Peixe-boi

Peixe-boi Paty enfrenta desafios de volta à natureza

22 de junho de 2024

A fêmea foi solta em abril e tenta se adaptar às novas condições. A saga começou em 2014, quando, ainda filhote, encalhou na praia de Pratagy, em Maceió/AL

Comunicação ICMBio

Paty tem novos desafios Crédito GEYLSON PAIVA SITE.jpg

– Foto: Geylson Paiva

Apeixe-boi Paty segue tentando se adaptar à sua nova vida. Tímida, ainda não se aventurou mar afora. Limita-se ao local onde foi solta em março – entre o recinto de aclimatação e o rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, litoral norte de Alagoas. A equipe técnica do Instituto Chico Mendes monitora atentamente seu comportamento e fornece alimentação intermitentemente para não correr o risco de Paty ficar desnutrida. A boa notícia é que ela encontrou outros de sua espécie e parece ter gostado das novas companhias. Foi até flagrada em uma tentativa de cópula.

Segundo a veterinária Fernanda Attademo, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio), o comportamento de Paty está dentro do esperado. Claro que ficaria mais protegida se ganhasse o mar aberto, mas isso ainda não é motivo de preocupação. “Se Paty optar por permanecer no rio, não há problema algum”, esclarece Fernanda. “Ali vai encontrar alimento e poderá conviver com outros peixes-boi”, afirma.

Saga de uma vida

Paty era recém-nascida quando foi resgatada de um encalhe em 2014 por técnicos do CMA na praia de Pratagy, em Maceió. Debilitada, foi transportada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres – CRAS/ICMBio, em Itamaracá/PE. Ali, Paty seguiu se desenvolvendo. Manteve comportamento sociável com outras fêmeas e sabia se defender quando ameaçada, demonstrando características positivas para um animal retirado da natureza ainda filhote.

Cinco anos depois do resgate, Paty foi transferida para a área de Porto de Pedras/AL, onde ficou em recinto de aclimatação, sendo preparada para voltar à natureza. O planejamento era que, em 2021, fosse reintroduzida à vida selvagem. Entretanto, veio uma surpresa: Paty estava esperando um filhote. O pai chamava-se Raimundo, macho com quem compartilhava a preparação de soltura.

Meses depois, Paty e Raimundo deram à luz a pequena Flori, medindo 95 cm e pesando cerca de 12 kg. Foi o primeiro registro de nascimento de peixe-boi naquele recinto. Mas, infelizmente, ainda recém-nascida, Flori sofreu um acidente, ficou presa em galhos do mangue embaixo da água e morreu afogada. Peixes-boi são frágeis quando filhotes, precisam dos cuidados da mãe até os dois anos, período em que são amamentados e estão expostos a riscos.

Uma primeira tentativa de soltura de Paty foi realizada no final de 2022. Entretanto, ela não se adaptou e foi necessário retornar para o recinto. Uma nova estratégia foi iniciada, na tentativa de que ela tivesse maior sucesso.

Após avaliações clínicas e de comportamento, Paty mostrou-se pronta para ganhar liberdade no início do ano. No dia 28 de março, foi solta no rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, litoral norte de Alagoas. Neste momento, ela recebeu um radiotransmissor que emite sinais via satélite e via rádio, que mostram para a equipe de monitoramento todo seu deslocamento. Tomara que dessa vez dê certo e Paty possa novamente ajudar no repovoamento da espécie na região.

 

 

Foto: Geylson PaivaAmeaçado de extinção O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é uma espécie de mamífero sirênio (ordem Sirenia), que ocorre no litoral norte e nordeste do Brasil e nas Guianas, Suriname, Venezuela, América Central, Caribe, até a costa do estado da Flórida, nos Estados Unidos da América (onde é conhecido como manatee).

A quantidade de indivíduos no Brasil é incerta, porém, a estimativa é que não ultrapasse as centenas, sendo classificada como uma espécie em perigo de extinção. Sua carne e gordura foram muito visadas para o consumo no passado, o que deixou a espécie à beira da extinção. Hoje, sua caça é proibida em todo o território brasileiro, mas, infelizmente, ainda há alguns registros de animais caçados. Outras ameaças à espécie são a perda de habitat, diminuição de áreas de alimentação, contaminação da água e colisão com hélices e embarcações.

Por esse motivo, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), desenvolve um trabalho contínuo de pesquisa e manejo para a proteção da espécie. O diretor da Diretoria de Biodiversidade do ICMBio, Marcelo Marcelino, destaca a importância da reintrodução do peixe-boi e o trabalho do Instituto Chico Mendes, que herdou essa missão do Ibama, sendo um trabalho realizado há 30 anos. “Etapa final de todo o processo longo que começa no resgate dos animais, passa pela recuperação até chegar na fase de reintrodução, que nem chega a ser uma fase final. Depois tem uma fase de monitoramento e expectativa se o processo dará certo ou não. É um trabalho importante e necessário, pois é uma espécie com poucos indivíduos e demanda um esforço muito grande da Instituição.”

Além disso, Marcelino ressalta o papel crucial da sociedade como exemplo positivo de engajamento na preservação do peixe-boi, tanto em termos de turismo quanto de resgate. “A associação Peixe-boi é um dos bons exemplos que a gente vê, tanto no turismo quanto no monitoramento”, observa. “Aqui a sociedade vê a importância do peixe-boi social e econômico para a sociedade. São raros esses momentos, então temos que celebrar bastante quando vemos uma situação como essa daqui.”

Sobre o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos – Um dos Centros de Pesquisa e Conservação do ICMBio (Portaria n.º 74 de 09-02-2017), que, embora a portaria seja recente, foi criado pelo IBAMA em 1998 (Portaria n.º143 de 22-10-1998). Sua história tem início nos anos 80, com o Projeto Peixe-Boi, na proteção dos sirênios (peixe-boi). Os resultados tornaram o projeto em Centro e suas ações de conservação passaram a abranger todos os mamíferos aquáticos que ocorrem no Brasil.

Além de coordenar, executar e apoiar projetos de pesquisa, conservação e manejo de mamíferos aquáticos, o CMA participa de fóruns nacionais e internacionais que tratam de questões relativas aos mamíferos aquáticos, como a Rede de Encalhe de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB) e a Comissão Internacional da Baleia (CIB). O Centro desenvolve, implanta e mantém bancos de dados nacionais e internacionais sobre pesquisas e projetos de conservação e manejo de mamíferos aquáticos, também subsidia tecnicamente a adoção de medidas de conservação e manejo das espécies e auxilia na implementação e criação das Unidades de Conservação federais marinhas, costeiras e da bacia Amazônica. A sede nacional do CMA está localizada em Santos/SP, onde são planejadas e executadas pesquisas e ações para a conservação de mamíferos aquáticos em todo o litoral brasileiro e na região amazônica. 

 

Base Avançada CMA Itamaracá 

O CMA também possui uma Base Avançada com localização estratégica na Ilha de Itamaracá, litoral de Pernambuco. Em uma área de 33 hectares, a base abriga laboratórios, bibliotecas e outros prédios que são usados para desenvolver a pesquisa e conservação de mamíferos aquáticos de todo o Brasil.

 

Base Avançada CMA Porto de Pedras/AL

A Base Avançada na turística Porto de Pedras fica no Rio Tatuamunha e foi inaugurada pelo Instituto Chico Mendes em abril de 2015. O Centro fica na região central da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais e tem como finalidade ampliar as ações de conservação e manejo da biodiversidade marinha na região; desenvolver as atividades de aclimatação, soltura e monitoramento de peixes-bois-marinhos na natureza, além de ser um importante polo de promoção da participação social na gestão da APA.

 

Sobre a Associação Peixe-boi 

Uma associação comunitária, composta por ribeirinhos, pescadores, estudantes, todos moradores dos municípios de Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres, no litoral norte de Alagoas. Atualmente, contamos com 53 associados; destes, 20 são condutores do Passeio ao Santuário do Peixe-boi, 23 são remadores, além de artesãos e sócios colaboradores, todos nascidos e criados na região.

Você tem dúvidas sobre interação com animais marinhos? Acesse o Manual de Boas Práticas em Interação com Mamíferos Marinhos.