Coluna do Meio

5 de junho de 2024

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE E A CIENTISTA ELEITA NO MÉXICO

Monica Ribeiro

 

Desafios para o enfrentamento das mudanças climáticas

 

Colonização, expropriação, exploração e escravidão são algumas marcas da história do Brasil e do seu povo. Passamos por profundas transformações em razão da lógica capitalista, desde o desmatamento às mudanças climáticas, que nos manteve vulneráveis, porém de formas distintas a depender da classe, raça e gênero.

Tudo isso seria motivo suficiente para estarmos atentos às eleições municipais em 2024, em busca de representantes que coordenem prioridades e investimentos ambientais em suas pautas, na busca pela redução do desmatamento, da gentrificação e das diversas questões fundiárias que atravessam as humanidades no território nacional.

A partir da compreensão de ser indissociável as pessoas e a natureza, e aliando a experiência prática e teórica, é preciso olhar para o passado e fazer diferente para reduzir riscos e vulnerabilidades das pessoas cujas histórias de vidas se assemelham em diversos outros lugares do mundo, afetados por todos esses fenômenos naturais, sociais ou tecnológicos.

O modelo econômico precisa ser repensado: o capitalismo do desastre[1] está presente no superfaturamento de serviços emergenciais, em benefícios de empresas e grupos políticos com poder.

É ingênuo acreditar que quem lucra com desastres vai enfrentar a questão: tanto no Brasil como em outras partes do mundo, o processo de reconstrução é dominado por expressões como “governo de emergência”, “estado de calamidade pública”, o que pode replicar oportunidades de ganho e de lucro de um modelo que não cabe mais, e por isso o enfrentamento às mudanças climáticas deve ser rigoroso e diferente do formato que nos trouxe até aqui.

Dos crimes ambientais das barragens de Mariana e Brumadinho até os desastres de 2024 no Rio Grande do Sul e no Acre[2], o Brasil enfrenta casos específicos e internacionais, como a pandemia da COVID-19, todos eles relacionados às mudanças climáticas, a proliferação de doenças, a transmissão viral e a forma como agimos diante delas.

Fatores como esses nos obrigam a pensar na representação política como uma questão de sobrevivência: são as decisões macro que irão impactar no micro, começando desde as decisões e tratativas internacionais que vão dar fim na esfera municipal.

Na política internacional, a boa-nova é que a recém-eleita Presidente do México, Claudia Sheinbaum é doutora em engenharia energética, aumentando a lista das mulheres acadêmicas e Chefes de Estado, representadas também por Ângela Merkel que era química quântica; Vaira Vike-Freiberga, Presidente da Letônia de 1999 a 2007 e doutora em psicologia; Margaret Thatcher, que apesar de não ter doutorado, trabalhou como pesquisadora química.

A América Latina elegeu também Cristina Kirchner e Isabelita Perón, na Argentina; Dina Boluarte, no Peru; Dilma Rousseff, no Brasil; Janet Jagan, na Guiana; Laura Chinchilla, na Costa Rica; Michelle Bachelet, no Chile; Mireya Moscoso, no Panamá; Violeta Chamorro, na Nicarágua; Xiomara Castro, em Honduras.

O resultado das eleições no México representa esperança no enfrentamento às mudanças climáticas, pauta da presidente eleita, além da expectativa de investimentos para a autonomia das mulheres diante das vulnerabilidades socioambientais e das questões específicas das relações de poder – investimento – gênero.

No Brasil, problemas no campo das comunicações são centrais para a perpetuação de desigualdades: a ausência de divulgação e visibilidade dos dados oficiais para monitoramento de desastres cria um abismo na prevenção de desastres. Números relativos ao desmatamento, à vulnerabilidade social e à insustentabilidade ambiental de diversos setores são omitidos na construção das hierarquias de poder político, exclusão e silenciamento de grupos minoritários.

O dia mundial do meio ambiente deve servir de cobrança para a transformação política e para ações sustentáveis, em processos de reconstrução e recuperação das bacias, dos solos e da proteção da natureza, sem deixar de dizer o óbvio do cenário dos desastres das enchentes e alagamentos ocorridos em 2024 no Brasil: a culpa não é das chuvas.

 

[1] Victor Marchezini – CEMADEN.

[2] https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/pedro-duran/nacional/com-120-mil-atingidos-enchente-no-acre-se-torna-o-maior-desastre-ambiental-da-historia-do-estado/#:~:text=J%C3%A1%20s%C3%A3o%20mais%20de%20120,cerca%20de%20830%20mil%20pessoas.