortas.

“Eu tinha apenas 6 anos, foi quando vi, pela primeira vez, uma pessoa morta. Cheguei a escutar tardes inteiras de tiros. Os assassinos matavam durante o dia e descansavam à noite. Lembro até hoje o cheiro de sangue que tinha nas escolas, na minha casa”, testemunhou durante o evento o ruandês Christian Niyoyita, sobrevivente do genocídio.

Christian, que hoje tem 36 anos, disse que na época, nenhum lugar era seguro. Mesmo seu pai e irmã, que fugiram antes, morreram. Onde ele e a família e mais de mil pessoas estavam escondidas, foram jogadas bombas, ele saiu vivo pois no dormitório onde estava, duas pessoas deitavam acima dele. Ambas faleceram.

“Ao fugir, tivemos que passar por cima de corpos, de crianças amigas, de bebês que choravam. As pessoas suplicavam para serem mortas com tiros, pois todos eram cortados por machetes”, relatou.

Vinícius Vicente (estagiário) – Agência CLDF